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TCE nega irregularidade em projeto milionário que nunca saiu do papel

Planejamento de complexo cultural custou mais de R$ 37 milhões aos cofres do governo de SP e terreno onde seria construído já tem outra finalidade

São Paulo|Fernando Mellis, do R7

Terreno onde seria obra já ganhou outra destinação
Terreno onde seria obra já ganhou outra destinação Terreno onde seria obra já ganhou outra destinação

A 2ª Câmara do TCE-SP (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo) considerou "legais" e "regulares" três contratos do projeto do Centro Cultural Luz, que jamais saiu do papel. O acórdão foi publicado no Diário Oficial no último dia 4.

O governo pagou mais de R$ 37,3 milhões (R$ 64,5 milhões em valores corrigidos pela inflação) a uma consultoria inglesa e a um escritório de arquitetura suíço pelas plantas e estudos.

Projeto básico custou, à época, mais de R$ 30 milhões
Projeto básico custou, à época, mais de R$ 30 milhões Projeto básico custou, à época, mais de R$ 30 milhões

A proposta de ocupar um terreno na região central de São Paulo com o Complexo Cultural Luz - Teatro de Dança, com 85 mil m², foi apresentada há mais de dez anos, durante o governo de José Serra (PSDB). Os contratos foram assinados em 2010 e 2011. 

A ideia era construir "um teatro para dança e ópera de 1.750 lugares, outro para 600 ocupantes, destinado a recitais e teatro; uma sala experimental para novos formatos com capacidade para 400 expectadores; uma escola de música; uma escola de dança; e salas de ensaio para companhias residentes".

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A consultoria inglesa (Theatre Projects Consultants) foi, com dispensa de processo licitatório, contratada por R$ 3,42 milhões (mais de R$ 5,9 milhões em valores atualizados) para "prestação de serviços de consultoria consistente no planejamento e no desenvolvimento" do complexo.

Em seguida, vieram dois contratos, também sem licitação, com renomado escritório de arquitetura suíço Herzog & De Meuron: um de R$ 3,17 milhões e outro de R$ 30,7 milhões, sendo um para estudos preliminares e o segundo para o projeto básico.

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Em 2014, o R7 noticiou que o governo paulista já havia gasto R$ 49 milhões com o projeto, devido à variação cambial, já que se tratou de contratação internacional.

Ao longo do processo no TCE-SP, auditores da Unidade Especializada de Engenharia emitiram parecer contrário à contratação do Herzog & De Meuron para a elaboração do projeto básico, "por entender que há escritórios nacionais com capacidade e reconhecimento internacional para execução do objeto, sugerindo que a solução mais adequada seria o concurso", destacou o relator, auditor-substituto de conselheiro Antonio Carlos dos Santos — que ocupa a função do titular, Robson Marinho.

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Teatro principal teria 1.750 lugares
Teatro principal teria 1.750 lugares Teatro principal teria 1.750 lugares

Em seu voto, Santos concordou com os argumentos do governo de que as características do projeto "demonstram o ineditismo e complexidade do objeto, conferindo-lhe a natureza singular exigida pela lei", o que justifica não ter havido concorrência pública nas contratações.

"Vê-se, assim, que ambas as empresas contratadas gozam de expertise comprovada, premiações e reconhecimento internacional, atributos suficientes para qualificá-las como altamente especializadas, preenchendo, de modo inquestionável, o requisito da notória especialização."

Passados mais de nove anos, o terreno onde seria construído o Complexo Cultural Luz já ganhou outra destinação: moradias populares e um hospital da mulher — este último ainda será construído.

Por este motivo, o conselheiro do TCE fez um alerta para que a Secretaria Estadual da Cultura "reavalie todas as questões que possam interferir direta ou indiretamente na implementação da obra do Complexo Cultural Luz - Teatro da Dança, cujos estudos preliminares e projeto básico, objeto dos contratos nºs 275/2008 e 14/2010, já foram concluídos e pagos pela Administração".

"A não utilização de tais projetos, reprise-se, concluídos e pagos, certamente resultará em efetivo dano ao erário, à vista do alto custo despendido com sua elaboração."

O então secretário estadual da Cultura, João Sayad, e a secretaria negaram ao longo do processo qualquer irregularidade na contratação.

Procurada, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa de São Paulo informou "que ainda não foi notificada da decisão do TCE".

"Assim que acontecer, tomará imediatamente as medidas cabíveis. A atual gestão reitera seu compromisso com a transparência, a ética e o uso adequado e responsável de recursos dos contribuintes."

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