Organizadores de blocos se queixam de arrastões e falta de banheiros
Fórum de Blocos aponta falhas na segurança e estrutura do Carnaval. Prefeitura afirma que utilizará drones e instalará 22 mil banheiros
São Paulo|Do R7
De cima do carro de música, a fundadora do bloco carnavalesco "Desculpa Qualquer Coisa", Renara Corrochano, relata que ficou chocada ao testemunhar a ação de grupos organizados para assaltar foliões no pré-carnaval de São Paulo. O bloco partiu da avenida Ipiranga, na região central e chegou à Praça Ramos, também no centro da cidade, no sábado (16). "O principal problema foi a violência organizada", diz.
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Segundo ela, os suspeitos de assaltar foliões em blocos agem com a mesma estratégia repetidas vezes: utilizam roupas da mesma cor, provocam um tumulto ao redor da vítimas, roubam objetos pessoais como doleiras, pochetes e outros bens. No momento em que outras pessoas se aproximam para ajudar, também são abordadas. "Tivemos que parar o caminhão mais de dez vezes para que menos pessoas fossem agredidas."
Renata afirma que observou cena semelhante nos eventos que participou no aniversário de 466 anos da cidade. "A polícia não fez nada. Estou com medo de que, no próximo ano, meu público não participe da mesma forma", diz. "Ajudamos pessoas que se aproximaram das cordas agredidas. Foi uma sensação de impotência."
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A organizadora disse ainda que em sua equipe havia dois bombeiros para retirar pessoas de aglomerações. "O público vai começar a evitar os grandes blocos do centro, o que é muito ruim, já que era nosso espaço de manifestação."
Na zona sul da cidade, na mesma região em que um policial civil atirou em meio a uma tentativa de assalto e deixou cinco pessoas feridas durante o cortejo de um bloco carnavalesco, o organizador de um outro bloco, o "Boca de Veludo", Bruno Motta, que desfila pelo 4º ano, afirma que também enfrentou dificuldades. "Tivemos problemas no ano passado com a avenida Faria Lima bloqueada, mas a sujeira foi empurrada para baixo do tapete e nada foi resolvido."
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"Falta organização e controle do público sobre quem está nesses espaços, pessoas que não são revistadas para entrar nas áreas. Vi pessoas com vidros, um casal com faca", afirma Motta. "É preciso ficar claro que o problema não são os blocos. Queremos oferecer uma festa perfeita, mas não estão chegando informações nem estrutura adequada para o público."
'Falta de planejamento'
O pré-Carnaval é considerado pelos organizadores dos blocos de rua como um teste que antecede a festa principal, que ocorrerá entre os dias 21 e 25 de fevereiro, e tem como objetivo verificar se não há falhas na organização, apoio e equipamentos públicos oferecidos pela administração municipal.
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"É preciso que polícia e guardas conversem entre si", diz Motta. "Seria bom se houvesse um gradil para delimitar o circuito do bloco. Ainda dá tempo de fazer um bom planejamento", afirma. Motta relata ainda ter visto diversos pedestres pedindo transporte por aplicativo na Marginal Pinheiros, uma das vias mais movimentadas da cidade. Segundo ele, a atitude é arriscada.
Banheiros públicos
Um das fundadoras do bloco Filhas da Lua, que faz o cortejo no bairro do Bixiga, Juliana Matheus, afirma que teve problemas com banheiros públicos. "Fizemos o desfile das 9h às 13h sem banheiro, com muito sol, pessoas bebendo água e num bloco com muitas mulheres e crianças", diz ela. "Os banheiros começaram a chegar às 13 horas", afirma a organizadora do bloco que reúne hoje 1.500 pessoas.
Para Juliana, que também é membro da Comissão Feminina de Carnaval de Rua, a ausência dos banheiros a menos de uma semana para o Carnaval é um problema grave. "Havia pedido em reunião com a prefeitura que não fossem instalados na escadaria do Bexiga porque não tem muita ventilação", diz. "Foram instalados exatamente lá."
Ela conta que recomendou que os foliões voltassem mais cedo para casa. "Foi muito desorganizado diante do tempo que se teve. Espero que nos próximos dias a prefeitura consiga entregar um serviço melhor", afirma.
Preocupação com os próximos dias
O coordenador do Fórum de Blocos, que reúne mais de 300 blocos de rua em São Paulo, Jorge Luis Vespero Garcia, classificou o pré-Carnaval como falho. "Faço Carnaval há 19 anos e pela primeira vez não pude desfilar, não tinha Polícia Militar e a GCM (Guarda Civil Metropolitana) nem apareceu. Sem viatura não queria correr riscos. Fiquei parado pela falta de apoio da CET e da PM", diz.
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Garcia, que é do bloco "Amigos da Vila Mariana", disse que recebeu muitas queixas de assalto e arrastões na região do centro e na Berrini. "A PM disse que faria planos de policiamento, mas ficou tudo abandonado. As pessoas estão bem preocupadas com o que pode acontecer."
Para ele, embora os blocos de rua sejam os protagonistas da festa, a prefeitura precisa dar o devido apoio. "O mínimo é investir em infraestrutura", diz. Garcia disse ainda que, pela primeira vez, os blocos não participaram produção do Carnaval. Segundo ele, os organizadores participaram de duas reuniões uma semana antes do Carnaval.
Outro lado
A Secretaria Municipal de Segurança Urbana (SMSU) informou por meio de nota que, durante todo o período da festa, "haverá quatro drones em apoio aos órgãos de segurança pública na visualização de possíveis conflitos, deslocamento do efetivo e auxílio à CET."
A pasta escreveu ainda que serão utilizados quatro drones em períodos e locais definidos em conjunto com os demais organizadores do evento. A administração municipal não respondeu sobre a presença de guardas das GCM nos desfiles.
Em relação aos banheiros públicos, a prefeitura informou "serão instalados em média 2.750 banheiros por dia de carnaval de rua, totalizando 22 mil equipamentos."
A prefeitura informou ainda que, segundo a Comissão Intersecretarial de Carnaval, foram realizadas 37 reuniões intersecretariais e cerca de 80 regionais por área, de acordo com as necessidades dos blocos.
A Polícia Militar, também por meio de nota, afirmou que "empregou um número recorde de policiais no Carnaval deste ano. "Somente no pré-carnaval foram mais 30 mil policiais militares e policiais civis atuando diretamente no evento. Nos dois dias do final de semana foram realizadas 64.847 abordagens, resultando na detenção de 413 pessoas."
"Entre as detenções, quatro colombianos, sendo três mulheres, foram detidos por policiais da ROCAM com 48 celulares furtados e roubados durante um bloco na Avenida Brigadeiro Faria Lima, de domingo (16). A ocorrência foi encaminhada ao 14º DP."
A corporação afirmou que durante o período carnavalesco haverá um esquema de segurança "com o emprego de 150 mil policiais militares e policiais civis, além do emprego de drones e helicópteros do Comando de Aviação da Polícia Militar."