PMs em serviço ultrapassam marca de 500 mortos em nove meses
De acordo com dados oficiais da Secretaria de Segurança Pública, uma pessoa é morta a cada 13 horas em supostos confrontos com policiais
São Paulo|Kaique Dalapola, do R7
Policiais militares em serviço mataram 513 pessoas entre janeiro e setembro deste ano no Estado de São Paulo em casos registrados como "morte decorrente de intervenção policial", os antigos autos de resistência. Outras 96 pessoas foram mortas por PMs em folga.
De acordo com os dados oficiais divulgados pela SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo), os policiais militares fardados, durante o horário de serviço, matam uma pessoa a cada 13 horas e posteriormente registram como confronto com suspeitos.
Nos nove primeiros meses do ano passado, 467 pessoas haviam sido vítimas em casos de supostas resistências. O ano de 2018 fechou com 632 pessoas mortas por PMs em serviço.
Os mortos por policiais militares em folga até setembro do ano passado, no entanto, superam o número de 2019: 122 pessoas.
Em uma das ações que inflou os dados da letalidade policial em 2019, PMs da Rota e do Batalhão de Choque (com apoio de dois PMs locais e um policial ambiental) mataram 11 suspeitos em Guararema, a cerca de 80 km de São Paulo.
Na ocasião, os homens mortos foram apontados como responsáveis por uma tentativa de roubo a um banco na cidade. Após a ação, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), parabenizou aos policiais militares envolvidos nas mortes.
Cinco meses depois, a Ouvidoria de Polícia de São Paulo concluiu um relatório que apontou que quatro suspeitos foram executados pelos policiais militares, contrariando os métodos adotados pela própria Polícia Militar para realização de ações legítimas.
Procurada pela reportagem, a SSP-SP disse que "trabalha para reduzir a letalidade policial no Estado". A pasta disse que todo caso de resistência "é acompanhado, monitorado e analisado para constatar se a ação policial foi realmente legítima".
Ainda de acordo com a secretaria, "as ocorrências são rigorosamente investigadas pelo DHPP e corregedorias das instituições, com o acompanhamento do Ministério Público e do Judiciário".
A SSP-SP diz que "mais de 60% dos casos de morte em decorrência de intervenção policial (MDIP) ocorrem em roubos nos quais os criminosos estão armados, subjugando e colocando a vida de pessoas em risco".
O R7 também pediu posicionamento para a Polícia Militar sobre a ação de Guararema. A PM, no entanto, disse que não vai se manifestar sobre o relatório da Ouvidoria de Polícia e afirmou que "o Inquérito Policial Militar foi encerrado e encaminhado à Justiça".