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Racionamento de água é realidade em cidades do interior de São Paulo

Com reservatórios secos e falta de chuva, municípios recorrem ao rodízio de água. Para não ficar sem, população tem que se preparar

São Paulo|Joyce Ribeiro, do R7

Sistema Cantareira opera com 28% da capacidade total de armazenamento de água
Sistema Cantareira opera com 28% da capacidade total de armazenamento de água

A estiagem e as chuvas abaixo da média deixaram reservatórios de água secos ou com nível insuficiente para garantir o pleno abastecimento da população. Enquanto os temporais de verão não chegam, cidades do interior de São Paulo tiveram de adotar algum tipo de restrição, como o rodízio de água.

Beethoven Lencioni é engenheiro agrônomo e morador da Vila Universitária, em Bauru, a 329 km da capital paulista. Segundo ele, na região o problema de falta de água é crônico, pior entre segunda e sexta-feira.

"À tarde falta água e volta na madrugada. A gente ouve quando começa a encher a caixa. Tem que colocar roupa para bater na máquina até umas 11h, depois já não dá mais. Tenho três caixas-d'água, então consigo passar uma semana sem água. Mas quem não tem passa aperto", conta.

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Durante o inverno, o município adotou o rodízio de 24 horas com água e 48 horas sem. Com o início das chuvas de primavera, o regime de restrição mudou. Ainda assim, o rio Batalha, que abastece parte da cidade, não está no nível ideal.


O município cresceu muito, chegaram grandes condomínios e, consequentemente, aumentou a demanda pelo recurso hídrico.

"Aqui é uma autarquia municipal. Nos municípios onde existe a Sabesp [Companhia de Saneamento Básico do Estado], a água é mais cara, mas prefiro pagar mais e ter água. Não vislumbro nada melhor aqui, e o problema vai continuar, infelizmente. A periferia sofre mais com a falta de estrutura. No inverno, tive de buscar água potável em pontos espalhados na cidade, porque em casa não tinha", ressalta Beethoven.


Para evitarem o desabastecimento, os moradores estocam água em galões para uma emergência. Além de ter as caixas-d'água, Beethoven armazena 80 litros em quatro galões.

Com medo de desabastecimento, moradores estocam água em galões para emergência
Com medo de desabastecimento, moradores estocam água em galões para emergência

DAE de Bauru

No último dia 8, o DAE (Departamento de Água e Esgoto) de Bauru decidiu alterar o sistema de rodízio no fornecimento de água. A restrição caiu de 48 horas sem água para 24 horas. A medida foi adotada, segundo a empresa, devido às chuvas, que elevaram o nível da lagoa de captação do rio Batalha.


De acordo com o presidente do DAE, Marcos Saraiva, não é possível encerrar o rodízio permanentemente porque a lagoa de captação não atingiu o nível de 3,20 m. A previsão ainda é de um longo período de estiagem pela frente.

"A autarquia trabalha em diversas obras para que a cidade consiga suportar outras épocas com baixa precipitação. O poço Praça Portugal deve começar a operar nos próximos dias. O poço Imperial já foi interligado para auxiliar o sistema Batalha/ETA. O poço Infante Dom Henrique está sendo perfurado. A perfuração do poço Alto Paraíso foi iniciada. Tais obras, em conjunto com o funcionamento da adutora do Santa Cândida, deverão reduzir o impacto da falta de chuvas ainda neste ano", informou em nota.

Franca

Franca, conhecida como a capital nacional do calçado, a 397 km de São Paulo, ficou cerca de três meses sem chuvas. Dos 375 municípios paulistas atendidos pela Sabesp, apenas Franca passou por rodízio entre 2 de setembro e 11 de outubro. A justificativa da empresa foi "a severa estiagem que atinge grande parte do país".

Ana Paula Silva é assistente social e moradora do Jardim Palma. Apesar da suspensão do racionamento, ela ainda está insegura quanto ao abastecimento.

"Cortavam água entre 11h e 12h, aí era 36 horas sem. Voltava meia-noite do dia seguinte. Os bairros foram divididos por blocos A, B e C. Minha casa tem caixa-d'água grande e moram poucas pessoas, mas eu não lavava roupa quando tinha o rodízio e juntava louça para lavar de uma vez. Mas os condomínios ficavam sem água. Tem que se programar porque tudo depende das chuvas", diz. 

A Sabesp recomenda o uso consciente da água e disse "adotar medidas operacionais para manter o abastecimento, como novas captações de água, ampliação da infraestrutura e perfuração de poços".

Valinhos

A 83 km da capital paulista, Valinhos também adotou o racionamento de água a partir de 20 de setembro. A cidade foi dividida em seis regiões, além do centro. Em algumas áreas, o abastecimento é interrompido três vezes por semana e em outras, duas, segundo o Daev (Departamento de Águas e Esgotos de Valinhos).

"A supressão inicia por volta das 10h, seguindo até as 4 da madrugada. Há limitações e dificuldades operacionais para a pressurização da rede pública de água no pós-rodízio. O abastecimento não mais se dá de forma ininterrupta nos dias fora do rodízio, com a água podendo chegar em períodos espaçados do dia, conforme haja disponibilidade do recurso para distribuição", explicou em comunicado.

Estação de Tratamento de Água de Valinhos, cidade que adotou o rodízio no abastecimento
Estação de Tratamento de Água de Valinhos, cidade que adotou o rodízio no abastecimento

Segundo o departamento, foi suspensa a operação das represas municipais devido à indisponibilidade hídrica. A cidade tem apenas 61,7% de água para distribuição aos imóveis. Os mananciais internos são responsáveis por 38,7% da água que é consumida.

O percentual de reservação de água bruta está em 45% na Santana do Cuiabano, 10% na Moinho Velho, 20% na Figueiras e em 5% na João Antunes dos Santos. “As chuvas estimadas não têm se confirmado há praticamente oito meses, e a recuperação das barragens não tem chegado nada perto do volume que é necessário à captação. Por isso, a medida de intensificar o racionamento tornou-se inevitável”, justificou o presidente do Daev, Ivair Nunes Pereira.

A encarregada administrativa Mara França mora e trabalha em Valinhos. Ela conta que, no condomínio Vale do Itamaracá, o consumo de água é alto e não é suficiente para o dia todo.

"Não temos caixa-d'água e o reservatório do Daev não está dando conta de encher. Os moradores reclamam, mas sabem que é a falta de chuva. Já na minha casa, no Frutal, tem caixa e os moradores são bem conscientes e dificilmente falta água. Tenho medo de acontecer como em 2013. Espero acumular roupa para lavar e uso a água da máquina. Mas só faço isso por causa do racionamento", relata.

Entre as ações previstas na cidade estão o desassoreamento na lagoa do Centro de Lazer do Trabalhador, as interligações dos reservatórios do Imperial, Santo Antônio e São Bento do Recreio para ajudar na pressurização da água, e a troca de mais de 10.000 m de rede pública de água para reduzir perdas.

Sabesp

Apesar de a situação estar longe do ideal, ainda não há racionamento nas cidades da região metropolitana de São Paulo abastecidas pela Sabesp. Mesmo com o sistema Cantareira, o maior reservatório, em alerta por estar com 28,3% da capacidade, a operação não foi modificada, mas houve a redução de retirada de água do manancial.

"A projeção aponta níveis satisfatórios dos reservatórios com as perspectivas de chuvas do final da primavera e início do verão, quando a situação será reavaliada. Não há risco de desabastecimento neste momento, mas a companhia reforça a necessidade do uso consciente da água", informou em nota.

Rios do sistema Cantareira não encheram o suficiente com escassez de chuvas no inverno
Rios do sistema Cantareira não encheram o suficiente com escassez de chuvas no inverno

Com a integração dos sete sistemas que abastecem a região, que envolvem 155 reservatórios e dez áreas de interligações, a companhia afirma que há mais segurança hídrica, pois a integração permite transferências de água entre as regiões, de acordo com a necessidade operacional.

A interligação Jaguari-Atibainha agora traz água da bacia do rio Paraíba do Sul para o sistema Cantareira e, desde 2018, está em operação o sistema produtor São Lourenço.

Já a interligação do rio Itapanhaú ficou para março de 2022. Com o início da operação, a expectativa é transferir 400 litros de água por segundo do rio para o sistema Alto Tietê. Até julho, segundo a Sabesp, serão em média 2 mil litros por segundo.

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