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Agenda moderada e ausência de China e Rússia: veja expectativas para Cúpula do Brics no RJ

Especialistas avaliam os potenciais da reunião dos líderes neste fim de semana no Brasil; entenda

Brasília|Edis Henrique Peres e Ana Isabel Mansur, do R7 em Brasília

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Representantes dos países fundadores do Brics Ricardo Stuckert/Presidência da República - 23.8.2023

A Cúpula do Brics, marcada para este domingo (6) e segunda-feira (7), no Rio de Janeiro, deve seguir uma agenda de tom moderado e será realizada sem a presença de importantes chefes de Estado, como o presidente da China, Xi Jinping, e o líder russo, Vladimir Putin.

A avaliação é de especialistas ouvidos pelo R7. O encontro, considerado o mais relevante do bloco, é precedido por eventos paralelos. Neste sábado (5), ocorre o Fórum Empresarial do Brics, promovido pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Fundado em 2009 com a sigla formada por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o grupo reúne atualmente 11 integrantes e conta com 10 países parceiros (veja lista ao fim). A presidência rotativa, que neste ano está a cargo do Brasil, tem duração anual.

A expectativa é que Putin participe por videoconferência. Xi, por outro lado, não comparecerá nem remotamente; a delegação chinesa será liderada pelo primeiro-ministro Li Qiang.


Em meio ao acirramento das tensões no Oriente Médio, o presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, também não vai participar do encontro, e o país será representado pelo ministro das Relações Exteriores, Abbas Araghchi.

O conflito na região também causou a ausência do presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi.


Entre os temas em pautam estão desenvolvimento sustentável, estratégias de comércio e segurança alimentar, transição energética, descarbonização, capacitação tecnológica, economia digital, além de inclusão e financiamento.

Esvaziada, mas importante

A professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Cristina Pecequilo destaca a importância do encontro no atual cenário global.


“A reunião deve ser entendida no contexto das grandes transformações do século 21 como uma oportunidade relevante para fortalecer a cooperação Sul-Sul e discutir a reformulação da ordem mundial”, analisa.

Segundo ela, mesmo com ausências significativas entre fundadores e novos membros, o encontro sinaliza a existência de alternativas à atual conjuntura internacional marcada por conflitos.

“Mecanismos como o Novo Banco de Desenvolvimento oferecem formas de negociação que não reproduzem as desigualdades entre Norte e Sul”, afirma.

Para a professora, temas como meio ambiente, desenvolvimento, regulação tecnológica e redes digitais vêm sendo discutidos com frequência e representam um canal diplomático para demandas e propostas de mudança.

“Considero a cúpula fundamental, tanto pela sua simbologia quanto pela demonstração de alinhamento entre as nações do Sul global”, completa.

Ausências de Xi Jinping e Vladimir Putin

De acordo com o cientista político e professor de Relações Internacionais Maurício Santoro, a ausência de figuras centrais como Xi e Putin deve criar um “certo vazio” no evento.

“Do ponto de vista brasileiro, o convidado mais aguardado é o presidente chinês. Esta será a primeira vez que Xi Jinping não comparece a uma cúpula do Brics, o que chama atenção, considerando seu histórico de envolvimento com o grupo”, ressalta.

Segundo Santoro, a justificativa oficial apresentada por Pequim — de que os líderes já mantiveram encontros anteriores com Lula — foi vista como evasiva. “Trata-se de uma explicação superficial, pois o Brics não é um evento bilateral, mas multilateral”, observa.

Para o professor, os desdobramentos no Oriente Médio explicam parte dessas ausências.

“A recente escalada entre Irã e Israel e a busca por um cessar-fogo em Gaza mantêm líderes regionais ocupados, como os presidentes do Irã e do Egito”, aponta.

Santoro acredita que, diante da gravidade do conflito, a participação da China em fóruns multilaterais perde espaço na sua agenda diplomática.

“Pequim está lidando com questões mais urgentes no momento. No caso da Rússia, há o agravante da ordem de prisão expedida pelo Tribunal Penal Internacional. Se Putin viesse, o Brasil estaria legalmente obrigado a cumprir o mandado, independentemente da posição do governo Lula ou do Itamaraty”, explica.

Enfraquecimento do grupo e novas direções

Para Santoro, o Brics perdeu parte de sua força ao longo dos anos por não concretizar as reformas que propunha.

“O bloco surgiu há duas décadas com o objetivo de reunir grandes economias do Sul global em torno da reforma das instituições econômicas internacionais, como o FMI, com foco em maior representatividade para países em desenvolvimento”, lembra.

Entretanto, o grupo passou a se orientar mais por disputas geopolíticas entre grandes potências e pela defesa do multilateralismo e das organizações globais.

“A recente ampliação, com a entrada de países como os Emirados Árabes Unidos, alterou profundamente o perfil do Brics. Antes havia certo equilíbrio entre regimes democráticos e autoritários. Hoje, a maioria dos integrantes tem governos autocráticos e posturas confrontadoras em relação aos Estados Unidos”, analisa.

Nesse contexto, a atuação brasileira tende a buscar moderação.

“A estratégia do Brasil tem sido construir uma agenda equilibrada, com foco na promoção do multilateralismo econômico. Espera-se uma declaração final discreta sobre comércio, sem avanços significativos”, afirma Santoro.

Países que integram o Brics

Membros permanentes:

  • África do Sul
  • Arábia Saudita
  • Brasil
  • China
  • Egito
  • Emirados Árabes Unidos
  • Etiópia
  • Indonésia
  • Índia
  • Irã
  • Rússia

Países parceiros:

  • Belarus
  • Bolívia
  • Cazaquistão
  • Cuba
  • Malásia
  • Nigéria
  • Tailândia
  • Uganda
  • Uzbequistão
  • Vietnã

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