Bancos privados seguem Caixa e BB e limitam crédito imobiliário
Além da alta de juros, instituições passaram a exigir entrada maior para financiar a casa própria
Economia|Do R7

Os grandes bancos privados restringiram a oferta de crédito imobiliário, acompanhando o movimento iniciado pela Caixa Econômica Federal, que tenta driblar a falta de recursos na poupança.
Além de elevar os juros mínimos cobrados no segmento, que já começam a valer no mês de maio, também passaram a exigir um maior valor de entrada para financiar a compra da casa própria.
O espanhol Santander anunciou essa semana que o limite do crédito cobrirá no máximo 70% do valor dos imóveis. O teto anterior, de até de 80%, foi mantido apenas para os clientes de alta renda, os chamados Select. Os juros passaram a ser no mínimo de 10,1% ao ano ante taxa de 9,1% a.a. Ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, o Santander explicou que as condições variam conforme o relacionamento com o cliente.
Com 26 mil imóveis encalhados, construtoras de SP apelam às redes sociais e aceitam até carro usado
Drone, carro usado e WhatsApp: construtoras partem para o vale-tudo em busca de clientes
Quem também passou a exigir uma maior entrada foi o Itaú Unibanco, que passou a financiar somente 70% e não mais 80% do valor de avaliação do imóvel residencial, segundo fonte com conhecimento no assunto. A taxa mínima na instituição passou de 9,1% a.a. para 10,2% a.a. As novas condições começaram a valer no dia 13 de maio. Em nota, o banco explicou as novas taxas.
— Os ajustes são necessários para manter o ritmo da nossa operação, garantindo o atendimento às necessidades dos nossos clientes em um momento de aumento de demanda do produto no mercado.
O banco acrescenta ainda que, desde 2012, redirecionou o mix de crédito. Como consequência, destaca o Itaú, a participação do segmento imobiliário na sua carteira passou de 6,1% em março de 2012 para 8,7% em igual mês desse ano. Nesse período, o volume cresceu mais que dobrou, para R$ 30 bilhões.
Já o Bradesco informa que manteve inalterado o limite de entrada exigido, mas elevou os juros. Nas linhas do SFH (Sistema Financeiro da Habitação), que abrange imóveis de até R$ 750 mil, a taxa mínima passou de 9,6% a.a. para 9,8% a.a. Financiamentos acima disso terão juros de 10,3% a.a., ante 9,5%. As taxas valem desde o dia 07 de maio.
— As condições permanecem inalteradas, inclusive, quanto ao porcentual de 80% do valor de avaliação para financiamento de imóveis novos ou usados.
O endurecimento nas condições de crédito imobiliário, até então visto como um dos motores para o crescimento das carteiras, por parte dos bancos privados reflete o momento de crise que o setor atravessa. A expectativa dos grandes investidores é que a linha desacelere este ano, impactada pelo forte movimento de saques na poupança em meio ao aumento dos juros, que torna outras opções mais rentáveis, e da inflação que compromete o poder de renda da população.
De janeiro a abril, os saques da caderneta foram de R$ 29 bilhões, segundo o Banco Central. E o montante não deve parar por aí. A Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) estima que as retiradas alcancem R$ 50 bilhões neste ano.
Leia mais notícias de Economia e ajuste suas contas
Interessados em comprar imóvel dizem que entrada dificulta negócio
Como consequência, o volume de desembolso com recursos da poupança recuou 4,6% no primeiro trimestre, conforme a Associação. Não bastasse isso, fez ainda a Abecip revisar suas projeções. Na melhor das hipóteses, o segmento vai ficar no zero a zero e no pior cenário ter queda de cerca de 11%, para R$ 100 bilhões, ante R$ 112,9 bilhões do ano passado. O presidente da associação observa que o segundo semestre deve ser melhor.
— Desde que fizemos as projeções, as variáveis mudaram totalmente. Tivemos um deslocamento dos juros e uma saída expressiva de depósitos da poupança, de R$ 29 bilhões. No cenário atual, com restrição de recursos, vamos no máximo repetir os desembolsos do ano passado.
A situação mais crítica, porém, está na Caixa Econômica Federal, conhecida como o banco da habitação. Além de ter restringido os empréstimos para a compra da casa própria, financiando no máximo metade do valor no caso de imóveis usados, aumentou os juros por duas vezes.
Sem recursos da poupança, a Caixa tem o desafio de desembolsar o mesmo montante de 2014, quando foram liberados R$ 129 bilhões. Executivos já falam, porém, em um corte bilionário neste ano.
De janeiro a março, o volume de crédito imobiliário contratado na Caixa ficou estacionado. "No primeiro quadrimestre, o volume de empréstimos financiados pelo SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo), do setor bancário como um todo, à exceção da própria Caixa, apresenta queda em relação a 2014. Além disso, a sinalização do mercado de imóveis é de queda na velocidade de vendas em 2015", justifica a Caixa, em nota ao Broadcast.
Venda de imóvel usado e aluguel residencial têm 1ª queda no ano em SP
Mais da metade dos brasileiros espera por queda do preço do imóvel em 2015, diz pesquisa
Além da Caixa, o Banco do Brasil e o Banrisul, que também passou a exigir uma maior entrada, já haviam elevado os juros do crédito imobiliário. Um ponto fora da curva por ter entrado mais tardiamente neste setor, o BB anunciou mudanças, mas para facilitar a contratação.
O banco, que financia até 80% do valor do imóvel, ampliou o prazo de 360 para 420 meses, aumentou as possibilidades de escolha dos sistemas de financiamento e ainda implantou uma metodologia de flexibilização de taxas. Em coletiva de imprensa na semana passada, o vice-presidente de Negócios de Varejo do BB, Raul Moreira explicou a situação.
— A poupança é um ponto de atenção, não de restrição no caso do Banco do Brasil. Temos demanda reprimida na base de clientes, pois não trabalhávamos com imobiliário.
Para evitar uma deterioração ainda mais intensa, bancos e construtoras apelam ao governo por medidas de estímulo ao setor como, por exemplo, a liberação de parte do compulsório e ainda dos recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) aos bancos que ainda não têm acesso.
O momento de ajuste que vive a economia brasileira, com o Banco Central seguindo com uma política monetária restritiva para controlar a inflação, pode fazer com que as propostas não sejam atendidas.
