O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quarta-feira (16) que o projeto do governo que isenta do Imposto de Renda quem recebe até R$ 5.000 por mês causou um “constrangimento moral” no país e que, por isso, os parlamentares não conseguem “falar mal” da iniciativa. A proposta foi enviada pela gestão de Luiz Inácio Lula da Silva ao Congresso Nacional em 18 de março. O texto ainda não tem data para ser votado, mas o Executivo quer que a medida valha já em janeiro de 2026. “Conseguimos montar um troço hoje… Nem no Congresso ninguém sobe na tribuna para falar mal, e tem muita gente no Congresso. Acredito que criamos um constrangimento moral no país. O que está sendo dito? O que está errado nesse projeto? Dá para melhorar? Vamos lá, tem uma ideia melhor? Até agora, não apareceu. Tudo bem, levamos mais de um ano para fazer esse projeto, então tem que dar um tempo para o povo pensar, para ver se aparece uma ideia melhor ainda ou que aperfeiçoe”, destacou Haddad, ao afirmar que está “confiante” na aprovação. Atualmente, a isenção no Imposto de Renda vale para quem recebe até dois salários mínimos por mês (R$ 3.036). Com a atualização do salário mínimo deste ano para R$ 1.518, o governo publicou a nova tabela nessa segunda (14).“O Ministério da Fazenda é o primeiro a se colocar de forma zero arrogante na mesa. Tem ideia melhor? Somos os primeiros a querer. Se tiver, vamos encampar, não tem essa de paternidade. A paternidade é da iniciativa, já é nossa, está ótimo, não queremos mais que isso. Colocamos o dedo na ferida, mas não temos compromisso com o erro ou com a vaidade. [Se] dá para melhorar, vamos melhorar. Tomamos a iniciativa e estamos aqui, humildemente, esperando sugestões. Mas estamos muito confiantes, até pela forma com que foi recebido, que vai ser difícil não aprovar”, opinou, em entrevista ao programa Sem Censura, da TV Brasil. Haddad aproveitou para criticar a oposição. “Quando você bota uma coisa na mesa, a primeira coisa que acontece do lado de lá é o cara [se perguntar]: ‘Como eu posso mentir para a população para esse projeto cair por terra?‘. E ficou todo mundo ‘como a gente faz com esse projeto?‘, [porque] nem fake news estão conseguindo fazer. É uma coisa incrível, nem mentir eles estão conseguindo”, acrescentou. O ministro comparou a medida à divisão de despesas em um edifício residencial. “Não vai doer para a cobertura o cara começar a pagar condomínio”. Isso porque, para compensar a isenção para quem recebe até R$ 5.000, o governo pretende taxar em até 10% as pessoas mais ricas do país (leia mais abaixo). A expectativa de Haddad é que os debates do projeto no Câmara dos Deputados comecem na próxima semana. No início de abril, o presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou que o deputado Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara, será o relator da proposta na comissão especial que vai analisar o tema. Como apurou o R7, uma ala do governo considera que a proposta não terá tramitação acelerada no Congresso, apesar de ter sido enviada com urgência constitucional. Assim, o texto deve tramitar normalmente pelas comissões permanentes da Câmara e do Senado.Interlocutores do governo federal consideram que a ampliação da isenção já está pacificada no Congresso. A principal discussão deve ser a fonte de compensação do projeto. Para bancar a isenção do IR a quem ganha até R$ 5.000, o projeto propõe cobrar taxar os mais ricos do país. São 141 mil contribuintes (0,13% do total) que passarão a pagar um valor mínimo de Imposto de Renda. Esse grupo é composto por aqueles que recebem mais de R$ 600 mil por ano, ou seja, ao menos R$ 50 mil por mês, e não contribuem com uma alíquota efetiva de até 10%.Esse é o ponto mais criticado do projeto. A oposição, por exemplo, é contrária a esse imposto e sugere que o governo compense a isenção com corte de gastos internos. Apesar das críticas, o Planalto acredita que o Congresso vai ampliar a compensação — não a modificar e retirar a cobrança aos mais ricos.Fique por dentro das principais notícias do dia no Brasil e no mundo. Siga o canal do R7, o portal de notícias da Record, no WhatsApp