Governo demite servidores da Abin presos por suspeita de uso indevido de sistema de geolocalização
A exoneração foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União; os envolvidos teriam praticado improbidade administrativa
Brasília|Laísa Lopes, do R7, em Brasília
Os servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Eduardo Izycki e Rodrigo Colli foram demitidos na noite desta sexta-feira (20). A exoneração foi publicada em uma edição extra do Diário Oficial da União. Os ex-servidores foram presos em uma operação da Polícia Federal, nesta quinta (20), por suposto uso indevido de sistemas de geolocalização para rastrear celulares sem autorização judicial.
Segundo a Casa Civil, eles foram demitidos por participar de gerência ou administração de sociedade privada, por exercer o comércio e por improbidade administrativa. O R7 tenta contato com a defesa dos acusados.
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De acordo com a Polícia Federal, o sistema de geolocalização permitia o monitoramento de até 10 mil celulares a cada 12 meses, bastando digitar o número da pessoa para ter acesso às informações. A aplicação também criava históricos de deslocamento e alertas em tempo real da movimentação dos aparelhos cadastrados.
Os alvos monitorados pela ferramenta seriam críticos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), além de minitros do STF, jornalistas, policiais e advogados.
As investigações demonstram que Colli e Yzycky sabiam das ilegalidades e teriam coagido colegas para evitar possíveis demissões. A polícia também cumpriu 25 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal, em São Paulo, em Santa Catarina, no Paraná e em Goiás. Os agentes encontraram mais de US$ 171 mil em espécie na casa de um dos suspeitos, em Brasília.
Os investigados podem responder pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.
O sistema
O programa FirstMile foi comprado por R$ 5,7 milhões da empresa israelense Cognyte, com dispensa de licitação, no fim do governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), em 2018. A ferramenta permitia o monitoramento de até 10 mil celulares a cada 12 meses. Além disso, a aplicação criava históricos de deslocamento e alertas em tempo real da movimentação dos aparelhos cadastrados.
Em março deste ano, a Abin afirmou que a tecnologia não está mais em uso desde 8 de maio de 2021. "Atualmente, a agência [Abin] está em processo de aperfeiçoamento e revisão de seus normativos internos, em consonância com o interesse público e o compromisso com o Estado democrático de Direito", informou na época a agência, em nota.