Carne criada em laboratório deve chegar ao mercado até 2021
Carne feita a partir de células de vaca evita abate de animais, aquecimento global e falta de comida no mundo; hambúrguer será produto de estreia
Saúde|Deborah Giannini, do R7
A carne criada em laboratório deve chegar ao mercado até 2021. A startup holandesa Mosa Meat, fundada pelo cientista Mark Post, que carrega o título de ter produzido o primeiro hambúrguer do tipo no mundo, pretende ser a primeira a comercializá-la.
Com a proposta de evitar o abate de animais, o aquecimento global e a falta de comida no mundo, a carne criada em laboratório é produzida a partir de células do próprio animal.
Como se tratam das mesmas moléculas, o sabor da carne cultivada, como é chamada, e da carne de vaca original é o mesmo, segundo o fabricante.
A carne cultivada não envolve qualquer modificação genética. “Como as células estão simplesmente fazendo o que fariam dentro do animal, não há necessidade de modificá-las. Além disso, os alimentos transgênicos são proibidos em grande parte da Europa, onde a Mosa Meat está localizada”, informa a empresa em seu site.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a demanda por carne deve aumentar em 70% até 2050, e os atuais métodos de produção não são sustentáveis. “Se quisermos continuar a comer carne, precisamos de um método de produção mais eficiente”, diz a starup.
Além disso, a pecuária contribui para o aquecimento global. Os gados liberam metano, um gás de efeito estufa até 30 vezes mais potente que o dióxido de carbono. “Muitas pessoas não vão querer se tornar vegetarianas, porque os substitutos à base de plantas nunca serão exatamente os mesmos em sabor e textura como a carne. Portanto, precisamos olhar para todos os caminhos possíveis para substituir o gado, incluindo a carne cultivada”, afirma.
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O primeiro hambúrguer de carne de laboratório, criado em 2013 pela Mosa Meat, teve um custo de 250 mil euros (equivalente a mais de R$ 1 milhão) para ser produzido e foi financiado por Sergey Brin, co-fundador da Google. Atualmente, o valor é de 9 euros (cerca de 40 reais), segundo a startup.
A empresa já conseguiu arrecadar um investimento de 7,5 milhões de euros para produzir a carne cultivada em grande escala, em torno de 100 toneladas por ano. Um dos principais investidores é a Bell Food Group, maior empresa de carnes da Suíça, segundo a startup.
O produto de estreia será carne moída, mais precisamente um hambúrguer, que representa 50% do mercado total de carne, segundo a startup. Ela afirma que, criar uma estrutura 3D, como um bife, é um desafio científico maior.
Outras empresas também estão de olho nesse mercado. Nos Estados Unidos, a Memphis Meats desenvolve almôndegas de carne, frango e pato e a Finless Foods está focada em peixe. Já a SuperMeat, em Israel, produz carne de frango.
A Mosa Meat informa que iniciou o processo para receber a aprovação da Autoridade Europeia para a Segurança de Alimentos (AESA), que permitirá a venda da carne na Europa.
Carne é feita a partir de células-tronco
A carne cultivada é semelhante à carne de gado, com a diferença que as células crescem fora do corpo do animal. Ela é criada a partir de células-tronco do animal. Essas células são obtidas por meio de uma pequena biópsia do músculo do animal, realizada com anestesia.
A função dessas células-tronco, dentro do organismo, é criar um novo tecido muscular quando o músculo é lesionado. E é esse talento inerente às células-tronco que é utilizado na fabricação da carne cultivada.
As células são colocadas em um meio de cultura. Fatores de crescimento que ocorrem naturalmente adicionados a nutrientes permitem a proliferação dessas células, da mesma forma que ocorre no organismo de um animal.
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Elas proliferam até que sejam obtidas trilhões de células. Esse crescimento ocorre em um biorreator, semelhante aos biorreatores em que são fermentados cerveja e iogurte.
As células se fundem naturalmente gerando filamentos de tecido. Cerca de 800 milhões de filamentos de tecido são suficientes para produzir 80.000 kg de carne de vaca, por exemplo. No microscópio, a carne cultivada é uma carne real, indistinguível do tecido da carne de vaca, porco ou galinha.