A mudança na Constituição que o Congresso Nacional pode promulgar ainda nesta semana permitirá ao presidente Bolsonaro (PL) avançar para além de sua faixa de aceitação entre os eleitores e conquistar a boa vontade de uma ampla gama de cidadãos que constituem o eleitorado cativo do ex-presidente Lula há mais de 20 anos. Não existe garantia de transferência de votos de um para outro candidato, mas o aporte financeiro promovido a essa faixa de população, com renda inferior a dois salários mínimos – grupo que reúne 52% dos brasileiros – pode colaborar para reduzir a distância entre Bolsonaro e Lula. A faixa de renda alcançada pela medida de transferência direta de renda – R$ 41 bilhões em quatro meses – é sabidamente o grupo do eleitorado cativo do ex-presidente, desde a criação do então Bolsa Família. O petista chega a ter 60% das intenções de voto nesse grupo, enquanto Bolsonaro alcança índice parecido, mas de rejeição: 59% desses eleitores declaram que não votariam no atual presidente de jeito algum. O desafio da emenda constitucional é “furar a bolha” – isto é, colaborar para reverter em alguma medida esse cenário, desfavorável a Bolsonaro. Aliada a outros fatores, como o esperado freio na inflação, graças à estabilização do preço dos combustíveis, dos alimentos e até da energia elétrica, a chegada do recurso adicional à conta dos brasileiros mais pobres pode ajudar a minorar o mal-estar social provocado pelo aperto no bolso – ônus que cai na conta do titular do Planalto. Após a promulgação da medida, que até o momento tem aprovação certa, inclusive com votos da oposição, o segundo desafio será fazer chegar os recursos às mãos dos beneficiários a tempo de colher os frutos políticos de sua aplicação. O tempo corre contra os gestores da Caixa Econômica e os estrategistas de comunicação, que precisarão vincular a iniciativa ao seu promotor, o chefe do Executivo, para evitar a frustração de seu resultado, faltando menos de três meses para o primeiro turno.