Decisão de ignorar embaixador israelense expõe fragilidade diplomática do Brasil, dizem analistas
Governo de Israel anunciou ‘rebaixamento’ das relações diplomáticas com o Brasil por ficar sem resposta a indicação de novo embaixador
Brasília|Do R7, em Brasília
LEIA AQUI O RESUMO DA NOTÍCIA
Produzido pela Ri7a - a Inteligência Artificial do R7

O Governo de Israel anunciou nesta segunda-feira (25) o “rebaixamento” das relações diplomáticas com o Brasil, após o país não responder à indicação de Gali Dagan como novo embaixador em Brasília. A decisão evidencia, para especialistas, falhas estratégicas e políticas do Itamaraty que podem comprometer a imagem e a atuação internacional do país.
Para o professor e historiador Fhanoel Ribeiro, o episódio representa uma das crises diplomáticas mais delicadas entre Brasil e Israel nas últimas décadas. Segundo ele, desde 2024, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou o conflito em Gaza ao nazismo, as tensões entre os países só aumentaram.
leia mais
O rebaixamento das relações, segundo Ribeiro, embora não represente uma ruptura formal, pode impactar o comércio e a cooperação tecnológica entre os países.
“Israel é fornecedor de armamentos, sistemas de monitoramento e cibersegurança, e um esfriamento diplomático pode restringir esse acesso. Ainda assim, o impacto maior é simbólico. Um afastamento pode ser lido como uma escolha de campo político, reduzindo a margem de manobra do Brasil em negociações multilaterais.”
O historiador destaca que a decisão brasileira de não conceder o tradicional agrément — autorização necessária para que um diplomata assuma o posto — é mais política do que burocrática. De todo modo, o professor critica o profissionalismo da diplomacia brasileira.
“Ignorar indefinidamente um pedido de agrément é um gesto de peso. Tecnicamente não é quebra de protocolo, mas é interpretado como sinal de hostilidade deliberada. Para parceiros externos, o Itamaraty pode parecer menos um ator pragmático e mais um braço da retórica presidencial, fragilizando a imagem tradicional de sofisticação da diplomacia brasileira.”
Dificuldades para expansão do comércio e da cooperação bilateral
Especialista em comércio e relações internacionais, Carol Monteiro de Carvalho reforça que, apesar de o impacto econômico direto ser limitado, o gesto brasileiro possui efeitos simbólicos importantes.
“Em um contexto em que o Brasil busca diversificar mercados e ampliar suas exportações, o rebaixamento das relações pode dificultar a expansão do comércio e da cooperação bilateral”, afirma.
Para Carvalho, a ausência de um embaixador afeta a densidade das relações: “Israel é um parceiro comercial relevante, e, sem embaixador acreditado, a embaixada segue chefiada por um encarregado de negócios. Embora assegure a continuidade das atividades diplomáticas, essa solução tem menor peso político e reduz o nível de interlocução entre os países.”
O episódio também levanta preocupações estratégicas sobre o papel internacional do Brasil. Ribeiro alerta que “em vez de projetar liderança, a postura reforça a ideia de alinhamento ideológico e pode desgastar a reputação do país como negociador confiável e previsível”.
“Ao adotar uma crítica frontal e sem nuances a Israel, o Brasil se retira, de fato, da posição de mediador possível. Em foros internacionais, como a ONU, países que buscam soluções negociadas tendem a olhar para atores mais equilibrados, como a Noruega ou o Catar, em vez do Brasil. Ou seja, o país perde espaço no tabuleiro global e fragiliza sua pretensão histórica de protagonismo diplomático.”
Segundo os analistas, a postura do governo brasileiro reflete mais uma estratégia de sinalização política interna do que um cálculo de longo prazo nas relações externas.
“A ênfase em condenar Israel ecoa em setores específicos da base política doméstica. Do ponto de vista externo, a estratégia é arriscada. Historicamente, o Itamaraty buscou equilibrar solidariedade à Palestina com diálogo com Israel. Agora, a balança pende mais para a afirmação política interna do que para o interesse estratégico”, conclui Ribeiro.
Perguntas e Respostas
Qual foi a decisão do Governo de Israel em relação ao Brasil?
O Governo de Israel anunciou o "rebaixamento" das relações diplomáticas com o Brasil após o país não responder à indicação de Gali Dagan como novo embaixador em Brasília.
O que especialistas dizem sobre essa decisão?
Especialistas afirmam que essa decisão evidencia falhas estratégicas e políticas do Itamaraty, que podem comprometer a imagem e a atuação internacional do Brasil. O professor Fhanoel Ribeiro considera que essa é uma das crises diplomáticas mais delicadas entre os dois países nas últimas décadas.
Quais são as possíveis consequências do rebaixamento das relações?
Embora não represente uma ruptura formal, o rebaixamento pode impactar o comércio e a cooperação tecnológica entre Brasil e Israel. Ribeiro destaca que um esfriamento nas relações pode restringir o acesso a armamentos e sistemas de cibersegurança fornecidos por Israel, além de ter um impacto simbólico que pode reduzir a margem de manobra do Brasil em negociações multilaterais.
Qual é a crítica em relação à diplomacia brasileira?
Ribeiro critica a decisão brasileira de não conceder o agrément, que é a autorização necessária para que um diplomata assuma o posto. Ele afirma que ignorar indefinidamente um pedido desse tipo é interpretado como um sinal de hostilidade deliberada, o que pode fragilizar a imagem da diplomacia brasileira.
Como o rebaixamento das relações afeta o comércio?
A especialista em comércio e relações internacionais, Carol Monteiro de Carvalho, afirma que, apesar do impacto econômico direto ser limitado, o gesto possui efeitos simbólicos importantes. A ausência de um embaixador pode dificultar a expansão do comércio e da cooperação bilateral, já que Israel é um parceiro comercial relevante.
Quais são as preocupações estratégicas levantadas por esse episódio?
Ribeiro alerta que a postura do Brasil pode desgastar sua reputação como negociador confiável e previsível. Ele menciona que, ao criticar Israel de forma frontal, o Brasil se afasta da posição de mediador e perde espaço em foros internacionais, como a ONU, onde países buscam soluções negociadas.
Como a postura do governo brasileiro é interpretada?
Analistas afirmam que a postura do governo reflete mais uma estratégia de sinalização política interna do que um cálculo de longo prazo nas relações externas. A ênfase em condenar Israel atende a setores específicos da base política doméstica, mas pode ser arriscada do ponto de vista externo.
Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp
