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Polícia Militar de SP será investigada por tortura contra manifestantes

Ao contrário do que disse Alckmin, nenhum manifestante detido no dia 9 foi acusado de roubo 

São Paulo|André Caramante, Do R7

Crimes investigados em decorrência da manifestação do dia 9
Crimes investigados em decorrência da manifestação do dia 9 Crimes investigados em decorrência da manifestação do dia 9

A Polícia Civil de São Paulo investiga a possível prática de tortura e de abuso de autoridade por parte de policiais militares que, na semana passada, dia 9, atuaram na detenção de 51 participantes da manifestação do MPL (Movimento Passe Livre) contra o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo, que subiram de R$ 3 para R$ 3,50.

No registro oficial do caso, assinado pela delegada Cristina Yuriko Otsuka, do 78º DP (Jardins), constam como “partes” dois policiais militares e 36 detidos na manifestação, dos quais quatro são adolescentes. Os outros 15 foram liberados sem nenhum tipo de fichamento na polícia.

Pelo documento, que serve para abertura de um inquérito policial, a Polícia Civil listou como crimes a serem investigados: desacato e incitação ao crime, isso por parte dos 36 detidos, e abuso de autoridade e tortura, por parte dos PMs.

Nenhum preso por roubo

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Ao contrário do que afirmou um dia após a manifestação o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), não há no registro oficial dos problemas decorrentes da manifestação nenhum indiciado por roubo entre os 36 detidos.

No sábado (10), durante a inauguração da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital e Maternidade Leonor Mendes de Barros, na zona leste de São Paulo, o governador de São Paulo afirmou que foram detidas 53 pessoas por conta de problemas na manifestação, “dessas, 19 por roubo”.

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Levantamento da reportagem localizou 19 roubos na cidade de São Paulo em horário próximos do início e do fim da manifestação do dia 9, mas todos eles ocorreram em regiões distantes da região central da capital paulista. Ao todo, a reportagem identificou 95 roubos em todo o Estado, entre 9 e 10 de janeiro, mas nenhum tem ligação com a manifestação.

O único suspeito preso e com suposta ligação com a manifestação não levado para o 78º DP, segundo a reportagem apurou, foi um rapaz acusado de danos contra uma agência bancária. Ele esteve preso no 2º DP (Bom Retiro) entre a noite da sexta-feira da manifestação (9) e segunda-feira (12), quando pagou fiança e foi solto.

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Demora para apresentar à Civil

Registro oficial da Polícia Civil de SP sobre problemas na manifestação do dia 9 deste mês
Registro oficial da Polícia Civil de SP sobre problemas na manifestação do dia 9 deste mês Registro oficial da Polícia Civil de SP sobre problemas na manifestação do dia 9 deste mês

Os 51 detidos sob suspeita de desacato e incitação ao crime ficaram cerca de três horas dentro de um ônibus da Polícia Militar, à espera da locomoção até o 78º DP, na noite de 9 de janeiro. Dentro do veículo, segundo relato dos detidos, vários manifestantes foram xingados e agredidos pelos PMs responsáveis pela escolta.

À Polícia Civil, a Polícia Militar afirmou que “houve certa demora para apresentar os envolvidos [os 51 detidos na manifestação] porque o ônibus da PM estava estacionado em local um pouco distante". “Por se tratar de veículo de grande porte e algumas vias estarem interditadas, houve dificuldade em sua locomoção até o logradouro em que os manifestantes estavam e, a seguir, até esta delegacia [78º DP]”, continuou a PM.

A PM também afirmou que algemou alguns manifestantes com algemas plásticas porque “eles estariam mais exaltados e agressivos”. Um jovem foi ferido nas costas quando um PM usava uma faca para cortar a algema plástica usada para imobilizá-lo.

Dos 51 detidos, quatro foram encaminhados para o Hospital das Clínicas por conta de lesões, mas apenas um deles, que teve um dedo fraturado, foi atendido. 

Continuação do registro oficial da Polícia Civil de SP sobre problemas na manifestação do dia 9 deste mês
Continuação do registro oficial da Polícia Civil de SP sobre problemas na manifestação do dia 9 deste mês Continuação do registro oficial da Polícia Civil de SP sobre problemas na manifestação do dia 9 deste mês

Outro lado

O secretário da Segurança Pública da gestão de Alckmin, Alexandre de Moraes, e o comandante-geral da PM, coronel Ricardo Gambaroni, foram procurados pela reportagem na tarde desta sexta-feira (9), mas até o momento não se manifestaram.

Na noite do dia 9, ainda enquanto os manifestantes estavam detidos no 78º DP, a Segurança Pública informou, por meio de nota: 

"A PM esclarece que atuou para garantir a segurança dos manifestantes e da população, que respeita o pleno direito à liberdade de manifestação e que só agiu para conter aquelas pessoas que, lamentavelmente, agrediram policiais a pedradas, além de atacar estabelecimentos comerciais, bancos e veículos do transporte público. As imagens da imprensa e da própria corporação deixam claro que as agressões partiram de vândalos. Por isso, foi necessário o uso de técnicas de dispersão para conter estas práticas criminosas, com a prisão e detenção, até o momento, de cerca de 50 pessoas."

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