O paradoxo Doria: gestão elogiada e rejeição alta
Reprodução Governo de São PauloNo movimento pré-eleitoral mais importante desde a troca de partido que tirou Sergio Moro da disputa presidencial, a renúncia de João Doria à candidatura à Presidência “tirou uma pedra do caminho”, nas palavras de adversários do ex-governador, mas encerrou um processo inédito de humilhação pública a um importante quadro político no PSDB. A desistência do tucano aprofunda o racha interno na legenda, que abre mão pela primeira vez da disputa pelo protagonismo, desde que Fernando Henrique Cardoso subiu a rampa do Planalto, há 27 anos.
Em reunião da Executiva da legenda, marcada inicialmente para amanhã, em Brasília, mas que acabou cancelada, a cúpula tucana discutiria os rumos do partido, inclusive uma possível indicação do senador Tasso Jereissati para vice na chapa da terceira via, ao lado da emedebista Simone Tebet. A senadora, que nunca se indispôs com Doria, foi rápida na resposta pública, apelando por "união e reconstrução nacional”. O encontro da Executiva ficou para o dia 2 de junho.
O encontro acabou remarcado para daqui a 10 dias - 2 de junho, e será ampliada, com a participação das bancadas de deputados e senadores do partido, na sede do PSDB em Brasília. "A reunião seria com a presença de Doria e trataríamos das deliberações que tivemos em conjunto com Cidadania e MDB", informou o líder da Câmara, Adolfo Viana. "Após o gesto de grandeza de Doria, esta reunião se tornou inóqua", declarou.
Por ora, está descartada a volta de Eduardo Leite à disputa pela indicação do PSDB. “O projeto de Leite está consolidado como candidato a governador do RS, numa aliança forte com Ana Amélia Lemos”, afirma um tucano ligado à ala anti-Doria. “Eles vão garantir um palanque forte para a Simone lá.” Sobre o destino do paulista no PSDB, a resposta é vaga: “Doria participará do que quiser”.
Ala do partido liderada por Aécio Neves (MG) defende a volta da candidatura de Leite. Por enquanto, o ex-governador do Rio Grande do Sul não deu indicativos sobre o que pretende fazer, e postou uma mensagem de apoio a Doria.
O episódio da desistência de ex-governador de São Paulo respinga em tucanos históricos e até mesmo no patrono e líder da legenda, Fernando Henrique, que se posicionou publicamente em apoio ao paulista. A reviravolta também ameaça o desempenho do partido no principal colégio eleitoral do país, São Paulo, onde os tucanos mantêm uma espécie de cidadela, com sucessivas gestões do estado. Doria tem o controle e o apoio de grande número de prefeitos. O atual governador, o neotucano e candidato Rodrigo Garcia vem buscando se desvincular da imagem do antecessor, que tem alto índice de rejeição, superior a 50%.
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