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Onda de roubos e agressões gera medo na estação Barra Funda do Metrô, em São Paulo

Complexo formado por serviços de ônibus, trens e terminal rodoviário é palco de assaltos em rampas, acessos e escadas, praticados, em geral, por adolescentes

São Paulo|Isabelle Amaral e Julia Girão*, do R7

Rampa no complexo da Barra Funda, onde estruturas estão quebradas e há pouca segurança
Rampa no complexo da Barra Funda, onde estruturas estão quebradas e há pouca segurança Rampa no complexo da Barra Funda, onde estruturas estão quebradas e há pouca segurança

"Simplesmente deram uma rasteira em mim e puxaram minha bolsa. Eu estava caída, era só eles irem embora, só que não era o bastante, e começaram a me chutar", esse é o relato da agressão que a designer Yukari Kamada sofreu na estação Palmeiras-Barra Funda, da linha 3-Vermelha do Metrô de São Paulo, por adolescentes.

A história, compartilhada em uma rede social, gerou mais de 2.000 comentários de internautas revoltados com a insegurança. Alguns usuários escreveram que também foram vítimas de furtos no local. "Trabalho próximo à estação. Nós estamos sofrendo com esses assaltos. Várias vezes pedimos socorro para a polícia e guardas do Metrô, mas não resolvem nada", afirma Samanta Farias.

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Um segurança que trabalha na linha 3-Vermelha – e preferiu não se identificar – afirmou ao R7 que roubos e furtos fazem parte do cotidiano, especialmente nas estações Anhangabaú e Palmeiras-Barra Funda. "São meninos, menores de idade, que agem em grupo. Normalmente ficam nas rampas, onde a visão dos seguranças e as imagens das câmeras ficam encobertas. Nós corremos atrás deles, mas é muito difícil pegar porque somos poucos", explicou. Segundo ele, são poucas as ações integradas. 

Acesso lateral da estação é foco de roubos
Acesso lateral da estação é foco de roubos Acesso lateral da estação é foco de roubos

Pessoas que frequentam o terminal relatam que presenciam roubos, entre outros locais, em uma rampa que liga a parte central do complexo a uma via inferior, onde passam ônibus municipais.

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O local é utilizado por passageiros dos diversos serviços de transporte oferecidos no terminal e fica próxima do Terminal Rodoviário da Barra Funda. Ela é usada ainda por quem caminha em direção ao trecho do bairro da Barra Funda mais próximo ao viaduto Pacaembu. "Ao sair da rampa, já na parte inferior, um grupo veio em minha direção e eu seria assaltada se um homem não tivesse se aproximado e fingido que estava comigo", afirmou uma jornalista que trabalha na região.

A rampa, repleta de pichações e estruturas de acrílico quebradas, não possui seguranças. Segundo o Metrô, a responsabilidade sobre essa área é da Socicam, que administra o serviço de ônibus intermunicipais. A Socicam nega e diz responsável apenas pela área do Terminal Rodoviário.

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Agressões

Além dos roubos cometidos, na maioria das vezes, por adolescentes, as agressões são comuns, de acordo com relatos de mulheres. A estudante Natany de Moraes, de 31 anos, disse que quase foi assaltada no feriado de Corpus Christi, também na estação da Barra Funda, mas, quando os suspeitos notaram que ela estava acompanhada, desistiram. "Meus amigos estavam atrás de mim, mas eles [os assaltantes] acharam que eu estava sozinha. Lá [na estação] tem muita ocorrência de arrastões, então tem que ficar de olho aberto, porque os seguranças simplesmente não fazem nada."

O segurança do Metrô entrevistado sob a condição de anonimato pela reportagem diz que o problema é a falta de equipes de segurança nas estações. Segundo ele, quando há jogo de futebol e os usuários utilizam determinadas estações, para as quais os seguranças são encaminhados, a vigilância se torna mais restrita nas outras.

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Passageiros de várias estações relatam episódios semelhantes. Ana Beatriz Costa afirma que, no último dia de aula da faculdade, voltava para casa e, na estação Belém, presenciou três meninos abordando uma mulher. De acordo com a estudante, um deles segurou os braços da vítima, outro pegou a bolsa dela, e o terceiro revistou os bolsos da calça. Em seguida, fugiram correndo.

Adolescentes

Segundo o advogado Ariel de Castro Alves, presidente da Comissão Especial de Adoção e Direito à Convivência Familiar de Crianças e Adolescentes da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), "há um aumento da população desses jovens nas ruas de São Paulo, e alguns sobrevivem como pedintes, em situação de trabalho infantil ou cometendo furtos e roubos".

A primeira fase de um Censo realizado pela Prefeitura de São Paulo revelou que crianças e adolescentes em situação de rua se concentram em mais de 520 pontos da capital, sendo possivelmente as regiões mais afetadas, disse o advogado.

Se flagrados, esses jovens podem receber diversos tipos de responsabilização. "Adolescentes com mais de 12 anos só podem ser apreendidos em atos com violência ou grave ameaça. Em furtos, pegos em flagrante, são levados pra delegacia e liberados com o comparecimento dos pais ou responsáveis. Em roubos, pegos em flagrante, podem ficar detidos e são encaminhados para a Fundação Casa", explicou Alves.

Estação Palmeiras-Barra Funda do Metrô de São Paulo
Estação Palmeiras-Barra Funda do Metrô de São Paulo Estação Palmeiras-Barra Funda do Metrô de São Paulo

Os jovens podem responder a processos nas Varas da Infância e Juventude ou receber medida socioeducativa de liberdade assistida e prestação de serviços à comunidade.

Segundo dados da Fundação Casa enviados ao R7, existem 4.765 jovens em atendimento em 116 centros socioeducativos localizados em 46 cidades do estado de São Paulo. Desses, 1.569 foram apreendidos por roubo qualificado (32,93%), 178 por roubo simples (3,74%) e 122 por furto qualificado (2,56%).

Metrô

O Metrô de São Paulo afirmou que vai analisar as imagens do circuito interno de monitoramento para colaborar com a averiguação dos casos. "A companhia mantém agentes de segurança pela estação, que realizam rondas constantes. É importante que os passageiros comuniquem todos os casos a um funcionário para a adoção de rápidas medidas." 

A Socicam afirma que responsável pela área do Terminal Rodoviário Barra Funda. "Na área do terminal rodoviário, atuamos na operação, limpeza, organização e segurança de todo espaço. Neste último quesito, contamos com uma equipe de seguranças patrimoniais que realizam rondas constantes, além de um circuito de câmeras que monitora de forma contínua todas as dependências do Terminal Rodoviário e se mantém em operação por 24 horas. Em casos em que alguma situação é identificada, os profissionais atuam e imediatamente acionam os órgãos de segurança competentes”, afirmou a empresa, em nota.

A SPTrans, que faz a gestão do serviço de ônibus municipal, afirmou que não tem responsabilidade pela administração do terminal Barra Funda.

Questionada, a Secretaria da Segurança Pública não comentou especificamente as ações no entorno das estações Anhangabaú e Barra Funda. A pasta disse que, para combater crimes patrimoniais, realiza desde maio a Operação Sufoco.

"Até o momento cerca de 6.500 pessoas foram detidas e 366 armas de fogo ilegais retiradas das ruas. Também foram recolhidos simulacros de armas, cartões bancários, máquinas de cartão, celulares e carcaças de celulares. A Operação Mobile também é desencadeada para combater roubos e furtos de celulares. Nas áreas da 1ª e 3ª seccional, responsáveis pelo Anhangabaú e pela Barra Funda, respectivamente, 1.947 celulares foram apreendidos e 15 pessoas presas somente no mês passado."

* Sob supervisão de Fabíola Perez e Márcio Pinho

* Com a colaboração de Raphael Hakime

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