Falta de médicos em região mais carentes passa pelo fortalecimento do SUS, diz presidente do CNS
Na última semana, governo anunciou a intenção de contratar 6.000 médicos de Cuba
Saúde|Da Agência Brasil
O debate sobre a falta de médicos nas regiões brasileiras mais carentes do Brasil precisa passar pelo fortalecimento do SUS (Sistema Único de Saúde ), defendeu a presidenta do CNS (Conselho Nacional de Saúde), Maria do Socorro de Souza. Ela participou nesta terça-feira (15) de uma audiência pública na Câmara dos Deputados sobre a contratação e entrada de médicos estrangeiros no país.
Na última semana, o governo anunciou a intenção de contratar 6.000 médicos de Cuba , além de profissionais de Portugal e da Espanha para trabalhar na atenção primária à saúde nessas regiões.
—A questão [da falta de médicos] procede, mas ela sozinha não vai trazer a resposta de acordo com as expectativas da população, tem que investir na equipe multiprofissional. Temos que ter um compromisso com o desenvolvimento [do SUS] que garanta na proteção social da população.
A presidenta do CNS ressaltou a necessidade da criação de uma carreira de estado para os médicos brasileiros que trabalhem na atenção primaria à saúde e a formação de consórcios intermunicipais como forma de manter os médicos no interior.
—Não dá pra pautar o SUS de forma fragmentada. A questão não é só a falta de médicos. É preciso pôr as questões no devido lugar.
Ela também defendeu a vinda dos médicos estrangeiros.
— A gente não pode desqualificar o investimento que Cuba fez na saúde, nem o que Portugal e Espanha fizeram.
O tema tem gerado polêmica e já foi objeto de discussão no Senado . De um lado representantes dos médicos, em especial o CFM (Conselho Federal de Medicina) , contrários à proposta. De outro, representantes do governo que defendem a medida como forma proporcionar atendimento médico à população do interior do país, onde há carência de profissionais.
Sobre a vinda de médicos estrangeiros para atuar no Brasil, o vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, Carlos Vital, defendeu a necessidade de se fazer o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos em 2012 como exigência para a atuação dos médicos estrangeiros no país, “como forma de garantir a qualidade dos serviços médicos prestados”. Dados apresentados pelo CRM mostram que apenas 20 entre 182 médicos cubanos foram aprovados no exame em 2012.
O deputado Rogério Carvalho (PT-SE) criticou a posição dos que se opõem à entrada de médicos estrangeiros no país e disse que não se pode tratar o acesso à saúde apenas dos pontos de vista do interesse da categoria.
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—Estamos fazendo um debate de corporação e não de saúde. Estamos com uma situação de interesse público. Não podemos pôr a população refém de outros interesses.
Dados do Ministério da Saúde mostram que no Brasil existe 1,8 médico para cada mil habitantes. Na Argentina, a proporção é 3,2 médicos para mil habitantes e, em países como Espanha e Portugal, essa relação é quatro médicos. Em Cuba, a relação é 6,3.
No início do ano, os prefeitos que assumiram apresentaram ao governo federal uma série de demandas na área de saúde. Entre os pontos destacados estava a dificuldade de atrair médicos para as áreas mais carentes, para as periferias das cidades e para o interior.