Terreno em SP onde obra desabou foi vendido por R$ 800 mil
Área pertencia a uma família e foi avaliada em R$ 377 mil em um inventário
São Paulo|Fernando Mellis e Thiago de Araújo, do R7


O terreno onde dez operários que trabalhavam em uma obra morreram, na terça-feira (27), na zona leste de SP, foi comprado pela empresa JAMS Empreendimentos Agrícolas LTDA no valor de R$ 800 mil, no dia 4 de março deste ano. Dez dias depois, a Magazine Torra Torra São Mateus LTDA foi constituída comercialmente. A rede de lojas havia alugado o futuro prédio que seria construído naquele local, onde funcionaria uma loja de roupas. No entanto, o estabelecimento passaria a ter responsabilidade pelo prédio a partir da conclusão das obras, segundo o Torra Torra.
De acordo com documentos de registro de imóveis que o R7 teve acesso, o espaço, onde já funcionou um posto de combustíveis, pertencia a uma família. Com a morte de um dos membros, em 2004, foi feito o inventário do terreno. Os registros mostram que o imóvel estava avaliado em quase R$ 377 mil, no dia 28 de maio deste ano, quando foi feita a partilha judicial entre os familiares.
A JAMS pertence aos empresários Mostafá Abdallah Mustafá, Ali Abdallah Mustafá e Samir Abdallah Mustafá. Na Junta Comercial de São Paulo, a JAMS tem como objeto social “incorporação de empreendimentos imobiliários” e “compra e venda de imóveis próprios”.
Apesar de o negócio dos Mustafá estar ligado ao ramo imobiliário, eles também têm empresas registradas que seriam de vestuário, mesma área de atuação do Torra Torra, e localizadas próximas umas das outras e até da futura unidade do Magazine.
Após multar e embargar obra na zona leste, fiscal da prefeitura pediu exoneração
Um dos sócios, Samir, aparece na Receita Federal como dono da empresa Samir Abdallah Mustafá – ME, ou Popular Center, que consta como ativa desde 1990, na avenida Ragueb Chohfi, 3.226, no Parque Boa Esperança.
No mesmo ramo, Mostafá também abriu um negócio, no ano de 2003, segundo a Junta Comercial. A Mostafá A. Mustafá – ME consta nos registros oficiais como localizada na avenida Ragueb Chofhi, 3.390, a poucos metros da loja de Samir. O objeto social é “comércio varejista de roupas, calçados e móveis decorados”.
Após o acidente, que deixou ainda 26 feridos, o advogado dos Mustafá garantiu que a JAMS não tem qualquer relação com o desabamento e que era apenas a locadora do imóvel para o Torra Torra, que seria o responsável pelas obras em andamento. Do outro lado, a rede de lojas nega que tenha responsabilidade e diz que assumiria o prédio apenas após a conclusão da construção. Especialistas ouvidos pelo R7 não descartaram as duas possibilidades e disseram que se tratam de práticas comuns.
A Polícia Civil deve intimar nos próximos dias os engenheiros e a arquiteta envolvidos com a obra, na avenida Mateo Bei. Um dos operários ouvidos nesta semana disse que teve conhecimento de uma reunião ocorrida três dias antes do desabamento. No encontro, segundo relatos dele à polícia, estavam presentes: dois engenheiros, um da JAMF e outro da Salvatta — empreiteira que fazia as obras no local — e a arquiteta, que seria da Torra Torra. Eles teriam discutido sobre o perigo de a estrutura desabar.
O objetivo da polícia é saber que tipo de trabalho estava sendo feito no local, já que a subprefeitura não havia dado autorização para a construção. O responsável já havia sido multado por duas vezes e a obra embargada administrativamente, por falta de documentação.
Procurado pelo R7, o advogado Edilson Carlos dos Santos, que representa os Mustafá, não foi localizado para comentar a relação dos empresários com o Torra Torra. A assessoria de imprensa da rede de lojas também não quis comentar o caso.