Superlotação no transporte ainda é transtorno após 1 ano de pandemia
Fase passou de emergencial para vermelha, o que pouco altera o cenário de passageiros amontoados em ônibus, trens e metrôs
São Paulo|Do R7
A superlotação no transporte público da capital paulista ainda é um problema a ser solucionado mesmo um ano após o início da pandemia do novo coronavírus. Nem afase emergencial, em vigor entre 15 de março e 11 de abril permitiu que os passageiros circulassem com o distanciamento necessário para evitar a disseminação do vírus.
A fase vermelha voltou a valer nesta segunda-feira (12) e, inicialmente, segue até o dia 18 de abril. O toque de recolher das 20h às 5h segue em vigor, assim como a restrição de atendimento presencial em todos os serviços essenciais e o reforço da fiscalização sobre eventos e aglomerações. A recomendação para o escalonamento na entrada e na saída de trabalhadores da indústria, serviços e comércio continua válida, assim como a obrigatoriedade do teletrabalho e a proibição de celebrações religiosas.
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A fase mudou, o comércio lidar com restrições, mas o transporte continua lotado. Passageiros seguem amontoados nos ônibus e nos vagões do Metrô e da CPTM.
O risco de contaminação no transporte, nessas condições, é altíssimo, avalia o epidemiologista Paulo Petry, professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). A combinação de grande número de pessoas, espaço pequeno e pouca ventilação favorece um risco excessivo não só dentro do transporte, mas também entre as pessoas que convivem com os passageiros.
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A chance de infecção é de 2,4% entre pessoas que vivem em locais diferentes, e sete vezes superior (17%) quando moram na mesma residência, segundo estudo de especialistas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos e das universidades da Flórida e de Guanghzou, na China.
Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), aponta a necessidade de discussão do tema. “Parece que se trata pouco do assunto porque achamos que não tem jeito. Como se, já que se pensa que não há o que fazer, fosse melhor nem falar sobre”, afirma o especialista, fundador da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Na falta de vacinação em massa, espeialistas apontam medidas que poderiam amenizar o problema:
- Endurecimento das restrições às atividades econômicas na pandemia. Os especialistas consultados cogitam a necessidade adoção de lockdown em determinados casos. Gonzalo Vecina destaca medidas como as adotadas em Araraquara.
- Aumento da frota de ônibus, trens e metrôs. Os dois últimos operam na capacidade padrão e os ônibus com 88% da capacidade. No entanto, apesar da demanda reduzida alegada pelos governos, as aglomerações não foram evitadas. O intervalo entre os carros também precisaria aumentar, segundo Marcos Vinícius da Silva, médico especialista em Saúde Pública e doutor em doenças infecciosas e parasitárias.
- Escalonamento. A ideia, sugerida pelo governo estadual, não obtém consenso. :Gonzalo Vecina Neto e Marcelo Burattini, professor e infectologista da USP defendem a ideia como forma de quebrar o horário de pico e reduzir as aglomerações. Marcos Vinícius da Silva, no entanto, acredita que a melhor solução seria ampliar horários dos locais de atendimento, assim como de metrôs e ônibus. Assim, haveria espaçamento entre pessoas, evitando aglomerações em horários de pico.
No Estado de São Paulo e na capital , as taxas de isolamento social nunca chegaram aos 70% ideais definidos pelo governo. Níveis entre 55% e 60%, considerados como satisfatórios pela gestão estadual, foram alcançados somente até maio de 2020. De junho em diante, com exceção dos domingos, as taxas estiveram frequentemente abaixo de 50%.
Outro lado
Em nota, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos informou que está com “’Operação Monitorada’ desde o início da pandemia e atua com avaliação sistemática a cada faixa de horário”. A pasta também ressaltou que Alexandre Baldy, responsável pelos transportes no Estado, defende o escalonamento obrigatório de entrada e saída de trabalhadores em atividades essenciais que sejam permitidas funcionarem “como um caminho possível para evitar a concentração de passageiros nos horários de pico”.
Já a prefeitura, por meio da SPTrans, disse que a frota de ônibus foi mantida acima da demanda, e que a frota atualmente está mantida em 93,34% nos bairros mais afastados do centro e em 88,25% em toda a cidade. A demanda de passageiros dos ônibus municipais, em relação a um dia útil antes da pandemiam, caiu de 61% na semana anterior ao retorno da Fase Vermelha (em 2 de março), para uma média de 39% nos dias 26, 29, 30 e 31 de março e 1º de abril, feriados antecipados. Na sexta-feira (9), último dia útil da fase emergencial, a demanda foi de 48%.
Além disso, a gestão municipal destacou ações como o monitoramento do deslocamento dos passageiros, a higienização dos veículos e terminais e conscientização sobre cuidados e higiene pessoal com os operadores e passageiros.