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Em meio à taxa extra de Trump, Lula defende multilateralismo em artigo a jornais estrangeiros

Artigo do petista foi divulgado em ao menos 9 publicações de outros países; brasileiro criticou guerras na Europa e no Oriente Médio

Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília

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Lula não citou Trump na publicação Ricardo Stuckert/PR - 10.7.2025

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender nesta quinta-feira (10) o multilateralismo, em artigo publicado em ao menos nove jornais estrangeiros. Intitulado “Com o mundo em crise, muitos dizem para acabar com a globalização. Eu digo que isso seria um erro”, em tradução livre, o texto foi divulgado um dia depois de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar uma taxa de 50% para todos os produtos brasileiros importados pelos EUA.

“A lei do mais forte também ameaça o sistema multilateral de comércio. Tarifas abrangentes interrompem as cadeias de valor e empurram a economia global para uma espiral de preços altos e estagnação. A Organização Mundial do Comércio foi esvaziada, e ninguém se lembra da Rodada de Desenvolvimento de Doha”, escreveu Lula (leia o artigo completo abaixo).


RESUMO DA NOTÍCIA

  • Lula defende o multilateralismo em artigo publicado em nove jornais estrangeiros.
  • O presidente critica a taxa de 50% imposta por Trump sobre produtos brasileiros e as guerras na Europa e no Oriente Médio.
  • O artigo clama por reformas nos organismos multilaterais e destaca a urgente necessidade de diplomacia.
  • Lula ressalta a desigualdade e a concentração de riqueza, defendendo ações preventivas para um futuro mais igualitário.

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A rodada de Doha, ocorrida em novembro de 2001 no Qatar, foi uma reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio), em que ficou acertada a derrubada de barreiras comerciais entre os países. O objetivo era facilitar o acesso aos mercados, para incentivar as trocas internacionais.

O petista não citou o norte-americano na publicação. O texto foi divulgado em periódicos da China, Japão, Alemanha, México, Espanha, Itália, Argentina, Reino Unido e França.


Lula aproveitou para criticar as guerras na Europa e no Oriente Médio. Como declara constantemente, o brasileiro reclamou dos gastos mundiais com conflitos, na comparação com os recursos desembolsados no combate à fome e à pobreza.

O presidente também voltou a defender reformas nos organismos multilaterais, em especial o Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).


A concentração de riquezas e o aumento das desigualdades sociais foram citados por Lula no artigo.

“Há uma necessidade urgente de retomar o compromisso com a diplomacia e reconstruir as bases de um verdadeiro multilateralismo — capaz de responder ao clamor de uma humanidade temerosa pelo seu futuro. Só então poderemos parar de assistir passivamente ao aumento da desigualdade, à insensatez da guerra e à destruição do nosso próprio planeta”, concluiu.


Artigo de Lula na íntegra para jornais estrangeiros

O ano de 2025 deveria ser um momento de celebração, marcando oito décadas de existência das Nações Unidas. Mas corre o risco de entrar para a história como o ano em que a ordem internacional construída desde 1945 entrou em colapso.

As fissuras já eram visíveis há muito tempo. Desde as invasões do Iraque e do Afeganistão, a intervenção na Líbia e a guerra na Ucrânia, alguns membros permanentes do Conselho de Segurança banalizaram o uso ilegal da força. A omissão em relação ao genocídio em Gaza representa uma negação dos valores mais básicos da humanidade. A incapacidade de superar as diferenças está alimentando uma nova escalada de violência no Oriente Médio, cujo capítulo mais recente inclui o ataque ao Irã.

A lei do mais forte também ameaça o sistema multilateral de comércio. Tarifas abrangentes interrompem as cadeias de valor e empurram a economia global para uma espiral de preços altos e estagnação. A Organização Mundial do Comércio foi esvaziada, e ninguém se lembra da Rodada de Desenvolvimento de Doha.

O colapso financeiro de 2008 expôs o fracasso da globalização neoliberal, mas o mundo permaneceu preso ao manual de austeridade. A decisão de socorrer os ultra-ricos e as grandes corporações às custas dos cidadãos comuns e das pequenas empresas aprofundou a desigualdade. Nos últimos 10 anos, os US$ 33,9 trilhões (£ 25 trilhões) acumulados pelo 1% mais rico do mundo equivalem a 22 vezes os recursos necessários para erradicar a pobreza global, segundo um relatório da Oxfam.

O domínio sobre a capacidade de ação do Estado gerou desconfiança pública nas instituições. O descontentamento tornou-se terreno fértil para narrativas extremistas que ameaçam a democracia e promovem o ódio como projeto político.

Muitos países cortaram programas de cooperação em vez de redobrar esforços para implementar os objetivos de desenvolvimento sustentável até 2030. Os recursos disponíveis são insuficientes, os custos são altos, o acesso é burocrático e as condições impostas muitas vezes não respeitam as realidades locais.

Não se trata de caridade, mas de abordar disparidades enraizadas em séculos de exploração, interferência e violência contra os povos da América Latina e do Caribe, da África e da Ásia. Em um mundo com um PIB combinado de mais de US$ 100 trilhões, é inaceitável que mais de 700 milhões de pessoas ainda sofram de fome e vivam sem eletricidade ou água.

Os países mais ricos têm a maior responsabilidade histórica pelas emissões de carbono, mas são os mais pobres que mais sofrerão com a crise climática. O ano de 2024 foi o mais quente da história, mostrando que a realidade está se movendo mais rápido do que o Acordo de Paris. As obrigações vinculativas do Protocolo de Kyoto foram substituídas por compromissos voluntários, e as promessas de financiamento feitas na COP 15 em Copenhague, em 2009 – prometendo US$ 100 bilhões anuais – nunca se concretizaram. O recente aumento nos gastos militares da OTAN torna essa possibilidade ainda mais remota.

Ataques a instituições internacionais ignoram os benefícios concretos que o sistema multilateral trouxe à vida das pessoas. Se a varíola foi erradicada, a camada de ozônio preservada e os direitos trabalhistas ainda são protegidos em grande parte do mundo, isso se deve aos esforços dessas instituições.

Em tempos de crescente polarização, termos como “desglobalização” tornaram-se comuns. Mas é impossível “desplanetizar” nossa existência compartilhada. Nenhum muro é alto o suficiente para preservar ilhas de paz e prosperidade cercadas de violência e miséria.

O mundo de hoje é muito diferente daquele de 1945. Novas forças emergiram e novos desafios se apresentaram. Se as organizações internacionais parecem ineficazes, é porque sua estrutura não reflete mais a realidade atual. Ações unilaterais e excludentes são agravadas pela ausência de liderança coletiva. A solução para a crise do multilateralismo não é abandoná-lo, mas reconstruí-lo sobre bases mais justas e inclusivas.

Esse é o entendimento que o Brasil – cuja vocação sempre foi fomentar a colaboração entre as nações – demonstrou durante sua presidência do G20 no ano passado e continua demonstrando por meio de suas presidências do Brics e da COP 30 deste ano: que é possível encontrar pontos em comum mesmo em cenários adversos.

Há uma necessidade urgente de retomar o compromisso com a diplomacia e reconstruir as bases de um verdadeiro multilateralismo – capaz de responder ao clamor de uma humanidade temerosa pelo seu futuro. Só então poderemos parar de assistir passivamente ao aumento da desigualdade, à insensatez da guerra e à destruição do nosso próprio planeta.

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