Guedes sobre 'servidor parasita': não acreditem em versão editada
Alegando distorções, o ministro rebateu a própria fala de 2020, mas aproveitou para pedir apoio à reforma administrativa
Brasília|Bruna Lima, do R7, em Brasília
O ministro da Economia, Paulo Guedes, relembrou, nesta quarta-feira (24), a polêmica em que se envolveu após comparar servidores públicos a "parasitas". Durante participação no 1º Seminário da Corregedoria da pasta, o economista tentou justificar o contexto da fala. "Não acreditem nas versões editadas [do] que eu falo", afirmou. Guedes aproveitou ainda para pedir o apoio dos próprios funcionários públicos à reforma administrativa.
Elogiando a categoria, o ministro lembrou a fala de fevereiro de 2020, quando disse que "o hospedeiro está morrendo, o cara [servidor] virou um parasita. O dinheiro não chega no povo e ele quer reajuste automático". "Estava fazendo referência à situação em que alguns municípios e estados se encontravam, chegando a quase 98%, 100% de toda a arrecadação sendo usada, basicamente, para a manutenção da própria máquina, sem chegar ao objetivo final", justificou-se.
Segundo Guedes, o discurso teria como objetivo enfatizar a necessidade de controlar os gastos dos entes federados. "Centenas não conseguem sequer pagar a própria folha. A União tem que prover esses recursos", continuou, dizendo que a fala foi interpretada como um xingamento. "Eu nunca xinguei. Minha mãe foi funcionária pública a vida toda."
À época, Guedes foi condenado a pagar uma indenização de R$ 50 mil ao Sindicato dos Policiais Federais da Bahia (Sindipol-BA), que entrou com uma ação de reparação por dano moral coletivo contra o economista em maio de 2020.
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Em um discurso apaziguador, desta vez Guedes buscou elogiar os servidores, agradecendo à categoria pela contribuição ao interromper o reajuste de salário durante a pandemia e destacou: "A produtividade do setor público subiu muito".
O ministro comparou a crise sanitária e econômica a uma guerra em que milhões de pessoas se encontravam ameaçadas e disse que, com o acordo, foi possível manter o Brasil girando, com parte dos servidores em home office e "a qualidade e a excelência que tem [o funcionalismo], os salários em nível relativamente bom em relação ao resto da economia brasileira".
Reforma administrativa
Durante a fala, Guedes voltou a defender a criação de regras para cobrar serviço dos funcionários públicos, por meio de uma reforma administrativa. "Não íamos atingir nenhum direito do funcionalismo público atual."
A ideia defendida pelo governo busca criar filtros para que os novos concursados conquistem a estabilidade. "Não é só fazer um concurso público e você ganhou estabilidade. Vai fazer o concurso e será avaliado em sua integridade, prestação de serviço, assiduidade, capacidade de trabalhar em equipe para merecer a estabilidade de emprego que os quadros atuais já têm."
Nesse sentido, Guedes pediu apoio justamente aos funcionários públicos que atuam sob as atuais regras. "O que estamos falando é de modernização do serviço público, digitalização, maior produtividade, meritocracia", defendeu.
A reforma, na avaliação de Guedes, é necessária não só para enxugar a máquina pública, mas para garantir um sistema mais saudável e que afaste as condutas corruptas. Segundo Guedes, o erro está no modelo, não nas pessoas em si. "Temos um modelo equivocado, com intervenção demais do Estado na economia, e que vai derrapando em direção à corrupção."
"Não estamos aqui para tentar fazer chapa de aço com prejuízo, [para promover] petróleo com lucro, às vezes até excessivo, pela concentração e verticalização do mercado. Estamos aqui justamente para fornecer serviço de qualidade dos serviços públicos para a população brasileira", disse Guedes, elogiando ainda a atuação da corregedoria da pasta e a integração com demais órgãos de controle.
O ministro citou a importância da Controladoria-Geral da União (CGU), da Advocacia-Geral da União (AGU) e do Tribunal de Contas da União (TCU) para "manter os altos padrões de integridade". "É melhor prevenir do que remediar."