Americanas afunda mais de 40% e fecha a R$ 1, mas não derruba Ibovespa
Índice de referência da bolsa de SP sobe 0,62% nesta quinta (19), puxado pela Petrobras, graças à alta do preço do petróleo
Economia|Do R7
As ações da Americanas fecharam a quinta-feira (19) valendo R$ 1, depois de uma desvalorização de mais de 40%, no dia marcado pelo pedido de recuperação judicial da companhia. Com o aceite dado pelo juiz Paulo Assed Estefan, da 4ª Vara Empresarial da Comarca do Rio de Janeiro, ela será excluída do Ibovespa e de todos os índices da B3, o que é uma norma que vale para qualquer empresa que entra em recuperação judicial.
O tombo da varejista não comprometeu o resultado do Ibovespa, que subiu 0,62%, a 112.921,88 pontos, maior patamar em cerca de dois meses. O volume financeiro somou R$ 24,9 bilhões. Com a alta do petróleo, a Petrobras foi uma das responsáveis por segurar o índice de referência da bolsa brasileira elevado.
Ainda nesta quinta, o dólar teve redução de parte de seus ganhos, mas avançou ante o real. A moeda à vista subiu 0,23%, a R$ 5,1733 na venda, maior nível de fechamento desde 11 de janeiro (R$ 5,1813). No início do dia, chegou a subir mais de 1%.
Na frente externa, o dólar recuava cerca de 0,30% ante uma cesta de moedas fortes, com o Banco Central Europeu rebatendo apostas do mercado de que desacelerará o ritmo de seus aumentos de juros. No entanto, a moeda-norte-americana apontava ganhos frente a alguns dos principais pares emergentes do real, como o peso mexicano e o rand sul-africano.
O fortalecimento do dólar nesse contexto um dos motivos da recuperação diante do real. Outra razão, segundo especialistas, foi a reação negativa de agentes financeiros às novas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Análises e comentários
"É uma bobagem achar que [o BC independente] vai fazer mais do que quando o presidente indicava", disse na véspera, após o fechamento do mercado de câmbio. Depois, acrescentou que, mesmo com a independência da autoridade monetária, os juros e a inflação continuam altos.
O presidente também afirmou que a meta de inflação obriga o BC a "arrochar" a economia para cumpri-la, e sugeriu um teto maior. Essas falas voltaram a inquietar agentes financeiros, preocupados com a pauta fiscal.
Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, disse que o dólar foi impactado pelo tom geral das declarações, e por movimento no exterior. "Eu ainda acho que [a independência do BC] não vá ser revertida", afirmou.
Na tarde desta quinta, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que não há "nenhuma predisposição" do governo de fazer qualquer mudança na relação com o BC. O movimento de melhora do real ganhou impulso pouco depois, também em meio à perda de força do dólar no exterior.
Quanto à crise da Americanas, para Werner Roger, gestor e sócio-fundador da Trígono Capital, não houve surpresa, uma vez que a própria empresa já tinha afirmado que estava se preparando para tal desfecho, o que pode ter sido acelerado por bancos credores.
"É um evento bastante negativo. Não se sabe como fica a questão envolvendo os fornecedores, se a empresa vai conseguir sobreviver. O processo pode se prolongar", disse.
Rafael Azevedo, especialista em renda variável da Blue3, acredita que mais vendas do papel devem ocorrer depois que a ação deixar o Ibovespa na sexta-feira (20), após o fechamento de mercado, conforme as regras da B3.
Ele ressalta que a recuperação judicial deve afetar o mercado de crédito e alguns fundos de renda fixa de crédito privado, porque a Americanas tinha um grande volume de títulos.
Influências do mercado externo
Roger, da Trígono, avalia que a performance do Ibovespa encontrou respaldo nas commodities, notadamente o petróleo e o minério de ferro, que deram suporte ao papéis da Petrobras e Vale que, sozinhas, respondem por 27% do índice.
Ele destaca que "a vontade do estrangeiro de investir no Brasil é muito grande", e conta que tem ocorrido "um fluxo muito positivo" nesse começo de ano, com os investidores locais vendendo e estrangeiros comprando.
O saldo de capital externo no mercado secundário de ações brasileiro está positivo em cerca de R$ 5 bilhões em 2023, de acordo com os dados da B3 até o dia 17.
Sobre o Ibovespa, a fala de Lula, que chamou de "bobagem" a independência do BC, causou um desconforto inicial, mas acabou tendo um efeito limitado.
Roberto Campo Neto, o presidente da autoridade monetária, em seminário nos Estados Unidos, disse entender que Lula quis dizer que não seria necessário ter a independência do BC prevista em lei para a autonomia funcionar. Ele afirmou que autonomia formal da instituição ajudou a reduzir a volatilidade dos mercados no Brasil e mostrou resiliência.
Em Wall Street, o tom negativo prevaleceu após dados sinalizarem um mercado de trabalho apertado, renovando preocupações de que o Fed (Federal Reserve) vai manter sua trajetória agressiva de aumentos de juros.