Mãos trêmulas de quem viveu anos, ou até mesmo décadas na rua, se concentram em pequenos recortes de papéis que aos poucos vão formando verdadeiras obras de arte. Esse é o público do projeto "Extramuros", realizado pela Pinacoteca de São Paulo com pessoas em situação de rua que procuram atendimento e atividades em Centros de Acolhida da Prefeitura de São Paulo, que é parceira no projeto.
O R7 visitou uma oficina em um CTA (Centro de Acolhida Temporária) na zona norte de São Paulo, onde nove idosos, a maioria moradores do CTA, e alguns ainda moradores de rua, frequentam as aulas, ministradas pelo artista e educador Augusto Sampaio, que ensina diversas técnicas de produção artística.
"Atualmente nós temos trabalhado técnicas gráficas, além de organizar visitas deste público na Pinacoteca e até mesmo organizar exposições dos trabalhos feitos pelos alunos na oficina", diz Sampaio.
"É um momento em que podemos passar o tempo e aprender algo novo", diz Edmundo da Conceição, que morou na rua por mais de 15 anos e atualmente vive no Centro de Acolhida da Prefeitura.
Já Sonia Estephânia, de 68 anos, viveu nas ruas por dois anos e conseguiu uma vaga no centro de acolhida, quando conheceu o projeto e ficou encantada com a possibilidade de abrir sua mente. "Aqui podemos imaginar e retratar um pouco da nossa velhice, de nossos sonhos, de nossas frustrações", disse Estephânia.
"Aqui podemos imaginar e retratar um pouco da nossa velhice"
Para Ney Silva Aguiar, 62, a aula ajuda a passar o tempo e afastar os pensamentos ruins e também uma oportunidade de aprender algo novo e até mesmo transformar aquilo numa maneira de ganhar dinheiro. "O professor sempre fala que outras turmas já puderam expor seus trabalhos e teve gente que vendeu algumas obras, ainda tenho que aprender muito, mas isso aqui é muito bom", diz ele concentrado em sua nova obra.
Para a psicóloga do Centro de Acolhida, Hani khouri Fonseca do Amaral, as atividades, além de exercitar a concentração dos participantes, também ajuda a construir novas realidades e dar novas perspectivas para este público. "Tudo isto faz esse grupo fazer um série de reflexões, então vem as memórias e naturalmente eles vão repensando seu projeto de vida, pois o abrigo é temporário e logo eles precisam planejar sua vida e este projeto acaba também contribuindo com isto", disse Hani.