A crise financeira da Santa Casa teve seu estopim em junho de 2014
Dario Oliveira/Código19/Estadão Conteúdo/18.12.2014Os membros da mesa administrativa da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo decidiram, durante reunião realizada nesta quarta-feira (28), suspender o plano de demissão de funcionários da instituição. Agora, será realizado um novo estudo de readequação do quadro de trabalhadores.
A possibilidade de demissões tinha ganhado repercussão na mídia como uma das alternativas estudadas pelo hospital para conter a crise financeira pela qual passa desde o ano passado, quando parte dos funcionários não recebeu o 13º salário.
Segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo publicada no ultimo sábado (24), o hospital tinha a intenção de demitir 1.100 empregados administrativos e da assistência à saúde nos próximos dias.
Na reunião administrativa de hoje — a primeira do ano — a mesa também decidiu recorrer à venda de imóveis desalugados que fazem parte da riqueza histórica do hospital. Segundo informou a assessoria de imprensa ao R7, “o dinheiro arrecadado será utilizado para reequilibrar as finanças da Santa Casa”.
Financeira e política
A crise financeira pela qual a Santa Casa passa teve seu estopim em julho de 2014, quando a entidade fechou o seu pronto-socorro por 28 horas por falta de infraestrutura.
Em dezembro do último ano, um rombo no orçamento da instituição fez com que 11 mil funcionários não recebessem o 13º — 669 trabalhadores continuam sem o pagamento, segundo reportagem da Folha de S. Paulo publicada neste fim de semana.
O valor real do déficit do complexo hospitalar chega a R$ 800 milhões, conforme a investigação de técnicos da BDO RCS Auditores Independente.
A situação expôs a gestão do atual provedor (equivalente ao presidente do hospital), o advogado Kalil Abdalla. Ele assumiu a gestão da Santa Casa pelo terceiro mandato consecutivo em abril de 2014.
Frente à crise, em dezembro, Abdalla pediu uma licença de 90 dias. Atualmente, o advogado enfrenta pressão do movimento Santa Casa Viva, liderado por médicos, para renunciar ao cargo. Ruy Altenfelder, vice-provedor, atua hoje como provedor do hospital.
Segundo um médico da Santa Casa entrevistado pelo R7 e que prefere não se identificar, a renúncia de Abdalla antes que ele complete um ano e meio à frente do cargo forçaria a necessidade de novas eleições para a escolha de uma nova gestão administrativa.
— Muitos funcionários que querem a renúncia viram o pedido de licença como uma manobra. Se ele [Abdalla] conseguir tempo para renunciar depois de um ano e meio de mandato, o vice-provedor assume e continua a atual gestão.
Em trecho de nota encaminhado pela assessoria de imprensa, o hospital diz que "o provedor em exercício Ruy Altenfelder está em constante contato com a Secretaria de Saúde e o Governo do Estado de São Paulo com o objetivo de encontrar a melhor solução para contornar a crise financeira e tornar a Santa Casa financeiramente sustentável, de modo que a Instituição possa continuar prestando o serviço de qualidade à população pelo qual sempre foi reconhecida".
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