PF prende suspeito de envolvimento em espionagem ilegal pela Abin
Segundo as investigações, um dos suspeitos recebia conteúdos de desinformação produzidos pela organização criminosa e os disseminava
Brasília|Natália Martins, da RECORD
A Polícia Federal prendeu um homem suspeito de ter envolvimento no suposto uso ilegal de uma ferramenta da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para monitorar autoridades brasileiras. Policiais federais cumprem também dois mandados de busca e apreensão, expedidos pelo STF (Supremo Tribunal Federal). O alvo do mandado de prisão foi o assessor parlamentar Daniel Ribeiro Lemos, do PL (Partido Liberal).
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Segundo as investigações, Lemos era influencer e recebia e disseminava fake news produzido pela associação criminosa que atuava na Abin valendo-se de seu acesso ao parlamento federal. O material também era enviado a agentes estrangeiros, induzindo-os ao erro. Mesmo após a desarticulação do grupo, ele continuou difundindo notícias falsas por meio de redes sociais.
Os investigados podem responder, na medida de suas responsabilidades, pelos crimes de organização criminosa, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, interceptação clandestina de comunicações e invasão de dispositivo informático alheio.
Como funcionava a espionagem
O uso irregular de um sistema da Abin para monitorar autoridades brasileiras, jornalistas e advogados começou a ser investigado em 2023. Conforme a apuração, o programa First Mile permitia o monitoramento de milhares de pessoas — e teriam sido feitos 60 mil acessos a ele em dois anos e meio.
Segundo a PF, para acionar o sistema de geolocalização e ter acesso às informações das pessoas, bastava digitar o número do celular. A aplicação também criava históricos de deslocamento e alertas em tempo real da movimentação dos aparelhos cadastrados.
Entre os monitorados ilegalmente, estariam os ministros do STF Gilmar Mendes e Alexandre de Morais, além de Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara dos Deputados.
Relembre outras fases da operação
A operação Última Milha, da Polícia Federal, investiga o suposto uso ilegal da estrutura da Abin para espionagem ilegal de adversários políticos da família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O esquema teria funcionado sob a gestão do ex-diretor-geral da agência Alexandre Ramagem, hoje deputado federal.
No dia 30 de janeiro deste ano, nove mandados de busca e apreensão foram cumpridos. Segundo a corporação, as mensagens indicam que “o núcleo político [do esquema] possivelmente se valia de Ramagem para obtenção de informações sigilosas e/ou ações ainda não totalmente esclarecidas”.
Em 25 de janeiro deste ano, Ramagem foi alvo de buscas e apreensões em endereços ligados a ele. Na ocasião, os agentes estiveram, por exemplo, no gabinete do parlamentar na Câmara dos Deputados e no aparamento funcional dele, ambos em Brasília.
À época, as investigações apontaram indícios de que Ramagem, inclusive, continuou recebendo informações de dentro da Abin mesmo depois que deixou o comando do órgão.