Com histórico de desencontros e críticas públicas, Lula e Zelensky se encontram pela primeira vez
Presidente brasileiro já declarou que a Ucrânia também tem culpa pela guerra e sugeriu cessão de parte do território do país
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai se reunir pela primeira vez com o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelensky, nesta quarta-feira (20), às 17h no horário de Brasília. Eles têm agenda marcada em Nova York, nos Estados Unidos, durante a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). O R7 apurou que o encontro deve ocorrer no Hotel Lotte Palace, onde o brasileiro está hospedado.
O principal tópico da conversa será a guerra entre Ucrânia e Rússia, que começou em fevereiro do ano passado. Lula e Zelensky colecionam falas desencontradas sobre o conflito e críticas públicas quanto aos discursos um do outro. O brasileiro chegou a declarar que não quer "se meter" no conflito, porque a principal guerra com a qual está preocupado é a que luta contra a fome no Brasil. No entanto, ele manteve as opiniões públicas sobre a guerra.
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Na semana passada, Lula afirmou que o presidente da Rússia não seria preso caso visitasse o Brasil. Putin é alvo de um mandado de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra cometidos na Ucrânia. O Brasil é signatário do estatuto que criou a corte e, portanto, precisa cumprir as ordens expedidas pela instituição.
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Depois da repercussão negativa, Lula voltou atrás e deixou a decisão para a Justiça. "Não sei se a Justiça brasileira vai detê-lo, é a Justiça que vai decidir, não é o governo", disse.
Críticas de Zelensky
No início de agosto, o líder ucraniano declarou que o petista "coincide com as narrativas" do líder russo, Vladimir Putin. "Espero que ele [Lula] tenha uma opinião própria. Não creio que seja necessário que os seus pensamentos coincidam com os pensamentos do presidente Putin", afirmou Zelensky, para quem declarações como as do brasileiro "não ajudam a trazer a paz".
"Para ser honesto, se o presidente Lula quiser me dizer alguma coisa, que se sente [comigo] e me diga. Pensei que ele tivesse uma compreensão mais ampla do mundo", criticou.
Em 29 de agosto, Zelensky rechaçou soluções de paz que impliquem a cessão de parte do território ucraniano à Rússia, como Lula tinha sugerido. "Quando falamos de uma fórmula unilateral ou multilateral, devemos ser justos. E o presidente Lula deve entender claramente que a guerra é na Ucrânia, e não na Rússia. Nem no Brasil, nem na África, nem nos Estados Unidos", criticou o ucraniano, ao acrescentar que, "para dizer algo, é preciso compreender quem é a vítima e quem é o agressor".
Dias antes, o presidente brasileiro tinha criticado Putin e Zelensky por ainda não terem terminado a guerra. "O dia que os dois países se entenderem e falarem: 'Gente, vamos parar com essa guerra. Nós somos maiores de idade, temos representatividade civil. Nós queremos ajuda para encontrar a paz'; o dia que falarem isso, o Brasil pode não ser o primeiro, mas será um dos primeiros [a ajudar]", garantiu.
No início de agosto, o petista disse que Zelensky e Putin precisam ter "humildade" para buscar um acordo para o fim do conflito. Lula afirmou que, "por enquanto, os dois acham que vão ganhar a guerra".
Desencontro no Japão e conversa com Putin
No fim de maio, durante a cúpula do G7, realizada em Hiroshima, no Japão, Lula e Zelensky teriam um encontro, que acabou não ocorrendo. Depois do episódio, o presidente da Ucrânia disse que a reunião não se concretizou "porque não houve passos" por parte do brasileiro.
"Estive em contato com certos líderes, mas não houve nenhuma providência da parte deles", disse o presidente ucraniano, que também deu a entender que pode ter sido por problemas de agenda.
Dias depois do desencontro em Hiroshima, Lula conversou por telefone com Putin e disse estar à disposição para buscar uma solução para a guerra. O petista e Zelensky fizeram uma videoconferência no início de março e também trataram sobre o tema.