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'Vitória': especialistas explicam prazer sexual de personagem cadeirante

Na novela Vitória, da Record, o jovem deficiente Artur vive cenas quentes

Saúde|Fabiana Grillo e Vanessa Sulina, do R7

Novela Vitória teve início nesta segunda-feira
Novela Vitória teve início nesta segunda-feira

Muita gente acredita que os deficientes físicos têm muitas limitações, inclusive sexuais. Porém na novela Vitória (Record), o jovem cadeirante Artur, (interpretado por Bruno Ferrari), que ficou paraplégico após um acidente, vai mostrar exatamente oposto. Ele viverá cenas quentes com Diana, vivida pela atriz Thaís Melchior, na trama que estreou nesta segunda-feira (2).

A questão sexual na vida de um cadeirante ganhou espaço na novela para ajudar a desmistificar a vida sexual e as limitações dos deficientes físicos, de acordo com a autora Cristianne Fridman.

— Muita gente não sabe que, em muitos casos, dependendo da lesão, há vida sexual para cadeirante. Além disso, o fato do Artur [personagem de Bruno Ferrari) fazer sexo, dançar, ter uma vida, ainda que com limites, vai lançar um novo olhar sobre esta questão. Há uma falsa piedade que esconde um enorme preconceito em relação aos portadores de deficiência no Brasil. Quero que as pessoas vejam, claro, as dificuldades que o deficiente físico passa, mas para que elas possam enxergá-lo, precisam aceitar as diferenças, vê-los como seres humanos.

Segundo ela, a inspiração para a história de Vitória surgiu durante uma conversa com um amigo, que é deficiente físico.


— O Vini [amigo que trabalha na Record] passou o Ano-Novo no Rio e comentou como as pessoas na época do Natal tinha mais “flexibilidade” ao olhá-lo. Disse a ele que ainda faria um vilão que fosse um portador de deficiência física porque assim seria uma forma, não piedosa, de chamar a atenção. Não é fingir que não existe, mas ter um olhar menos preconceituoso para os portadores de deficiência.

Bruno Ferrari afirma ter estudado muito para fazer o personagem.


— Eu aprendi muito nesse processo. Existe um desconhecimento geral da sociedade com a questão do cadeirante, de não saber lidar com isso.

Na vida real


Especialistas ouvidos pelo R7 garantem que estes momentos de prazer ultrapassam a ficção e também é realidade na vida dos deficientes físicos.

Após o acidente, de acordo com o fisiatra e gerente-médico de reabilitação, Marcelo Ares, da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), o “desejo, a libido, a sexualidade dos pacientes deficientes ficam preservadas”.

— O ato sexual fica um pouco diferente do que era antes. Mas é possível ter vida sexual, sim. O que acontece é que, com a deficiência, o homem tem prejuízo na ereção, ejaculação e falta de sensibilidade. E a mulher tem falta de lubrificação na vagina e sensibilidade.

O urologista Antonio de Moraes Junior, chefe do Departamento de Andrologia da SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), diz que 85% das vítimas de traumatismo raquimedular [lesão de qualquer causa externa na coluna vertebral, incluindo ou não a medula ou as raízes nervosas, em qualquer dos seus segmentos — cervical, dorsal, lombossacro] são homens e, deste total, 70% estão entre 16 e 30 anos, exatamente na faixa etária sexualmente ativa.

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Apesar de os homens serem as principais vítimas, o médico garante que eles podem ter uma vida sexual ativa e saudável, dependendo do tipo e do grau do traumatismo.

— Se a lesão da medula for completa, a recuperação da ereção é pior. Mas, se a lesão for parcial, o paciente tem mais chance de contornar o problema.

Ainda segundo Moraes Junior, 80% dos pacientes demoram até um ano para recuperar a disfunção erétil, por isso, o apoio e a paciência da parceira são fundamentais para o sucesso do tratamento.

— No primeiro ano, o paciente vai precisar de acompanhamento multidisciplinar, incluindo urologista, fisioterapeuta e psicólogo. O ideal é que a parceira também participe das consultas para entender o quadro e poder ajudar.

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Ereção pode ser normal

Após o acidente, geralmente, os pacientes mais jovens já questionam “se poderão fazer sexo”, explica Ares. Porém, para outros, o principal pensamento é recuperar os movimentos e voltar a andar.

— Alguns preferem esperar primeiramente controlar outros problemas, como, por exemplo, controlar a bexiga e até mesmo ver se vão conseguir voltar a andar. Nós costumamos perguntar na consulta como é a vida sexual do paciente. Se ele tem ou não. A maneira como a pessoa levava sua vida conjugal influencia bastante.

A estimativa, diz o urologista, é que 40% das pessoas com traumatismo raquimedular conseguem restabelecer a ereção.

— Mas reforço que o processo é lento e progressivo, por isso exige suporte psicológico não só para o paciente, como também para a namorada ou mulher.

Caso a ereção não seja satisfatória, o médico explica que os medicamentos orais, como Viagra, Cialis, Levitra e Helleva, entram em cena.

— Se eles não funcionarem, partimos para uma segunda linha de tratamento, que são as substâncias injetáveis no pênis. Se este também não surtir efeito, sugerimos as próteses penianas.

É possível ejacular?

Por causa da paraplegia, o fisiatra explica que é “muito difícil” o homem ejacular. Consequentemente, pode ser um fator complicador para o paciente ter filhos. Além disso, a quantidade e qualidade dos espermatozoides podem implicar na fertilidade.

— Como a pessoa passa boa parte do tempo sentada, a temperatura do testículo aumenta e prejudica a qualidade e quantidade do espermatozoide.

Porém, “nesse caso”, é possível recorrer à inseminação artificial para ter filhos. Alerta o urologista.

Redescobrindo o prazer

A sensibilidade no órgão genital e a duração da ereção são outros pontos que podem ficar comprometidos, por isso, é importante conhecer o próprio corpo e descobrir novas maneiras de sentir prazer, alerta Moraes Junior.

— A relação sexual não se resume em pênis ou penetração. Há outras formas de se adaptar à nova realidade sexual.

Ares explica que o sexo está “ligado ao conhecimento do outro, à conversa, ao toque, a buscar novas áreas erógenas”.

— Tenho pacientes que falam que depois da reabilitação passaram a conversar mais e conhecer melhor suas parceiras, e a vida sexual tornou-se um sucesso. Quem tem preconceito em relação ao sexo com cadeirante é porque não tem informação. A deficiência não é um obstáculo para o sexo, mas, muitas vezes, torna-se a gota d´água para o relacionamento que vai mal.

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