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'Se o DEM apoiar Bruno Covas, eu saio do partido', diz Arthur do Val

A Prefeitura de São Paulo é um desejo do deputado, que enfrenta a Comissão de Ética por ter xingado os demais parlamentares durante discurso na tribuna

São Paulo|Plínio Aguiar, do R7

'Se o DEM apoiar Bruno Covas, eu saio do partido', diz Arthur do Val
'Se o DEM apoiar Bruno Covas, eu saio do partido', diz Arthur do Val

“Se o DEM apoiar Bruno Covas (PSDB) à Prefeitura de São Paulo, eu saio do partido”, afirmou o deputado estadual Arthur do Val. Eleito o segundo parlamentar mais votado para a 19ª Legislatura, o “liberal clássico” ficou famoso por seu canal no Youtube, o MamãeFalei, com mais de 2,5 milhões de inscritos. Em entrevista ao R7, o deputado se posiciona sobre as gestões João Doria e Jair Bolsonaro e acena para uma futura candidatura ao posto de prefeito da maior cidade do país.

A afirmação contraria o anúncio do presidente de seu partido em São Paulo, o vice-governador Rodrigo Garcia, que informou no início deste mês que a sigla irá, sim, apoiar Covas à reeleição. "Nós já declaramos o apoio do Democratas à candidatura do prefeito Bruno Covas que, no momento certo, vai anunciá-la. O DEM é um daqueles partidos que pedem que o prefeito dispute a reeleição e possa continuar o trabalho que ele realiza aqui na capital paulista”, disse Garcia na ocasião.

O Executivo é um desejo do deputado, que teme os processos que enfrenta. Recentemente, as contas de sua campanha foram rejeitadas pelo Tribunal Superior Eleitoral – o relator ministro Sérgio Banhos identificou divergência entre movimentação financeira, ausência de documentos comprobatórios de despesas e recebimento de doação de fonte vedada. Além disso, o parlamentar é desafiado por colegas de trabalho na Comissão de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo, a qual acolheu denúncia em razão do mesmo ter proferido ofensas aos demais deputados da Casa. 

- O seu projeto de lei, de número 323/2019, prevê a obrigação de contratação de um seguro-garantia de execução de contrato pelo tomador em favor do poder público, em obras e de fornecimento de bens ou serviços...


É baseado em um PL dos Estados Unidos, chamado de “performance Bond”. O que acontece no Brasil é: sempre que vai fazer uma obra, por exemplo, orçada em R$ 400 mil, e quando chega perto do prazo, se perde e sai pelo dobro do preço com qualidade horrorosa e sempre fora do prazo. O que a performance Bond faz é obrigar o poder público a contratar uma seguradora ou conjunto de seguradoras para garantir que aquela obra vai sair no valor, qualidade e prazo contratado. Ao invés de fazer toda essa análise de risco, passa para um banco. Eles fazem essa análise, se o preço está dentro ou fora, e o custo disso é em torno de 10% da obra. Ou seja, é muito barato se comparar com a recorrência do absurdo com obra pública que temos no país, a exemplo do Itaquerão.

- O senhor tem um projeto de lei que prevê o fim do auxílio-moradia...


É um absurdo um deputado estadual receber auxílio-moradia, né? Eu sou o deputado mais austero da Casa: poderia ter 32 assessores, tenho 5; não tenho auxílio-moradia, de carro, saúde, motorista, nada, nenhum desses.

- Qual a convicção de que esse PL será aprovado?


Zero. O do Bond eu tenho bastante convicação. Agora, do auxílio-moradia, zero, mas alguém tem que fazer.

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- Outro projeto de lei do senhor, de número 302/2019, dispõe sobre a isenção de IPVA e ICMS para os veículos que atuam no transporte privado por meio de aplicativos. Assim como os motoristas de táxi...

Muitas pessoas perderam o emprego, ficaram desesperadas e foram atrás para fazer Uber, 99 e Cabify, etc. O que você vê, muitas vezes, é um carro velho, gastando gasolina, poluindo, quebrando o carro, atrapalhando o trânsito e não tem nenhum incentivo para trocar o veículo. Hoje temos uma tendência mundial de não comprar carro e profissionalizar esse serviço. Dessa forma, nada mais justo que dar incentivo, uma isenção de imposto, para aquela pessoa que vive daquilo, para que possa, em primeiro lugar, girar a economia, poluir menos, trazer mais segurança para o passageiro e mais fluidez para o trânsito.

- Tem uma condição para o motorista receber essa isenção, desde que tenham 1.000 viagens em 12 meses ou 300 viagens em quatro meses. O senhor realizou algum estudo?

Esse número foi a equipe técnica que fez. Fizemos uma análise do impacto fiscal que daria para o Estado, e é muito baixo. É algo em torno de 0,03% da arrecadação para um incentivo muito grande, principalmente para famílias que dependem desse serviço. O taxista já tem, por que não dar para outros motoristas também?

- Em um vídeo em seu canal, intitulado Manifestação 26/05, O que eu aprendi, você diz que aquela foi uma das piores semanas que lhe ocorreu. Você usou as seguintes palavras: “como se fosse um soco na barriga” para se referir que o seu mandato de deputado estadual está em risco. O que você quer dizer com isso?

Eu não vou lembrar a ordem cronológica, mas eu tive dois problemas com o meu mandato. Eu não posso falar ainda de um, que é uma coisa bem inside. A outra é que eu chamei os deputados de vagabundos. O processo de ética, inclusive, está correndo sobre isso. Foram dois problemas onde eu coloquei meu mandato na beira do precipício, justamente por me exceder em um dia. Eu me atropelei e infelizmente a gente fica à mercê do jogo político e das velhas raposas, mas ainda bem que eu consegui me livrar de um deles.

Arthur do Val comenta risco de perder o mandato como deputado estadual
Arthur do Val comenta risco de perder o mandato como deputado estadual

- Tem medo de perder o mandato de fato?

Eu tinha mais medo antes. Hoje, menos. Eu conversei com várias pessoas, li bastante o regimento e o que eu fiz está totalmente previsto. A punição é de moção de censura, mas não deixa de ser um tribunal político, porque é uma comissão com nove parlamentares, os quais vão interpretar a minha ação do jeito que bem entenderem. Eu diria que estou no meio a meio.

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- O senhor disse uma vez que tinha uma boa relação com o DEM. A amizade continua?

Eu não sei se tenho, de fato, boa relação com o DEM. É mais indiferença. Eu acho que eles olham para mim como um cara com votos, e eu olho para eles como um partido que me deu a legenda. Eu não tenho nenhum alinhamento ideológico com o DEM, nem saberia dizer qual o alinhamento ideológico do meu partido.

- E a disputa para a Prefeitura de São Paulo?

Não é tão impossível que eu consiga a legenda pelo DEM. Hoje, o partido apoia o Bruno Covas, e ele próprio está tendo problemas dentro do PSDB – é completamente impopular, desconhecido e muito dificilmente vai ganhar a eleição. Então, de repente, eu esteja nos planos deles. Acho que é cedo para saber onde vou, mas quero disputar a prefeitura e vou tomar o caminho necessário para isso.

- Há algum arrependimento de ter se filiado ao DEM?

Não. Quando fui me filiar, a minha escola foi bastante pragmática. Eu sempre deixei claro que o partido que eu mais admiro é o Novo, mas algumas travas me impediram de sair pela sigla. Por exemplo: a gente tem bons candidatos no Amapá e o Novo não tem nenhum diretório lá. Eu, dentro do Novo, não poderia apoiar um candidato no Amapá que fosse de outro partido. Como eu me considero muito mais militante do que candidato, eu não posso parar a minha militância por causa da eleição e isso me travou. Quando eu fui me filiar ao DEM, deixei claro que queria posição de independência e eles aceitaram. Eu faço esse elogio ao partido, porque sou um cara que fala mal do meu partido, eu voto contra a orientação partidária e até hoje ninguém me ligou. Assim, não me arrependo. Eu utilizei o DEM para me eleger. Para mim, o DEM é só um número e foi o número que eu utilizei para entrar.

- Há alguma data de sua saída?

Eu nem sei se vou sair. Olha como as coisas mudam: há alguns dias eu fiquei sabendo que uma deputada colocou uma emenda na lei eleitoral para que se possa ter uma janela inclusive para deputados estaduais. Se isso passar, todos vão mudar. O cenário vai mudar da água para o vinho. De repente, o DEM me dá a legenda. Não sei... política é um negócio que não dá para prever.

- E a prefeitura nesse caso? O Rodrigo Garcia já bateu o martelo nessa questão.

Eu saio. Se a decisão for essa, de apoio ao Bruno Covas, eu saio do partido. Não sei como, mas eu saio.

- Quais partidos você vê com bons olhos?

Eu gostaria muito de sair pelo Novo. Eu não tenho problema com partido, todos têm políticos bons e ruins. Eu sei que não pretendo usar cacique partidário. Quero me eleger com votos próprios.

- Há conversa no sentido de o senhor entrar para o Novo?

Sim. Já tive conversas de aderir a eles. Na verdade, eu fico correndo atrás deles para amolecer o coração e abrir mão de algumas regras. Por exemplo, eu acho completo absurdo o parlamentar não poder sair do meio do mandato para fazer outras coisas. Vamos supor: sou eleito senador e sou o melhor, se todo mundo me quiser como presidente, eu não posso sair e disputar a presidência?

- Mas e o compromisso do mandato?

Mais ou menos. Se eu chego e falo: vota em mim para senador que eu vou ficar os oito anos, é uma coisa. Se eu não prometo e o povo me chama para outro cargo, por que não? Não vejo como quebra de compromisso. Mas o problema do Novo é mais a questão da militância. Eu não posso deixar de apoiar quem eu quero apoiar. Eu quero militar pelo o que eu acho certo. E isso me trava.

Parlamentar admite admiração pelo partido Novo
Parlamentar admite admiração pelo partido Novo

- Me parece que o senhor é a favor de candidatura avulsa...

Com certeza. As pessoas acham que tem muitos partidos no Brasil – eu acho o contrário, que tem muito pouco. O problema é o que os partidos precisam ser necessariamente cartorários. Dessa forma, é um absurdo que o partido tem que ser de nível nacional, ter direito a tempo de TV e a fundo partidário. Infelizmente, a regulação da lei eleitoral é um atraso.

- O seu canal no Youtube, o MamãeFalei, tem 2,57 milhões de inscritos desde que foi criado, em 25 de maio de 2015. O senhor foi o segundo deputado mais votado para a Assembleia Legislativa de São Paulo, com 478 mil votos. O senhor acredita que isso fará chegar na disputa com uma base bem formada?

Eu sou um cara que venho da internet, da rede social, mas sei que não reflete necessariamente o tamanho que você tem. Por exemplo, a deputada Janaina Paschoal é menor nas redes, mas obteve 2 milhões de votos. Não é uma relação direita. Ultimamente meu canal tem perdido inscritos. Agora, sei que isso vai me ajudar na eleição, claro. Eu tenho um canal de comunicação espontânea e posso falar o que eu quiser.

- Como o senhor se classifica dentro da política?

Liberal clássico. E existe muita confusão nesse termo que as pessoas acham que sou liberal na economia e conservador nos costumes. Isso não existe. Um liberal clássico é, de fato, conservador, justamente por acreditar na prudência, direitos naturais do homem, moralidade das ações humanas...

- Qual a sua avaliação sobre a gestão João Doria?

Quando o Doria surgiu na disputa à prefeitura, eu olhei e me encantei. Lembro de falar que ele era liberal, mas se mostrou que não é liberal coisa alguma. Ele entrou na prefeitura e fez algumas cagadas.

- Do tipo?

Ele fez o discurso da velha política, de que ia cumprir todo o mandato e saiu no meio. Eu não vejo problema nisso, desde que não seja uma promessa. Eu acho errado prometer algo que você não vai cumprir. No governo do estado, dois pontos: o mais forte é que ele é, de fato, um excelente gestor. Está desestatizando São Paulo, busca parceria com o setor privado. Isso é inegável. Agora, existem mancadas e o projeto para pagar mais para quem está no topo do funcionalismo público é uma.

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- E em relação ao prefeito Bruno Covas?

É péssimo prefeito. Logo que entrou, desfez tudo o que Doria fez, colocou um monte de esquerdista. Fora isso, é um péssimo gestor. Mais do que isso: erra em até pequenices. “O estado tem que ser patriarcal” e aí regularizou os patinetes. Pelo amor de Deus, né? Quem é o prefeito para dizer ao cidadão como ele irá usar o patinete! Ele é um cara tão indiferente que, se a gente andar com ele pelo Ibirapuera, ninguém vai xingar nem abraçar.

- E o presidente Jair Bolsonaro?

A equipe do governo acerta mais do que erra. Os ministros são maravilhosos, como Tarcísio Freitas, Ricardo Salles, Sergio Moro, mas o presidente é péssimo. Não só isso: ele acertou quando fez alianças. Chamou os militares, liberais e lava-jatistas e acertou, mas quando ouviu a ala ideológica, errou.

- Quem é essa ala?

Carlos Bolsonaro, os olavistas. Não acho que a comunicação do governo deveria ficar na mão de um cara maluco, que chamou o outro de gordo. Isso não é engraçado, é cagada. A equipe é boa, trabalha muito, mas a figura do presidente, por ouvir essa ala ideológica, erra demais.

Val olha com desejo o posto de prefeito de São Paulo
Val olha com desejo o posto de prefeito de São Paulo

- Tramita no Conselho de Ética uma denúncia, de autoria do deputado Teonílio Barba (PT), contra o senhor. O motivo é a quebra de decoro parlamentar, em razão de o senhor ter proferido ofensas aos deputados da Casa no dia 4 de junho. O Conselho, por 5 votos a 1, admitiu o processo disciplinar e agora encontra-se com o relator para parecer.

Diferentemente do que parece, eu não cheguei lá e chamei de vagabundo. Eu estava bastante irritado, aí um deputado começou a falar em ser a favor de aumentar imposto e salário de fiscal. Isso mexe comigo, porque você faz uma campanha para não pagar mais imposto, aí a Casa vai lá, debaixo da tua barba, e aprove um projeto desse? Eu desci e falei que quem votar sim, eu iria expor as caras dos vagabundos na internet. Eu não chamei ninguém de vagabundo, eu deixei no ar. Eles interpretaram de forma ofensiva, eu me excedi e pedi desculpas depois. Errei, não deveria ter falado dessa forma e agora será julgado.

- As penalidades são: advertência, censura verbal ou escrita, perda temporária de mandato ou cassação do mandato. O senhor tem medo de que a penalidade máxima, que é cassação, ocorra?

O que eu senti que quando passou a euforia, o corporativismo falou mais baixo e a relação humana, mais alta. A impressão que eu tive é que o pessoal entendeu. Não acho que vão ser malucos de cassar o mandato por causa disso. Todo dia o pessoal da esquerda chama a gente de fascista, nazista, homofóbico e não acontece nada com eles. E se eu, que usei uma palavra que começa com vaga e termina com bundo, vai acabar com meu mandato? Não faz sentido. Espero que tenham decência na hora de julgar.

- O relator ministro Sérgio Banhos, do Tribunal Superior Eleitoral, diz que as contas foram desaprovadas pelas seguintes irregularidades: recebimento de doação de fonte vedada (permissionário de serviço público), divergência entre movimentação financeira registrada na prestação de contas e aquela registrada nos extratos bancários eletrônicos, ausência de documentos comprobatórios de despesas e despesas no montante de R$ 14.842,11, em data anterior à data inicial de entrega da prestação de contas parcial e não informadas à época. O senhor sempre foi uma pessoa que lutou contra a corrupção – não é contraditório neste caso em relação as contas negadas?

Em nenhum momento houve corrupção ou caixa dois de fato. Houve erro técnico da plataforma que utilizamos, inclusive homologada pelo próprio TSE, que errou nas contas. O problema se dividiu em dois: recebemos doações de crowdfunding e pediam o prazo de três ou quatro dias para informar a nota fiscal. A plataforma, por sua vez, dava de cinco a seis dias. E eu atrasei justamente por causa da própria plataforma. O outro erro é a má intenção de algumas pessoas, no tocante ao CPF de pessoas mortas. Quando se soma o valor, todas doadas no mesmo dia, dá R$ 75. Alguém utilizou a ferramenta para criar uma narrativa. Classifica, para mim, como alguém tentando me prejudicar.

- E em relação a fonte vedada, expressamente proibida em campanha?

Eu não lembro de doação de alguma empresa atrelada ao poder público. Não tem nada criminal, tanto que não corro risco de perder o mandato por isso. São detalhes técnicos, e não culpa nossa, mas da plataforma do próprio TSE.

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- Em um vídeo no seu canal, você diz que, em uma luta, se ganha ou se aprende, e nunca erra. Em uma comparação com o seu mandato, o que você ganhou e o que você aprendeu?

O que eu ganhei foi ser levado mais a sério pela imprensa. Antes, me tratavam como youtuber. Hoje, não. Eu fui o segundo deputado mais votado, e isso dá um peso diferente. Fiz diversas participações em TVs, jornais, e isso não ocorreria se não tivesse uma votação expressiva. Então, ganhei notoriedade pela mídia. O que eu aprendi é que, infelizmente, lidar com histeria coletiva é mais difícil do que parece. Desmitificar algo para as pessoas que estão histéricas agarradas a uma narrativa é muito difícil. Essas pessoas esquecem a lógica e pensam de maneira histérica, o que, para mim, é um veneno para a sociedade.

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