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Burocracia atrasa liberação de remédios à base de maconha, dizem cientistas

Anvisa só permite a importação de uma única substância da maconha, o canabidiol

Saúde|Da Agência Brasil

"Maconha é utilizada em vários países para alívio da dor e do sofrimento, mas no Brasil, o uso esbarra em falta de regulamentação e de conhecimento de órgãos de classe, que dificultam o tratamento", diz cientista
"Maconha é utilizada em vários países para alívio da dor e do sofrimento, mas no Brasil, o uso esbarra em falta de regulamentação e de conhecimento de órgãos de classe, que dificultam o tratamento", diz cientista "Maconha é utilizada em vários países para alívio da dor e do sofrimento, mas no Brasil, o uso esbarra em falta de regulamentação e de conhecimento de órgãos de classe, que dificultam o tratamento", diz cientista

Deixar de fornecer remédios à base de substâncias derivadas da maconha é uma crueldade contra pacientes que têm doenças crônicas. A opinião é do neurocientista Sidarta Ribeiro, um dos mais importantes pesquisadores da área, professor e diretor titular do Instituto do Cérebro da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). Segundo ele, a maconha é utilizada em vários países para alívio da dor e do sofrimento, mas no Brasil, o uso esbarra em falta de regulamentação e de conhecimento de órgãos de classe, que dificultam o tratamento.

Adolescentes que fumam maconha têm 3 vezes mais chances de desenvolver psicoses na fase adulta

— Qual a justificativa para um paciente com câncer terminal, que está morrendo de dor, não ser medicado? [Ao não aceitar o uso de remédios da planta] a medicina brasileira vai ficando para trás.

Atualmente, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) só permite a importação de uma única substância da maconha das mais de 80, o canabidiol, com base nos pedidos médicos. Dessa forma, restringe o uso da própria substância por não fazer controle de qualidade e por não regular a produção nacional, que poderia baixar custos. Segundo a organização Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal, as doses importadas chegam a custar entre R$ 1,5 mil e R$ 15 mil.

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Ricardo Ferreira, especialista em coluna, que tem feito uso do canabidiol com sucesso, em pacientes crônicos, defende que a Anvisa crie regras para controle da produção e também para os clubes de autocultivo.

— O medicamento que estamos importando é vendido fora do Brasil como suplemento alimentar, ou seja, não tem controle farmacológico nacional sobre ele e não sabemos efetivamente o que estamos utilizando, temos que nos basear na boa fé.

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Na medicina, outra mudança recomendada pelos especialistas para facilitar o acesso a tratamentos com medicamentos à base de substâncias da maconha é a flexibilização de norma do CFM (Conselho Federal de Medicina), de 2014, que só permite o uso do canabidiol em crianças e adolescentes com epilepsia e que não respondem ao tratamento convencional.

O conselheiro da entidade, Salomão Rodrigues, afirma que não há comprovação científica suficiente para que o CFM reconheça esse fármaco como eficiente. Ele diz ainda que há possibilidade de substâncias presentes na maconha, como o tetra-hidrocanabinol (THC), provocarem efeitos psicóticos.

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Anvisa libera importação de medicamento derivado da maconha 

Sidarta Ribeiro discorda do CFM e diz que centenas de estudo atestam a utilização segura de remédios de maconha na Europa, nos Estados Unidos e em Israel. O país do Oriente Médio, por exemplo, prescreve substâncias in natura na forma de óleo, fumada, vaporizada e em alimentos, como biscoito.

— As pessoas não estão acompanhando a literatura [científica], estão ignorando uma quantidade enorme de evidências para empurrar decisões.

O diretor do Instituto do Cérebro também explicou que todas as substâncias têm grupos de risco e perigos relacionados à dosagem acima das prescrições.

— Das substâncias que temos, a maconha é uma das mais seguras, a sobredose não mata, como mata a de dipirona.

Para o cientista Elisaldo Carlini, um mais respeitados pesquisadores de drogas no Brasil, há 62 anos, o que atrasa o uso da maconha medicinal no país são mitos e preconceitos, incluindo aqueles de fundo racista.

— O preconceito racial nesse país chega a tal ponto que hoje preconceito se alimenta de preconceito. E preciso mais pressão popular para o Brasil usar algo que o mundo já usa.

Para autorizar o plantio de maconha para pesquisa e para o uso medicinal, a Anvisa pretende montar um grupo de trabalho e elaborar uma regulamentação específica, com a participação de órgãos de governo, como a Polícia Federal, além de pesquisadores. “Pretende-se ainda ampliar a participação após a evolução das atividades, que se encontram na fase inicial, por meio de convites a outros órgãos e instituições”, informou a agência em nota enviada à Agência Brasil.

Em relação ao uso de medicamentos com substâncias da cannabis, a agência explicou que analisa pedido para autorizar o uso de remédios à base de canabidiol e THC, mas não esclareceu se os remédios serão com a substância in natura ou sintética, que é feita em laboratório.

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