Governo de Maduro chama assessor de Lula de ‘mensageiro do imperialismo’ dos EUA
Brasil vetou entrada do país vizinho nos Brics como membro associado; Celso Amorim chamou tensão de ‘mal-estar’
Brasília|Ana Isabel Mansur, do R7, em Brasília
O governo venezuelano do ditador Nicolás Maduro criticou nesta quarta-feira (30) o assessor especial para assuntos internacionais do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Celso Amorim. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela classificou Amorim como um “mensageiro do imperialismo norte-americano”, em resposta a recentes declarações do brasileiro em relação ao país vizinho. Maduro decidiu, ainda, convocar o embaixador venezuelano em Brasília (DF), Manuel Vadell, para “consultas imediatas”.
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O governo da Venezuela informou que as manifestações de repúdio às falas de Amorim foram apresentadas ao Encarregado de Negócios do Brasil no país. Procurado pelo R7, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro não respondeu aos questionamentos.
“O ministério convocou hoje o Encarregado de Negócios do Brasil, a fim de manifestar seu mais firme repúdio às recorrentes declarações intrometidas e grosseiras de porta-vozes autorizados pelo governo brasileiro, em particular os oferecidos por Celso Amorim, que, comportando-se mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano, tem se dedicado impertinentemente a emitir juízos de valor sobre processos que só lhe correspondem aos venezuelanos e suas instituições democráticas, o que constitui uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem os dois países”, diz a nota venezuelana (leia o texto completo abaixo).
O texto também critica o veto brasileiro à entrada da Venezuela nos Brics, grupo que, inicialmente, reunia Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Desde o início deste ano, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos fazem parte do bloco. Na 16ª Cúpula dos Brics, na semana passada, em Kazan, na Rússia, a Venezuela ficou de fora da lista dos países candidatos ao status de parceiros do grupo econômico, após articulação do Brasil.
“Da mesma forma, expressou-se o total repúdio à atitude antilatino-americana, contra os princípios fundamentais da integração regional, consumada no veto aplicado pelo Brasil na Cúpula do BRICS, com o qual a Venezuela foi excluída da lista de convidados a membros associados da referida organização [...] Da mesma forma, denunciamos o comportamento irracional dos diplomatas brasileiros, que, contrariando a aprovação dos demais membros do BRICS, assumiram uma política de bloqueio”, continua o texto venezuelano.
Amorim foi à Câmara dos Deputados nessa terça (29), para audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. “Há um mal-estar hoje. Torço para que desapareça, mas vai depender de algumas ações”, afirmou o assessor, que evitou chamar o governo de Maduro de ditadura.
Ele também destacou que, “formalmente, não houve veto”, porque não ocorreu uma votação em Kazan. “As decisões são tomadas por consenso, e o Brasil achou que neste momento a Venezuela não contribui para o melhor funcionamento dos Brics”, acrescentou, ao reiterar que a decisão é momentânea.
Nessa terça (29), o assessor de Lula também afirmou que o Brasil não concordou com a expansão desenfreada dos Brics e pontuou que os países convidados — foram 13 selecionados na semana passada — devem ser representativos nas suas regiões econômica e politicamente.
“A Venezuela de hoje não preenche essas condições. Não foi um veto. Porque existe esse mal-estar, que espero que possa se resolver à medida que as coisas se normalizem, os direitos humanos sejam respeitados, as eleições sejam realizadas, as atas apareçam”, completou Amorim. “Não foi ideológico sequer”, acrescentou, ao citar que o Brasil consentiu com o ingresso de Cuba e da Nicarágua, do ditador Daniel Ortega, que vive crise com o governo Lula.
A nota da Venezuela destaca, ainda, que o país reserva “no âmbito da sua política externa, as ações necessárias em resposta” à postura do Brasil nos Brics.
Nota do governo do ditador Maduro
O Ministério do Poder Popular para as Relações Exteriores da República Bolivariana da Venezuela convocou hoje o Encarregado de Negócios da República Federativa do Brasil, a fim de manifestar seu mais firme repúdio às recorrentes declarações intrometidas e grosseiras de porta-vozes autorizados pelo Governo Brasileiro, em particular os oferecidos pelo Assessor Especial para Relações Exteriores, Celso Amorim, que, comportando-se mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano, tem se dedicado impertinentemente a emitir juízos de valor sobre processos que só lhe correspondem aos venezuelanos e suas instituições democráticas, o que constitui uma agressão constante que mina as relações políticas e diplomáticas entre os Estados, ameaçando os laços que unem os dois países.
Da mesma forma, expressou-se o total repúdio à atitude antilatino-americana, contra os princípios fundamentais da integração regional, expressos na Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), bem como na longa história de unidade em nossa região, consumada no veto aplicado pelo Brasil na Cúpula do BRICS em Kazan, com o qual a Venezuela foi excluída da lista de convidados a membros associados da referida organização.
Da mesma forma, denunciamos o comportamento irracional dos diplomatas brasileiros, que, contrariando a aprovação dos demais membros do BRICS, assumiram uma política de bloqueio, semelhante à política de Medidas Coercitivas Unilaterais e punição coletiva de todo o povo venezuelano.
Foi-lhe dito que a Venezuela reserva, no âmbito da sua política externa, as ações necessárias em resposta a esta atitude, que compromete a colaboração e o trabalho conjunto que até agora foram desenvolvidos em todos os espaços multilaterais.
Por fim, informa-se a comunidade nacional e internacional que, seguindo instruções do Presidente Nicolás Maduro Moros, foi decidido convocar imediatamente o Embaixador Manuel Vadell, que nos representa em Brasília, para consultas.