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Quase morri por uma dor de dente!

Jornalista precisou ser internada às pressas por causa de um molar extraído

Saúde|Marcella Franco, do R7

Assim como qualquer ser humano normal, não vou ao dentista nunca. Quer dizer, até vou, mas é preciso que algo de grave e horroroso esteja acontecendo para que eu ligue e marque uma consulta: uma dor medonha, uma gengiva sangrando, um pedaço de obturação que se solta, um dente que pede as contas e resolve cair. Foi essa a causa da minha última visita ao doutor — um molar em frangalhos. E foi por ele, também, que começou uma tortura que, mais que alguns milhares de reais, também quase me tirou a vida.

A história começa com um espetinho de carne comprado na loja de construção da Marginal Tietê, em São Paulo. E isso anos atrás, uns dois, pelo menos. Mordi a carne borrachuda e, pronto, mastiguei meu segundo molar superior inteiro junto com o contrafilé de segunda. Não sei qual estava mais duro.

Sobraram as raízes, que desgraça pouca é bobagem, e óbvio que o dente não ia cair inteirinho e facilitar a minha vida. Por preguiça, pobreza e punição, adiei a visita ao dentista e aprendi a conviver com aquele toco rente à gengiva, triturando os alimentos sempre do outro lado da boca. Afeiçoada a ele, fiquei tranquila, achando que viveríamos juntos e felizes para sempre.

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Mas não. Com uma dor repentina, agendei a consulta e, deitada naquela cadeira gelada do dentista, em meio às dezenas de instrumentos de tortura que ele exibe na mesinha, descobri que seria preciso extrair as raízes o quanto antes, pois havia acima delas um pequeno foco de infecção.

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Como disse, não sou uma grande entusiasta de tratamentos odontológicos, mais por medo do que por qualquer outra coisa. Mas também já tive lá uma boa cota de intervenções com motorzinhos, espátulas, canais e extrações de siso desde a mais tenra infância. De modo que, óbvio, eu sabia que aquele seria um procedimento chato, mas que, no final dele, ainda havia grandes chances de sobrevivência.

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A cirurgia, em si, feita na sexta-feira dia 6 de fevereiro, acabou sendo um tanto dolorosa. Digamos que bem acima do normal. No fim de semana seguinte, trabalhando de plantão na redação, precisei apelar ao analgésico mais do que previu o dentista, e o sábado e o domingo foram à base de pacotinhos e pacotinhos de ibuprofeno arginina.

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Alucinada de dor e ciente de que não era esse o caminho normal de uma recuperação, procurei o dentista na segunda-feira, à beira do Carnaval, e ganhei receitas para um antibiótico e um antiinflamatório. Agora ia, pensei. No entanto, para resumir, mal podia imaginar que aquela seria apenas a primeira de outras quase vinte visitas em vão ao consultório — eu ainda não sabia, mas estava com um problema chamado alveolite.

A alveolite é, em termos leigos, uma complicação relativamente comum depois que se arranca um dente. Há a do tipo seca e a purulenta, que traz junto secreção. A segunda é quase sempre uma consequência da primeira. Eu, evidentemente, já que esta é uma história trágica, consegui ter as duas, uma seguida da outra. Para resumir, o lugar onde as raízes do meu dente ficavam “presas” ao osso não cicatrizava de jeito algum, o que deixava o buraco exposto e bastante dolorido.

E, por “bastante”, para que você me entenda, eu quero dizer tipo: muito. Pra caramba. Dor extrema, desvairada, enlouquecedora. Cogitei, por dias, métodos indolores e não-letais de arrancar a cabeça fora. Ou de dormir por 24 horas seguidas sem pausa pelos próximos oito meses. Era insuportável. O efeito dos remédios derivados da morfina já não durava mais de 2 horas. Como viver pelo resto do tempo?

O tratamento de uma alveolite compreende curetagens, que são raspagens que o dentista realiza no local da extração na tentativa de que ele sangre, formando, assim, um coágulo que, teoricamente, cicatrizaria o buraco e resolveria o problema. No meu caso, foram cinco dessas, todas sem sucesso. 

Como havia progressivamente quantidades maiores e mais nojentas de pus saindo lá de dentro, os dois dentistas que me atendiam optaram por trocar de antibiótico. E trocar de novo. E de novo, até totalizar seis medicamentos diferentes. O resultado de tanta brincadeira com as bactérias, bichinhos cruéis e sagazes, não podia ser dos melhores.

Uma espécie de túnel chamado fístula se formou entre a gengiva e os seios paranasais (uma cavidade que fica atrás da bochecha), e, além do problema na boca, ganhei também uma sinusite. Nos piores dias, o pus escorria da cara para a língua pelo túnel, especialmente se eu fizesse força ou soprasse alguma coisa — a boia de piscina do meu filho que o diga, coitada, ficou murcha por semanas a fio. Nestes dias, eu andava pela casa com um copinho na mão, onde cuspia a secreção a cada dois ou três minutos.

Além do dentista, eu tinha agora um otorrinolaringologista me atendendo regularmente e, nas horas vagas, também respondendo aos meus chamados apavorados e diários pelo Whatsapp. Eu estava entrando em pânico.

Nesta brincadeira, entre copinhos, melecas, cuspes e ainda muita dor, se passaram quase 30 dias. Até que, em uma manhã, ao tentar levantar da cama, foi como se houvesse um gigante me empurrando de volta para o colchão. Difícil de respirar, impossível de me mexer. Sentia dores nas articulações, muito cansaço, dor de cabeça e sensação de febre. Não havia outra opção a não ser correr para um pronto-socorro.

O diagnóstico: princípio de sepse. A popular infecção generalizada. Uma semana internada tomando antibióticos na veia, já que as tentativas com comprimidos esgotaram todas as possibilidades de tratamento oral existentes no mercado. Fora isso, havia ainda o fantasma de uma possível cirurgia para fechar a comunicação entre o rosto e a boca depois de curada das bactérias.

Pensei em testamento, abracei meu filho, chorei e deixei instruções sobre como limpar o pipicat das gatas. 

No fim, o próprio tratamento da infecção solucionou tudo, e a gengiva cicatrizou sozinha. Mesmo depois da alta hospitalar, a terapia continuou em casa, com quatro medicamentos diferentes e bastante repouso, até que, 36 dias depois da cirurgia, pude, enfim, retomar a vida normal.

Quer dizer, normal nem tanto. Porque ontem, completas duas semanas da suposta recuperação total, um copo d’água gelada fez soar o alerta: dor de dente. De novo. Só que, dessa vez, o problema é no primeiro molar, que ficava colado ao outro, caído e podre em todo o episódio de quase morte.

A mesma sensibilidade, o mesmo arrepio, o mesmo incômodo para mastigar. Tudo igual. A diferença, no entanto, é que, desta vez, a visita ao doutor já está marcada, eu já estou mais preparada, e a dentadura, só por via das dúvidas, também já foi comprada. 

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