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Médicos recomendam seis vacinas a afetados por enchentes no RS, mas duas estão em falta

São prescritas imunizações contra Covid, influenza, hepatite A, tétano e raiva, além da tríplice, que combate sarampo, rubéola e caxumba

Saúde|Emerson Fonseca Fraga, do R7, em BrasíliaOpens in new window

A prescrição das seis vacinas consta em uma nota técnica divulgada nesta semana pela SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).
Faltam imunizantes contra hepatite A e Covid-19 Gustavo Mansur/Governo do RS — 5.5.2024

Das seis vacinas recomendadas por médicos para os afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul — Covid-19, influenza, hepatite A, tétano e raiva, além da tríplice viral, que combate sarampo, rubéola e caxumba —, duas estão em falta no estado, diz o infectologista Alessandro Pasqualotto, doutor em medicina pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e membro da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia). “Falta vacina para Covid-19, apesar de existirem esforços dos governos, e não tem vacina contra hepatite A para todos”, lamenta o profissional, que atua na Santa Casa de Porto Alegre.

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A prescrição das seis vacinas consta em uma nota técnica divulgada nesta semana pela SBI em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria, a Sociedade Brasileira de Imunizações, a Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade, a Sociedade Gaúcha de Infectologia e a Associação Brasileira de Medicina de Emergência. O documento orienta profissionais da saúde sobre como agir durante a crise climática no Rio Grande do Sul.

“A vacinação tem que ser para todos, porque a água contaminada pode chegar, inclusive, às pessoas que estão em casa — seja na hora da limpeza, seja na hora de tomar água que não esteja purificada devidamente”, alerta o especialista. Enquanto não há vacina para a totalidade dos pacientes, o foco são os socorristas que atuam nos resgates.

Os socorristas são o foco principal das vacinas, especialmente os que têm machucados na pele. São pessoas que, geralmente, entraram na água até o pescoço.

(Alessandro Pasqualotto, infectologista)

Tendo em vista a escassez das duas vacinas, o Ministério da Saúde orienta, por ora, a vacinação apenas de pessoas em locais onde haja pelo menos dois casos confirmados de hepatite A. No caso da Covid-19, a ordem da pasta é vacinar quem não tem o esquema completo. “Pela SBI, vacinaria todos os adultos. O ministério orientou vacinar apenas pessoas próximas a pelo menos dois casos confirmados da doença. É de certa forma compreensível, porque existe uma escassez de vacina de hepatite A, mas não é o ideal”, diz Pasqualotto.


A instrução do Ministério da Saúde está em nota técnica da pasta divulgada nessa quinta-feira (16). Além de prever a restrição da vacina contra a hepatite A, o documento não inclui a vacinação em massa com a tríplice viral. Questionada sobre esses dois pontos e sobre a falta de vacinas contra a Covid-19, a pasta respondeu com a seguinte nota:

“O Ministério da Saúde informa que não há desabastecimento das vacinas recomendadas para a população afetada pelas enchentes no Rio Grande do Sul. A pasta está atendendo prontamente a todas as solicitações feitas pelo estado, respeitando a capacidade de recebimento e armazenamento da Rede de Frio estadual.


Por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), o Ministério da Saúde enviou, no último dia 5 de maio, 200 mil doses das vacinas contra tétano, difteria, hepatites A e B, coqueluche, meningite, rotavírus, sarampo, caxumba, rubéola, raiva e picadas de animais. As vacinas de Covid XBB foram entregues ao estado nesta quinta (16).

Em relação às vacinas de hepatite A, foram entregues um total de 17.500 doses da vacina destinadas a crianças e 3.000 doses do imunizante para o público específico do CRIE (Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais).”


Crise de informação

Alessandro Pasqualotto diz que, além da falta de vacinas e outros produtos, há uma crise de informação no estado.

Toda hora chega mensagem perguntando como é que pega remédio, vacina, insumo. Os serviços, a maioria está funcionando, mas a gente vive uma crise de informação do sistema de saúde. Tanto de profissionais da saúde quanto de pacientes.

(Alessandro Pasqualotto, médico infectologista)

Guia de saúde

Para tentar amenizar o problema, Universidade de Caxias do Sul e a Sociedade Gaúcha de Infectologia, com o apoio de entidades do setor, lançaram um guia de saúde que serve tanto para profissionais da área quanto para potenciais pacientes. O texto orienta, por exemplo, em quais situações é essencial procurar ajuda médica.

O documento (baixe aqui a íntegra) explica as principais doenças transmitidas por água suja e em ambientes com superlotação. São elas:

• Leptospirose;

• Hantavirose;

• Toxoplasmose;

• Raiva;

• Leishmaniose;

• Diarreia aguda;

• Hepatite A;

• Ascaridíase;

• Difteria;

• Coqueluche;

• Meningite;

• Tuberculose.

Combate à leptospirose

Um dos principais riscos de quem tem contato com a água contaminada corre é contrair leptospirose, conhecida como “doença do rato”. Segundo o guia da SBI, a doença é “causada por uma bactéria chamada Leptospira, transmitida ao homem pela urina de roedores por meio do contato com a pele com lesões (mesmo pequenas) e as mucosas (olhos, nariz e boca). Outros animais (bois, porcos, cavalos, cabras, ovelhas e cães) também podem adoecer e, eventualmente, transmitir a bactéria para seres humanos”.

O infectologista Alessandro Pasqualotto e outros médicos da região têm recomendado tratamento preventivo com antibióticos a quem teve contato com a água suja. “A estratégia de fazer um diagnóstico precoce não funcionaria, porque as pessoas não estão tendo acesso aos estabelecimentos de saúde. Então, pode haver o uso de antibióticos preventivamente”, orienta.

Deve-se suspeitar de leptospirose quando houver contato com águas contaminadas com urina e fezes de animais e sintomas como febre; náuseas/vômitos; dor muscular, principalmente, nas panturrilhas; falta de apetite; dor de cabeça intensa; lesões hemorrágicas na pele; amarelão na pele; e mucosas.

('Guia de Cuidados com a Saúde', da Universidade de Caxias do Sul e Sociedade Gaúcha de Infectologia)


Números da tragédia

Até as 18h dessa quinta-feira (16), 461 dos 497 municípios do estado já haviam sido afetados pelas enchentes. A Defesa Civil já confirmou 151 mortes. Há ainda 806 feridos e 104 desaparecidos. Pelo menos 2.281.830 de pessoas já foram afetadas. Entre elas, 77.199 estão em abrigos, e 540.192, desalojadas.

As inundações ocorrem desde a última semana de abril e atingem, principalmente, Porto Alegre e municípios da região metropolitana, como Eldorado do Sul e Canoas. Equipes de resgate e voluntários trabalham sem intervalo para socorrer moradores e animais domésticos ilhados.

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