Advogados dizem ter recebido ameaça de morte para largar caso de jovem baleado pela PM em protesto
"Sem maiores explicações", família da vítima informou que não quer grupo defendendo rapaz
São Paulo|Ana Cláudia Barros, do R7
O grupo Advogados Ativistas afirmou nesta quarta-feira (29) que um de seus integrantes recebeu “ameaça de morte” para que saísse do caso envolvendo o estoquista Fabrício Proteus Chaves, de 22 anos. O jovem foi baleado por policiais militares durante ato contra a Copa do Mundo na região central de São Paulo, no último sábado (25).
O grupo convocou uma “coletiva de imprensa emergencial”, alegando que a integridade física dos seus membros “pode estar prejudicada”. Temendo represália, o Advogados Ativistas preferiu não dar detalhes sobre a origem da ameaça. Apenas destacou que ela foi presencial e com o uso de arma de fogo.
Em nota, apresentada durante a entrevista, eles enfatizaram que situações como esta são inaceitáveis dentro de um Estado Democrático de Direito.
— Ressalte-se que quando se tornou público que os Advogados Ativistas estavam atuando em defesa da vítima Fabrício, um dos advogados do grupo recebeu uma ameaça de morte para que saíssemos do caso e da atuação nas ruas [...] São inaceitáveis estas ameaças dentro de um Estado Democrático de Direito.
Pouco antes de a coletiva ser iniciada, o Advogados Ativistas foi surpreendido pela notícia de que familiares de Chaves não queriam mais que o grupo assumisse a defesa do jovem, que anteriormente era representado pela Defensoria Pública.
— Chamamos esta coletiva de imprensa ainda na qualidade de advogados do Fabrício para expor as ilegalidades e pontos obscuros que têm ocorrido neste caso, inclusive a ameaça de morte que sofremos. Porém, quando já marcada esta coletiva, recebemos a notícia dos familiares que não nos querem mais como advogados no caso, e assim não podemos mais falar sobre o caso. Isto nos foi avisado sem maiores explicações.
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De acordo com André Zanardo, um dos Advogados Ativistas, os integrantes decidiram se pronunciar “na qualidade de cidadãos”. O grupo enfatiza que está “nas ruas pelos direitos de quem quer se manifestar, o que tem sido muito difícil ultimamente diante da liberdade excessiva que é dada à polícia para reprimir" a população.
— Vamos continuar nas ruas, sim. Saímos do caso apenas a pedido da família [do estoquista].
“Obscura versão”
No texto, o grupo chamou de desastrosa a operação que terminou com o estoquista baleado. Considerou que “o caso está estranho desde o começo” e criticou a forma como foi colhido o depoimento do jovem, que aconteceu dentro da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) da Santa Casa de Misericórdia, onde está internado. O relato foi feito a três delegados da Polícia Civil e sem a presença de advogados, segundo o Advogados Ativistas.
— Esse caso está estranho desde o começo. Desde a obscura versão oficial até a falta de informações aos familiares, passando pela colheita ilegal do depoimento do Fabrício no hospital, o que vemos é um interesse político atípico no caso. Querem confirmar a todo custo a versão dos policiais.
A SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que o depoimento de Fabrício Nunes foi acompanhado pelo corpo médico do hospital, por familiares e assinado pelo defensor público, Carlos Weis. Anteriormente, a secretaria havia informado também que o delegado Luciano Augusto Pires, que preside o inquérito, “não dará mais detalhes para não atrapalhar a investigação do caso”.
Já sobre as demais declarações do grupo Advogados Ativistas, a SSP não se manifestou.
O rapaz responde por resistência, lesão corporal e desobediência. A ação policial também está sendo investigada pela Corregedoria da Polícia Militar.