Uma imagem incluída no processo contra Gil Rugai sempre chamou a atenção: a do jovem usando uma suástica, símbolo nazista, em um dos braços. Durante o depoimento do delegado Rodolfo Chiarelli, quinta e última testemunha de acusação a ser ouvida durante o julgamento do ex-seminarista, a defesa do acusado mencionou a foto e afirmou que iria mostrar “qual era a verdade”.
O advogado Thiago Anastácio, então, exibiu no plenário 10 do Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo, um vídeo mostrando que Gil Rugai usou o símbolo durante um trabalho do colégio. Anastácio destacou que o vídeo sempre esteve no quarto do acusado.
“Mente de um assassino”
A imagem de excêntrico de Rugai foi reforçada em função da forma como ele se vestia e de objetos encontrados pela polícia no quarto dele na época das investigações. Alguns deles foram mencionados durante o depoimento de Chiarelli, como o filme “Mente de um assassino”. Segundo o delegado, o filme era sobre um menino homossexual que mata os parentes por questões financeiras.
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Outros objetos foram citados no plenário, como “pó santo” e seringas com sangue. Sobre este último, o delegado chegou a comentar:
— Não acho normal uma pessoa guardar seringas com sangue dentro do quarto.
Outro ponto citado durante o depoimento do delegado que investigou o caso foi o fato de Gil Rugai ter adquirido um coldre (suporte para arma) antes do crime. Anastácio relatou que conversou com o proprietário de uma famosa loja do ramo e foi informado de que era muito comum a compra, por produtores de vídeo, de coldres para serem utilizados como porta-lápis.
O delegado estranhou a afirmação e reiterou que a funcionária responsável pela venda do coldre para Gil informou que o rapaz pediu um coldre específico para pistola Taurus, a mesma usada no duplo homicídio.
Longo depoimento
Iniciado pouco depois das 13h30 desta terça-feira (19), o depoimento do delegado Rodolfo Chiarelli durou cerca de seis horas. Na primeira etapa, ele respondeu as perguntas da acusação e destacou que estava certo de que o acusado tinha matado as vítimas.
Após breve intervalo, o depoimento foi retomado com poucas perguntas do assistente de acusação. Na sequência, os defensores começaram os questionamentos, finalizados depois das 19h. Em diferentes momentos, os advogados do ex-seminarista tentaram apontar brechas na investigação e mostrar que o delegado só considerou uma linha de investigação, a de Gil Rugai como suspeito.
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Relembre o caso
O publicitário Luiz Carlos Rugai, 40 anos, e sua mulher, Alessandra de Fátima Troitino, 33 anos, foram assassinados a tiros dentro da casa onde moravam em Perdizes, zona oeste de São Paulo no dia 28 de março de 2004.
Alessandra foi baleada cinco vezes na porta da cozinha, segundo laudo da perícia. Luiz Carlos teria tentado se proteger na sala de TV. A pessoa que entrou no imóvel naquela noite arrombou a porta do cômodo com os pés e disparou quatro vezes contra o publicitário.
O comportamento aparentemente frio de Gil Rugai, na época com 20 anos, ao ver o pai e a madrasta mortos chamou a atenção da polícia, que passou a suspeitar dele.
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Os peritos concluíram que a marca encontrada na porta arrombada era compatível com o sapato de Rugai, que, ao ser submetido pela Justiça a radiografias e ressonância magnética, teria apresentado lesão no pé direito.
Na mesma semana do duplo homicídio, os policiais encontram no quarto do rapaz, um certificado de curso de tiro e um cartucho 380 deflagrado, o mesmo calibre da arma usada no assassinato do casal.
As investigações apontaram ainda que ele teria dado um desfalque de R$ 228 mil na empresa do pai, a Referência Filmes, falsificando a assinatura do publicitário em cheques da firma. Poucos dias antes do assassinato, ele foi expulso de casa.
Um ano e três meses após o duplo homicídio, uma pistola foi encontrada no poço de armazenamento de água de chuva do prédio onde o rapaz tinha escritório, na zona sul. Segundo a perícia, seria a mesma arma de onde partiram os tiros que atingiram as vítimas.
Rugai responde pelo crime em liberdade e será julgado por duplo homicídio qualificado por motivo torpe e por estelionato, em razão dos desfalques dados na produtora do pai.
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