PM que atirou em motociclista diz que ouviu 'estampido' de arma
Segundo boletim de ocorrência, imagens contrariam versão de PM. Homem em moto não fez movimentos que indicassem estar armado
São Paulo|Fabíola Perez, do R7
A versão dada pelo policial que matou um motociclista ao atirar pelas costas na zona leste de São Paulo, na madrugada do sábado (25) diverge das imagens registradas por câmeras de segurança. A Ouvidoria afirmou que irá instaurar um procedimento para acompanhar as investigações.
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De acordo com o boletim de ocorrênca, as imagens demonstraram uma dinâmica distinta daquela inicialmente narrada. O documento afirma que a vítima não chegou a jogar a motocicleta em direção ao policial militar e não fez movimentos que pudessem aparentar o uso de arma de fogo, "não demonstrando perigo iminente à segurança do policial sendo, asinda assim, alvejado por disparos."
A ação ocorreu na avenida Nordestina, na zona leste de São Paulo. Uma motocicleta que havia sido roubada foi vista próxima à 2ª CIA do 29º BPM. O policial, que tentou abordar o homem que conduzia a moto e fez disparos, foi preso em flagrante.
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Em seu depoimento, o policial afirma que gritou diversas vezes para que o motociclista parasse e que o homem não obedeceu a ordem de parada. Nessa ocasião, ambos teriam se aproximado, "a ponto de quase antigi-lo com a motocicleta", o que teria obrigado o policial a dar um pulo para trás.
De acordo com o depoimento do policial, após ter saltado, o motociclista virou com a motocicleta para deixar o local. Nesse instante, o policial efetuou "cerca de dois ou três disparos em direção à parte de baixo da motocicleta, visando atingir as pernas do indivíduo, os pneus ou carenagem da motocicleta, com o intuito de encerrar aquela perseguição."
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O policial afirmou que "não tinha a intenção de alvejar o indivíduo, apenas de parar a motocicleta". No entanto, ao parar ao lado do motociclista ouviu um barulho que chamou de "estampido". Segundo ele, aparentou ser um disparo de arma de fogo, motivo pelo qual "visando resguardar sua integridade física, efetuou um disparo contra o indivíduo, que caiu ao chão."
O policial militar disse ainda que, no momento em que ouviu o estampido, "não tinha visão para a mão direita do indivíduo, que estava do lado oposto, motivo pelo qual acreditou que ele portava arma de fogo." O policial disse ainda que no momento em que o motociclista cai no chão baleado ele continua com a arma em punho "para sua segurança".
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O motociclista foi revistado no local e não foi encontrada nenhuma arma ou documento de identificação, segundo o boletim de ocorrência. O policial afirmou ainda que não tinha a intenção de matar o motociclista, mas "não teve escolha por sentir sua vida ameaçada."
O ouvidor das polícias de São Paulo, Elizeu Soares Lopes, contestou a afirmação policial e disse que, pelas imagens, a vida dele não parece estar ameaçada. "O bom protocolo policial é aquele que protege a vida do policial e das pessoas durante abordagem. Nas imagens, não me parece que a vida do policial estava ameaçada", afirmou em relação ao registro das câmeras que mostram a abordagem do policial.
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Nas imagens registradas pela câmera de segurança é possível ver que o policial militar dispara na direção das costas do homem, que cai da motocicleta. Segundo o boletim de ocorrência, "o condutor da motocicleta passa a desembarcar da mesma sem fazer qualquer movimento brusco"
"Enquanto ele desembarca, estando ainda com ambas as mãos no guidão da motocicleta, o policial militar efetua novo disparo em sua direção, alvejando-o, momento em que a vítima cai ao chão". Na sequência, chegam ao local as demais viaturas de polícia.