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Crianças com mães depressivas têm 8 vezes mais chances de desenvolver depressão e ansiedade na adolescência

Cérebro dos filhos sofre alterações; conscientização de médicos e pacientes é importante

Saúde|Ana Luísa Vieira, do R7

Nas crianças, área do cérebro relacionada às memórias fica comprometida
Nas crianças, área do cérebro relacionada às memórias fica comprometida

Crianças em contato com mães depressivas têm até oito vezes mais chances de desenvolver síndromes como depressão e ansiedade na adolescência. É o que afirma o psiquiatra Kalil Duailibi, professor do curso de residência médica em psiquiatria da Universidade de Santo Amaro.

— Existe um estudo canadense que mostra que, se a mãe de uma criança tem um quadro depressivo sem tratamento por um tempo [superior a três meses, por exemplo], as chances de seu filho desenvolver depressão e ansiedade quando adolescente são entre quatro e oito vezes maiores em relação ao restante da população. É o contato contínuo com a depressão que afeta a criança. 

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O especialista aponta que, quanto mais nova é a criança, maiores os impactos a longo prazo da depressão da mãe em sua vida. Segundo Kalil, as pesquisas demonstram que o volume do hipocampo [área do cérebro relacionada à formação e armazenamento de memórias] desses filhos fica menor.


— Geralmente, isso é identificado com exames de volumetria por ressonância magnética feitos no cérebro, que mostram o estado da estrutura cerebral. Os neurônios ali não morrem, mas se atrofiam. Com a melhora da mãe, o hipocampo do filho volta ao normal. O problema é que, quanto mais duradouro o quadro depressivo da paciente, maior a gravidade da situação e menor a criança, vai levar muito mais tempo para que essa normalidade do cérebro seja retomada. Aí crescem os riscos desse filho ter depressão e ansiedade quando adolescente.

Para o psiquiatra, é imprescindível que haja uma conscientização da população e também da classe médica quanto aos sinais iniciais da depressão e à importância do tratamento.


— Quando o quadro já atingiu um estágio severo, todo mundo percebe. Mas antes disso, sintomas como insônia, dificuldade de concentração e tristeza persistente merecem atenção. Porque às vezes a mulher e mesmo os médicos pelos quais ela e seu filho passam frequentemente [ginecologista, pediatra] pensam que é só um problema pontual em casa ou no trabalho, mas a situação é mais complexa. Então o melhor caminho é realmente a conscientização da população e a educação médica continuada.

Doença preocupa Brasil e mundo


Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que 10% da população mundial sofre com a depressão. Neste grupo, o número de mulheres afetadas é duas vezes maior que o de homens. “O número de pacientes é muito maior do que aqueles graves, que já estão internados, com tendências suicidas”, lembra Teng Chei Tung, doutor em psiquiatria pela USP (Universidade de São Paulo).

O problema das crises depressivas é que, a longo prazo, elas podem causar pioras em males de saúde já estabelecidos — problemas do coração, disfunções hormonais e diabetes — e tornar o indivíduo incapaz de trabalhar ou realizar tarefas básicas do dia a dia, de acordo com Tung.

— O ônus para a família do paciente e para a sociedade é enorme. A depressão gera maiores custos para os governos e para as políticas de saúde, por conta dos gastos em atendimentos médico-hospitalares e produtos farmacêuticos. Os custos anuais estimados em todo o mundo são de US$ 1 trilhão [mais de 314 trilhões de reais].

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No mercado de trabalho, a depressão está relacionada a transtornos com empregados que faltam ao serviço por conta da doença ou indivíduos que conseguem ir trabalhar, mas veem seu desempenho e produtividade reduzidos. “Existe também um estudo da USP que mostra que, no Brasil, entre 17% e 20% da população vai sofrer de depressão pelo menos uma vez na vida”, completa o doutor em psiquiatria.

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