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Anjos perversos: Existe criança do mal?

Diagnóstico de psicopatia só pode ser feito na vida adulta

Tecnologia e Ciência|Do R7*

Crianças más existem, mas ainda há o que fazer por elas
Crianças más existem, mas ainda há o que fazer por elas Crianças más existem, mas ainda há o que fazer por elas

Os psicopatas começam a dar sinais de sua personalidade problemática desde muito cedo, afirma a psiquiatra e escritora Ana Beatriz Barbosa Silva, autora do best-seller Mentes Perigosas – O Psicopata Mora ao Lado. Por isso, é preciso estar atento, pois nem toda travessura de criança é tão inocente assim.

Alguns problemas comportamentais como mentiras recorrentes, trapaças e falta de empatia com o sofrimento dos colegas ou dos animais podem ser maus sinais. Entretanto, não quer dizer que a criança seja uma psicopata e nem que ela vá se tornar uma.

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Ana Beatriz explica que a psicopatia é considerada um transtorno de personalidade porque a pessoa já nasce com ele. Ela explica que os psicopatas têm uma espécie de disfuncionalidade do cérebro que impede o funcionamento correto do sistema límbico, responsável pelas emoções. Os psicopatas já nascem com o transtorno e, com o tempo, sua personalidade se manifesta.

— Desde muito cedo, você vê crianças com esse tipo de funcionamento cerebral com indiferença em relação a outras crianças, maltratando animais, tendo uma curiosidade mórbida em matar ou abrir e ver um animal por dentro ou ver um animal sofrendo.

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No filme Anjo Malvado, Macaulay Culkin interpreta uma criança muito má
No filme Anjo Malvado, Macaulay Culkin interpreta uma criança muito má No filme Anjo Malvado, Macaulay Culkin interpreta uma criança muito má

Em seu livro, a psiquiatra relaciona a psicopatia com o bullying. Ela diz que crianças e adolescentes com perfil psicopático costumam intimidar os colegas. Quando isso ocorre no ambiente escolar, pode ser considerado bullying. É importante ressaltar, no entanto, que não é porque um jovem pratica bullying que ele é ou vai se tornar um psicopata.

Criança não pode ser psicopata

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O psicólogo Christian Costa, do Ceccrim (Centro de Estudos de Comportamento Criminal) afirma que o filho de um psicopata não deve necessariamente desenvolver o transtorno, mas as chances existem.

— Os estudos de criminologia mostram que existem entre 20% e 30% de chances de que a criança tenha o comportamento compatível com o pai. Mas não necessariamente o filho de um psicopata vai ser um psicopata.

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Ele ainda explica que o diagnóstico de psicopatia não pode ser feito em crianças, apenas depois dos 18 anos.

— Antes dos 18 anos, apenas podemos dar diagnóstico de transtorno de conduta. Os pais que perceberem isso devem buscar ajuda de profissionais da área de psicologia, da psiquiatria e ficar atentos. E isso não significa que ela será uma psicopata! É importante que fique muito claro.

Educação deve ser rigorosa

A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva defende que o melhor, caso uma criança receba o diagnóstico de transtorno de conduta, é que haja um entendimento de pais, educadores e familiares para que todos se comprometam a estabelecer uma educação com limites bem marcados.

— Não violenta! De jeito nenhum violenta fisicamente. Mas não deixar que ele possa manipular os familiares mentindo para um e outro para obter tudo o que quer.

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A escritora ressalta que a educação é importante porque pode diferenciar a gradação de uma possível psicopatia, determinando se ela será mais severa ou não.

Assim como o ambiente social de uma criança propensa à psicopatia pode levá-la a se tornar um perigoso delinquente na vida adulta, um ambiente favorável e uma educação rigorosa podem levar a um grau mais leve do transtorno.

— Quando os pais se deparam com isso, é um momento muito difícil. A maioria nega esse tipo de comportamento dos filhos, tenta atribuir a alguma influência de amiguinhos ou alguma coisa que viram na televisão, esse tipo de coisa.

Segundo a autora, a estrutura familiar e o ambiente social também não são capazes de transformar ninguém em um psicopata.

Raiva sem limites

Um caso emblemático para lembrar que nem toda criança que demonstra falta de empatia e violência se torna uma psicopata é o de Beth Thomas.

Apesar de parecer uma criança de seis anos normal à primeira vista e encantar com seus lindos olhos azuis, o passado de Beth escondia diversos traumas que fizeram dela uma criança sem empatia e extremamente perigosa.

História de Beth Thomas foi contada no documentário A Ira de um Anjo (Child of Rage)
História de Beth Thomas foi contada no documentário A Ira de um Anjo (Child of Rage) História de Beth Thomas foi contada no documentário A Ira de um Anjo (Child of Rage)

Beth tinha quase dois anos e seu irmão Johnatan tinha sete meses quando foram adotados por um casal dos Estados Unidos em 1984. Aos poucos, a menina começou a desenvolver comportamentos tão estranhos que fizeram com que o casal Tim e Julie começasse a se preocupar com o passado das crianças.

Beth e John sofreram sérios maus-tratos do pai depois que a mãe deles morreu no parto. Os dois não eram bem alimentados, o menino foi encontrado cercado de urina em uma banheira e Beth foi abusada durante meses.

O caso foi contado no documentário A Ira de um Anjo (Child of Rage), de 1992, com o objetivo de alertar para os impactos do abuso infantil na vida das crianças. No filme, foram usadas gravações do psicólogo Ken Magid, especializado no tratamento de crianças severamente abusadas.

A menina machucava seu irmão de propósito com alfinetes, socos e pontapés. Ela chegou a tentar matar o irmão e os pais adotivos durante a noite. A garota também tinha sérios acessos de raiva e queria esfaquear os pais e o pequeno John. Com medo do que a menina pudesse fazer enquanto dormiam, os pais começaram a trancá-la no quarto durante a noite.

Diante da gravidade do caso, o psicólogo determinou que Beth deveria ficar longe de sua família por um bom tempo e ser internada em uma instituição especializada em atender a crianças vítimas de abusos. Beth havia adquirido transtorno do apego reativo, que atinge principalmente bebês e crianças.

Com a intensa terapia, a menina se recuperou e teve a oportunidade de viver uma vida normal. Hoje ela é enfermeira de UTI neonatal e abriu uma clínica com a mãe para tratar de crianças com traumas sérios.

Mary Bell foi condenada aos dez anos por matar dois meninos
Mary Bell foi condenada aos dez anos por matar dois meninos Mary Bell foi condenada aos dez anos por matar dois meninos

Caso trágico

Aos dez anos, a britânica Mary Bell foi condenada por matar dois meninos, um de quatro e outro de três anos, em 1968. Em seu diagnóstico, ela foi descrita como tendo alguns sintomas de psicopatia.

No entanto, em 1980, ela foi liberada sob custódia. Ela obteve o anonimato para recomeçar a vida e teve uma filha em 1984.

Em 2007, aparentemente vivendo uma vida normal, ela aceitou dar entrevista à jornalista Gitta Sereny, que escreveu o livro Gritos no Silêncio sobre sua infância. No relato ela conta que sua mãe tinha sérios problemas mentais e tentou assassiná-la pelo menos uma vez.

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* Amanda Martins, estagiária do R7

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