Beltrame saiu porque estava cansado, diz Pezão
Rio de Janeiro|Do R7
O governador licenciado do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), atribui a saída do secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, a cansaço e não aos problemas financeiros que o Estado enfrenta - e que podem deixar os policiais sem salário nos próximos meses. Em entrevista exclusiva ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, Pezão afirmou que está trabalhando para reduzir o tamanho do Estado e que pretende diminuir o número de secretarias (das atuais 20 para "12 ou 10") e lançar um Programa de Demissão Voluntária (PDV).
Foi a crise financeira que motivou a saída de Beltrame e do chefe de Polícia Civil do governo?
Não, os dois já tinham falado para mim que tinham vontade de sair desde quando entrei. Eles disseram que ficariam até a Olimpíada, estavam cansados. Não é fácil ficar 10 anos. Eu falo para ele (Beltrame) que nós somos os mais longevos desde a época do (ex-governador do Rio Sérgio) Cabral. Quando entramos em 2007/2008 não era um quadro diferente do que a gente tem hoje.
Mas a crise financeira hoje é bem mais profunda...
A crise hoje é do Brasil inteiro, não é só do Rio de Janeiro. Ontem, estive com 27 governadores. Tenho estado permanentemente com eles. Há mais de 21 Estados atrasando pagamentos, até alguns piores do que o Rio de Janeiro. Então é muito difícil. É claro que quem pegou aquele auge que teve o Estado e as commodities no Brasil e, principalmente, o Rio com o petróleo, é muito diferente do que está agora.
Como garantir a segurança do Estado sem dinheiro? Pode haver novo pedido de ajuda federal?
Não, temos que fazer mudanças estruturais. É claro que não dispensamos nenhuma ajuda, todos nós precisamos de muita ajuda, mas o que precisamos fazer são mudanças estruturais dentro do Estado brasileiro, inclusive no Rio de Janeiro. Tem que reduzir o tamanho do Estado.
De que forma será reduzido o tamanho do Estado?
Nós vamos cortar agora mais profundamente ainda até o final do mês. Eu e o vice-governador (Francisco Dornelles, atualmente governador em exercício) estamos preparando. Agora não adianta só o Rio. Isso vale para o Brasil inteiro. Mas eu enxugando tudo, se todos os secretários, todos os comissionados não recebessem, isso não chega a R$ 500 milhões. O problema do Estado hoje vai a mais de R$ 15 bilhões. É muito mais profundo.
No Rio, quais medidas podem ser tomadas. O senhor já falou em PDV, será feito isso?
Tem que ter dinheiro para fazer. Estou fazendo gerências para conseguir recursos para fazer.
Também se fala em reduzir as secretarias de 20 para 12, será feito isso?
Pode ser de 20 para 12 ou 10. Estamos estudando.
E o pagamento dos salários de dezembro, como fica?
Todo mês para a gente é uma luta, assim como está sendo em 21 dos 27 Estados brasileiros. A Justiça tem arrestado os nossos recursos no dia 3, nós mostramos que isso prejudica qualquer planejamento que a gente queira fazer para ter o mínimo de governabilidade. Hoje, a maioria dos Estados brasileiros está pagando no décimo dia útil. Aqui estão arrestando os nossos recursos no terceiro dia, fica inviável fazer qualquer planejamento.
As UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) serão mantidas?
Claro, a gente quer que continue. O Roberto Sá (futuro secretário de Segurança) é super preparado. Era o braço direito do (demissionário secretário José Mariano) Beltrame.
Haverá mudanças nas UPPs? Aprimoramentos?
O Roberto Sá tem autonomia para fazer o que quiser. O grande segredo do governador Sérgio Cabral, o primeiro governador a fazer isso, foi despolitizar as indicações de batalhões, delegacias. Ele vai ter a mesma autonomia que o Beltrame teve comigo. Então é com ele.
Qual será o maior desafio do novo secretário Roberto Sá?
Nesse momento de dificuldade será motivar as policiais militar e civil. Ele tem interlocução, conhece o policial. Acho que pode fazer um grande trabalho, é preparado, tem autonomia para escolher os seus subordinados. Tenho certeza que tem condição de fazer um grande trabalho.
Vai ter alguma mudança no comando da PM?
Isso é com ele, que tem autonomia total para escolher. Nunca interferi.