Médicos alertam para uso indiscriminado de cloroquina
Infectologistas destacam pequena amostragem de estudos e, por efeitos colaterais, orientam pacientes a evitarem automedicação contra coronavírus
Saúde|Guilherme Padin, do R7
O uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no combate ao novo coronavírus foi autorizado pelo governo federal, na última sexta-feira (27), para pacientes graves com covid-19, mas divide a opinião da comunidade médica e científica.
Um estudo feito na França obteve resultados positivos no combate ao novo vírus. Pela pequena amostragem da pesquisa, porém, o medicamento ainda não é tido como uma solução para a pandemia. O Ministério da Saúde afirma que o fármaco pode ter efeitos adversos e é indicado apenas em casos específicos.
Infectologistas ouvidos pela reportagem do R7 alertam para os riscos do uso indiscriminado da hidroxicloroquina e demonstram precaução ao falar sobre possíveis resultados positivos. Segundo eles, uma maior amostragem é necessária para comprovar a eficácia do tratamento.
“Precisamos de mais pacientes nestes testes, provavelmente acima de mil. Existem cálculos estatísticos para isto”, afirma o médico infectologista Renato Grinbaum.
Para Munir Ayub, consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), “o estudo na França foi feito com uma pequena quantidade de pessoas. Não dá pra extrapolar o resultado de lá para todos os pacientes com coronavírus. Mais uns 20 dias ou um mês, no máximo, e creio que teremos uma avaliação precisa”.
Após as notícias sobre a eficácia dos testes em outros países, o remédio usado no tratamento de outras doenças teve um aumento na procura e chegou a acabar em farmácias pelo Brasil. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) liberou o uso para pacientes hospitalizados e em estado grave, e determinou a dosagem específica da droga — seis dias de tratamento. Entretanto, a agência ressaltou os efeitos colaterais e proibiu a automedicação.
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De acordo com Ayub, é preciso cuidado ao tratar do assunto, já que a automedicação pode ter consequências graves. “Desde que vazaram a eventual eficiência, houve uma corrida às farmácias e esse medicamento praticamente desapareceu. Está fazendo falta aos pacientes que fazem uso crônico dessa medicação e precisam dela”, explica.
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O infectologista Leonardo Weissmann ressalta que a automedicação é contraindicada devido “aos inúmeros efeitos adversos do medicamento, como problemas nos olhos, alterações no sangue, alterações emocionais, problemas no fígado e no coração, náuseas, vômitos e diarreias, entre outros”.
O uso da medicação deve ser feito sob orientação médica e, por enquanto, é indicado apenas a pacientes em estados graves. “O uso indiscriminado pode trazer efeitos colaterais graves, e não é interessante neste momento”, conclui Ayub.
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Derivada da cloroquina, mas com ação menos tóxica, a hidroxicloroquina é geralmente indicada a pacientes com malária, doenças como artrite reumatoide e lúpus, além de problemas de pele. “A liberação para uso em pacientes graves no Brasil é uma terapia experimental”, relembra Weissmann.
Se confirmada a eficácia, Ayub diz que seria uma medida positiva por ser “um medicamento barato, facilmente produzido e que rapidamente poderia ser colocado no mercado”. Mas, prossegue o médico, “é necessário que concluam os estudos antes”.
Em nota, a SBI se refere ao uso da hidroxicloroquina para tratamento da Covid-19 como uma terapia de salvamento experimental. O uso, segundo o comunicado, “deve ser individualizado e avaliado pelo médico prescritor, preferencialmente com a participação de um infectologista, avaliando seus possíveis efeitos colaterais e eventuais benefícios”.
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Como destaca o texto da entidade, há diversos efeitos adversos ao uso da hidroxicloroquina: discrasia sanguínea (coagulação do sangue de modo inadequado), distúrbios gastrintestinais (náuseas, vômitos, diarreia), fraqueza muscular, labilidade emocional (alterações emocionais repentinas), erupções cutâneas, cefaleia, turvação visual, descoloração do cabelo ou alopecia e tontura.