Brasil gasta menos de um dólar com saúde por dia por habitante
Valor é de R$ 3,48, segundo levantamento do Conselho Federal de Medicina divulgado nesta terça-feira (13); quantia é dez vezes inferior ao do Reino Unido
Saúde|Deborah Giannini, do R7
Menos de um dólar ou, mais precisamente, R$ 3,48 ao dia. Esse é valor per capita que o governo utiliza em seus três níveis de gestão — federal, estadual e municipal — para cobrir as despesas com saúde de mais de 207 milhões de brasileiros.
O dado faz parte de um levantamento realizado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgado nesta terça-feira (13). Segundo o estudo, no ano passado, o gasto em saúde por pessoa durante um ano foi de R$ 1.271,65.
Dez vezes menos que o Reino Unido, por exemplo. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), em 2015, ano do boletim mais recente, o investimento foi de R$ 13.128 (US$ 3.500). De acordo com o órgão, o gasto no Brasil no mesmo período foi de R$ 1.252,86 (US$ 334).
O Brasil também está abaixo do patamar de outros países com sistema universal de saúde, como França, R$ 11.946 (US$ 3.178), Canadá, R$ 12.461 (US$ 3.315) e Argentina, R$ 2.682 (US$ 713).
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O estudo, que faz uma análise dos últimos dez anos, mostra que, apesar de o investimento do Brasil ter apresentado um aumento médio de 3% ao ano entre 2008 e 2017, ainda assim está defasado em relação ao indicador que mede a inflação oficial do país, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).
“Mesmo tendo ganhos médios de 3% ano, nesse intervalo de dez anos, resultando em um acumulado de 26%, a perda do gasto per capita comparado ao medidor inflacionário chega a quase 42%”, diz o estudo.
Segundo avaliação de Carlos Vital, presidente do CFM, o valor continua abaixo do padrão internacional e insuficiente para “responder às demandas crescentes da população, impulsionadas por mudanças nos perfis socioeconômico e epidemiológico”.
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“A maior incidência de doenças crônicas, envelhecimento, acidentes e violência têm gerado maior procura por produtos e serviços de média e alta complexidade. Por outro lado, o aumento de desempregados, que fez com que quase 3 milhões de brasileiros abandonassem planos de saúde, repercutiu na procura por atendimentos básicos”, afirmou Vital, por meio de nota.
Pará apresenta o menor valor per capita
O Conselho Federal de Medicina estabeleceu um ranking entre os Estados e cidades em relação ao valor gasto com saúde por pessoa durante um ano.
O Estado com o menor valor per capita foi o Pará, com R$ 703,67. Já Roraima, aparece em primeiro lugar, com R$ 1.771,13.
Outros Estados que apresentaram valores acima da média nacional foram Mato Grosso do Sul (R$ 1.496,13), Tocantins (R$ 1.489,18) e Acre (R$ 1.306,91).
Estados com alta densidade populacional e índices elevados de desenvolvimento econômico apresentaram índices menores. São os casos de Mato Grosso (R$ 1.243,84), São Paulo (R$ 1.235,15), Rio Grande do Sul (R$ 1.207,13), Rio de Janeiro (R$ 1.194,19), Paraná (R$ 1.129.36) e Minas Gerais (R$ 1.011,21).
Na base do ranking, além do Pará, estão Maranhão (R$ 750,45), Bahia (R$ 777,80), Alagoas (R$ 863,18), Ceará (R$ 888,71) e Amazonas (R$ 907,82).
Também apresentaram média inferior a R$ 1.000 ao ano por habitante Pernambuco (R$ 908,68), Goiás (R$ 910,60), Paraíba (R$ 912,11), Sergipe (R$ 936,96) e Rio Grande do Norte (R$ 948,99).
Cidade de São Paulo dispõe do maior índice
Já referentes aos municípios, os melhores desempenhos observados foram em São Paulo (R$ 601,98), Mato Grosso do Sul (R$ 567,74), Mato Grosso (R$ 502,22), Santa Catarina (R$ 471,91) e Paraná (R$ 470,93).
Já nas últimas posições ficaram as cidades do Amapá (R$ 141,55), Acre (R$ 170,76), Pará (R$ 206,55), Maranhão (R$ 225,09) e Alagoas (R$ 241,38). O parâmetro nacional foi de R$ 403,37.
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“Enquanto os municípios brasileiros aumentaram gradativamente sua participação na composição das despesas públicas, os Estados, aos poucos, têm retraído sua presença proporcional nas contas da saúde”, afirmou o conselheiro do CFM, Hermann Tiesenhausen, por meio de nota.
Ele ressalta que a falta de reajuste nas contas da saúde prejudica a compra de equipamentos e medicamentos e a realização de obras na rede pública.
“São menos leitos, menos UTIs, menos médicos e mais tempo de espera por cirurgias eletivas, consultas e exames. Ou seja, a população arca diretamente com as medidas adotadas na esfera governamental. Além disso, há o comprometimento da imagem do SUS, que passa a ser mal avaliado por seus usuários”, afirmou.
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