Após viver um dos anos mais desastrosos da história, a indústria automobilística brasileira tenta focalizar os (ainda tímidos) sinais de retomada da economia. O mês de dezembro foi o melhor de 2016, único a ultrapassar as 200 mil unidades vendidas. Mesmo assim, foi o pior dezembro desde 2008 segundo a Anfavea, o que endossa os resultados ruins dos últimos 12 meses.
O reflexo da crise é visto em praticamente todos os números divulgados pela associação nacional das montadoras. A produção de automóveis e comerciais leves recuou 11% no período, totalizando 2.078.064 veículos montados no País, ante os 2.333.861 modelos entregues em 2015. Somando caminhões e ônibus, a retração foi de 11,2%.
A baixa nos volumes entregues pelas fábricas evidentemente impactou no emprego, que sofreu queda de 7,1% em dezembro frente ao mesmo mês de 2015, com 121.211 profissionais contratados. O número é razoavelmente menor que o registrado em dezembro de 2013, quando a indústria nacional tinha 157 mil empregados. Segundo Antonio Megale, presidente da Anfavea, o nível do emprego depende do cenário econômico.
— Acreditamos que a recuperação vai aparecer mais à frente, quando os investimentos retomarem de forma mais robusta e o nível de confiança do brasileiro voltar a subir. A economia tem que começar a crescer. Para a indústria, a grande virada será quando as fábricas reduzirem a capacidade ociosa. Observamos que a maioria delas está reduzindo o número de demissões e devemos ter uma melhora do cenário quando a economia retomar.
Vídeo: entrevista com Antonio Megale, presidente da Anfavea
Luz no fim do túnel
No balanço da Anfavea, as vendas de veículos podem ter chegado ao "fundo do poço". A queda no acumulado de janeiro a dezembro foi de 19,8% para automóveis e comerciais leves, e 20,2% quando somados caminhões, ônibus e máquinas agrícolas. Somando somente os carros e utilitários, foram emplacadas 1.988.593 unidades em 2016, contra 2.480.529 acumuladas em 2015, quando o mercado já havia sofrido uma retração de 26%.
O único alento de 2016 para as fábricas foram as exportações. Houve um crescimento robusto de 25,7% para os automóveis e comerciais leves, e de 24,7% na indústria geral, influenciado pelo valor ainda elevado do dólar norte-americano. Foram 520.286 veículos enviados ao exterior ante os 417.332 exportados em 2015.
Outro dado positivo é a queda dos estoques. Em dezembro, foram 176,2 mil veículos nos pátios das fábricas, o suficiente para 26 dias. Vale lembrar que, ao longo de 2016, os estoques chegaram a ultrapassar os 50 dias, fazendo as fábricas interromperem a produção, usando instrumentos legais para manter os empregos com as linhas paradas.
— Estamos com várias dificuldades políticas, o cenário é bastante instável, o próprio governou reviu a previsão de crescimento de PIB. Por isso baixamos nossa previsão para o ano. Eu preferia trazer uma visão de crescimento mais robusto, de dois dígitos, mas optamos por trazer uma projeção conservadora e realista neste momento.