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Falta de cloroquina causa internação de pacientes com lúpus

Reumatologista relata complicações causadas pela interrupção do tratamento e obstáculos para conseguir medicamento em meio à pandemia de covid-19

Saúde|Nayara Fernandes, do R7

Explosão de preços está entre principais obstáculo de acesso ao medicamento
Explosão de preços está entre principais obstáculo de acesso ao medicamento

A falta de hidroxicloroquina, medicamento utilizado no tratamento do lúpus, está levando a um aumento na internação de pacientes com a doença, conforme relata o reumatologista João Alho.

Ele afirma que está com cinco pacientes com lúpus internados em estado grave em Santarém, no Pará, sendo a média de internações, segundo ele, de uma a cada 20 dias, pois não encontraram o remédio nas farmácias. 

No tratamento de lúpus, a cloroquina é essencial para estabilizar a doença, que ataca o sistema imunológico: a paralisação dos rins, artrite, problemas pulmonares e hematológicos são algumas das complicações decorrentes da interrupção da medicação.

Embora não tenha eficácia comprovada contra o novo coronavírus — e seus testes já tenham sido suspensos pela OMS — a pandemia fez com que a medicação “valesse ouro”. O Pará é um dos Estados brasileiros com mais casos de covid-19.


Pesquisa demonstra que cloroquina não é eficaz contra covid-19

“Antes de estourarem os casos de coronavírus no Brasil já haviam relatos de desabastecimento no mercado americano. Colegas reumatologistas já falavam sobre isso, então já começamos a alertar os pacientes sobre a estocagem. É claro que as pessoas não tinham condições financeiras, já que uma caixa para o mês de tratamento custava em torno de R$ 80”, explica.


De acordo com o reumatologista, a caixa do remédio está custando em torno de R$ 120 nas farmácias de Santarém, demorando de 30 a 40 dias para chegar. Na rede pública, não falta medicação, mas o processo burocrático para conseguí-la já fazia com que os pacientes recorressem às drogarias. Agora, segundo João Alho, “existe uma peregrinação pelas farmácias.”

“Quando sabemos que a medicação chegou em algum local, até em cidades vizinhas, todos correm para lá. É bizarro porque são pessoas que estão muito doentes e têm que se humilhar para conseguir um remédio”, desabafa Alho, que já teve que optar pelo tratamento domiciliar para seus pacientes por conta do risco de falta de leitos devido ao colapso do sistema de saúde.


Em São Paulo, a corrida pela cloroquina também têm afetado o trabalho e a saúde da farmacêutica Gilza Santos, 33, portadora de Lúpus há 3 anos. Há meses, ela nota não só a diferença de pedidos em sua farmácia de manipulação, como também a explosão nos preços dos fornecedores.

“Antes, o grama da cloroquina saía em torno de R$ 0,70, agora chegou a R$ 8,90. Geralmente a fórmula da medicação é combinada com predinisona e paracetamol. A receita está saindo em torno de R$ 430”, detalha.

Segundo Gilza, o grama da cloroquina é comprado pelos fornecedores em dólares e vendido aos farmacêuticos em reais. Ela conta que tem presenciado pacientes tentando racionar as receitas para poder arcar com o custo da medicação. O acesso à receita em meio à pandemia também está entre os obstáculos.

“No momento em que a medicação passou a ser vendida com receita, a pandemia já havia estourado e os médicos já estavam fora dos consultórios, de forma que muitos pacientes não tinham nem como conseguir a prescrição”, diz.

Embora ainda não haja uma comprovação cientifica, vários estudos estão sendo feitos pelo mundo e a cloroquina é avaliada por muitos médicos como um medicamento promissor contra a covid-19.

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