Entenda a relevância de Mauro Cid para as investigações sobre suposta tentativa de golpe
Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro fechou um acordo de delação premiada que abriu caminho para outros inquéritos
Brasília|Giovanna Inoue, do R7, em Brasília e Natália Martins, da RECORD
O tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), é uma figura central nas investigações da Polícia Federal sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado. Ele foi um dos 37 indiciados nessa quinta-feira (21) por crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.
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A delação premiada que Cid fechou em 2023 abriu caminho para outros inquéritos, como da "Abin Paralela“, que investigou o suposto uso da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para fins ilícitos de monitoramento de alvos de interesse político.
Leia a seguir um resumo da participação de Mauro Cid nas investigações da Polícia Federal.
Joias sauditas e cartão de vacina
Mauro Cid prestou o primeiro depoimento à PF em abril de 2023 para falar sobre as joias presenteadas pela Arábia Saudita ao governo federal.
Em maio de 2023, o ex-ajudante de ordens foi preso durante uma operação que investigava a atuação de uma associação criminosa que teria inserido dados falsos de vacinação contra a Covid-19 em sistemas do Ministério da Saúde. Segundo investigações, as inserções falsas teriam ocorrido entre novembro de 2021 e dezembro de 2022.
Enquanto esteve preso, Cid prestou depoimentos sobre outros pontos, como a conduta do hacker Walter Delgatti Neto na invasão dos sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
8 de Janeiro
Em julho do ano passado, Cid prestou depoimento à CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que investigou os atos do 8 de Janeiro, mas permaneceu em silêncio e não respondeu às perguntas. No mês seguinte, ele foi à CPI da Câmara Legislativa do DF sobre os atos antidemocráticos e também se manteve calado.
Em 7 de setembro de 2023, Cid fechou um acordo de delação premiada com a Polícia Federal, sendo liberado do batalhão do Exército onde ficou preso dois dias depois.
Áudios vazados
Neste ano, áudios de Mauro Cid em que ele critica o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes e a Polícia Federal foram vazados.
Nas gravações, ele diz que o ministro “é a lei” e que ele age da forma como bem entender. Cid também fala que a Polícia Federal já tem uma narrativa pronta sobre as investigações que o envolvem. Ele afirma, ainda, que a corporação o pressionou a relatar fatos que não aconteceram e a detalhar eventos sobre os quais não tinha conhecimento.
Em 22 de março, por causa das gravações, Cid foi convocado para depor no STF, onde chegou a desmaiar, e foi preso novamente de forma preventiva. Ele foi solto em 3 de maio, após autorização de Moraes.
Suposto plano para matar Lula
Nos meses seguintes, Cid continuou prestando depoimentos. Na terça-feira (19), ele foi ouvido pela PF para esclarecer questões envolvidas a um suposto plano para matar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes.
Segundo a PF, informações sobre a suposta trama foram encontradas no celular e no computador de Cid. Os dados tinham sido apagados dos dispositivos, mas foram recuperados pela Polícia Federal. No depoimento, o militar disse desconhecer o suposto plano.
Nessa quinta, Cid participou de audiência no STF e explicou a Moraes eventuais omissões e contradições em outros interrogatórios dele. Depois de ser ouvido, o ministro manteve a validade da delação premiada do tenente-coronel.