Mesmo antes de tarifaço, taxa de 10% imposta pelos EUA reduziu exportações de oito produtos brasileiros, diz entidade
Segundo levantamento da Amcham, celulose, máquinas e manufaturas de madeira foram os mais afetados
Brasília|Do R7, em Brasília
RESUMO DA NOTÍCIA
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Mesmo antes da nova tarifa de 50% anunciada pelos Estados Unidos para produtos brasileiros, as exportações ao mercado norte-americano apresentam retração, reflexo da alíquota de 10% em vigor desde abril.
A informação consta em levantamento da Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio para o Brasil), que aponta queda nas vendas de setores estratégicos, apesar do bom desempenho geral do comércio exterior no primeiro semestre.
Entre os dez principais produtos com queda nas exportações, oito integram a lista dos que sofrerão aumento tarifário. São eles: celulose (-14,9%), motores (-7,6%), máquinas e equipamentos (-23,6%), manufaturados de madeira (-14,0%) e autopeças (-5,6%).
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A Amcham defende uma mobilização diplomática entre os dois governos para alcançar uma solução “pragmática e equilibrada”.
Segundo a entidade, os impactos sobre empregos, investimentos e cadeias produtivas exigem resposta pautada por diálogo, previsibilidade e racionalidade.
Abrão Neto, presidente da Câmara, destaca que o país está diante de um grave cenário, com potencial de inviabilizar boa parte das exportações brasileiras aos Estados Unidos, principalmente de bens industriais, trazendo prejuízos para ambas as economias.
“O entendimento deve prevalecer, como sempre caracterizou as relações entre os dois países”, aponta.
O alerta surge mesmo diante de dados consolidados do comércio bilateral no primeiro semestre de 2025. O relatório indica superávit de US$ 1,7 bilhão para os Estados Unidos em relação ao Brasil — aumento de 500% frente ao mesmo período do ano anterior.
Embora a corrente de comércio tenha crescido 7,7%, somando US$ 41,7 bilhões — o segundo maior valor da série histórica —, os efeitos das tarifas sobre setores-chave se tornam mais evidentes.
“Os dados confirmam a importância do comércio bilateral e reforçam a urgência de buscar uma solução racional frente à escalada tarifária prevista para os próximos meses”, acrescenta Abrão.
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Setores em alerta
Entidades como a AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil) também demonstram preocupação com os efeitos da medida. Em nota, classificou a taxação como “ameaça não só aos exportadores, mas à economia nacional”.
Apesar da crítica, a AEB demonstra otimismo quanto à possibilidade de reversão: “Acreditamos que o bom senso prevalecerá”.
O presidente-executivo da associação, José Augusto de Castro, reforça que a iniciativa tem forte motivação política, embora provoque impacto direto na economia.
“É, sem dúvida, uma das maiores taxações já impostas a um país no comércio internacional, geralmente aplicadas a adversários históricos — o que nunca descreveu a relação com o Brasil. Além disso, o anúncio da Casa Branca pode afetar a imagem do país e inibir compradores estrangeiros. Quem quer correr o risco de se indispor com o presidente Trump?”, questiona.
O agronegócio brasileiro também entra no centro das preocupações. Segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, as tarifas tendem a comprometer receitas, desestabilizar o mercado e pressionar os preços pagos ao produtor.
Produtos mais expostos às tarifas
- Suco de laranja
- Café
- Carne bovina
- Frutas frescas (manga e uva)
No caso do suco de laranja, há sensibilidade elevada. Hoje, já existe uma tarifa fixa de US$ 415 por tonelada.
Com a sobretaxa de 50%, os custos aumentariam consideravelmente, comprometendo a competitividade do Brasil, que fornece 80% do volume importado pelos Estados Unidos — responsáveis por 90% do consumo interno.
A carne bovina também está sob risco. Os Estados Unidos são o segundo maior mercado comprador, atrás da China (49%). No primeiro semestre, empresas norte-americanas adquiriram 12% do total exportado, com picos superiores a 40 mil toneladas/mês entre março e abril — um movimento interpretado como antecipação às tarifas.
Os principais estados exportadores são São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul.
As frutas frescas, especialmente manga e uva, também estão em posição delicada.
No caso da manga, a janela crítica de exportação começa em agosto, e já há relatos de embarques adiados diante da indefinição tarifária. A uva, com safra relevante para os EUA iniciando em setembro, está sob monitoramento.
Antes do anúncio, a expectativa era de crescimento nas exportações, impulsionado pela valorização cambial e maior produtividade. Agora, o cenário impõe incertezas e possível retração nos preços.
Diplomacia como alternativa
Diante do agravamento do quadro, especialistas defendem o diálogo como principal ferramenta de resolução. Para a economista Carla Beni, da FGV, a condução brasileira deve seguir os princípios da diplomacia tradicional.
“Mesmo com base legal para reciprocidade, o caminho começa com conversas bilaterais. A segunda etapa é recorrer aos organismos internacionais. Só então considerar qualquer reação mais dura”, afirmou à Record News.
Alfredo Cotait Neto, presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil, foi enfático: “Enfrentar os Estados Unidos diretamente seria um desastre absoluto.”
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