Plano Real foi fruto de debate acadêmico de mais uma década, diz ex-ministro Pedro Malan
História do plano que estabilizou a economia brasileira é tema de documentário do PlayPlus, com estreia em 1º de julho
Brasília|Hellen Leite, do R7, em Brasília
Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda e um dos principais arquitetos do Plano Real, afirmou que o sucesso na elaboração e implementação do plano que pôs fim à hiperinflação no Brasil foi fruto de uma década de discussões acadêmicas. Ele cita também diversas tentativas de estabilização econômica, incluindo os planos Cruzado, Bresser, Verão e Collor (entenda cada um desses planos mais abaixo).
Malan fez esses comentários durante um encontro comemorativo dos 30 anos do Plano Real, ao lado de outros “pais do Plano”, como Pérsio Arida, Edmar Bacha, Gustavo Franco e Armínio Fraga. Os economistas contam bastidores da estabilização da economia brasileira no documentário “Real: O Plano que Mudou o Brasil” produzido pela equipe do Jornal da Record para o PlayPlus.com, com estreia em 1º de julho.
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“Foi, pelo menos, uma década de discussões acadêmicas entre economistas, em particular no Departamento de Economia da PUC [Pontifícia Universidade Católica], a partir da criação do seu mestrado em 1978/79 até o início dos anos 1980/1990, que essa discussão teve lugar intensa sobre como lidar com os problemas de uma inflação alta, crônica e crescente que fez com que nós fossemos o país com maior alta de inflação acumulada desde o início dos anos 1960 até o início dos anos 1990″, destacou.
“Era necessário fazer algo com certa urgência. E teve um aprendizado também nos anos anteriores, com o Cruzado 1, o Cruzado 2, o Plano Bresser, o Plano Verão, o Collor 1, Collor 2. Então, houve antecedentes de pelo menos uma década de discussões entre economistas e com a sociedade, acompanhados pela imprensa, e também as experiências e aprendizados com as tentativas de estabilização pré-Real. Não foi uma coisa que veio da mente, uma sacada brilhante ou espécie de milagre”, completou.
Malan também destacou que as decisões e a coordenação de Fernando Henrique Cardoso, primeiro como Ministro da Fazenda no governo Itamar Franco e, posteriormente, como Presidente da República, foram parte importante para o processo de estabilização econômica do país.
“Constituiu-se um grupo de pessoas que se conheciam de longa data, que respeitavam e admiravam FHC. Ele teve um ‘núcleo duro’, uma equipe que, com discussões, foi capaz de fazer algo importante. Também houve um programa de ação imediata que foi divulgado três semanas depois que FHC assumiu o Ministério da Fazenda [em maio de 1993], e que foi muito importante porque já definia um rumo, um sentido, uma direção, um propósito que vai muito além de uma preocupação com o controle da inflação”, completou.
A entrada em circulação do real em 1º de julho de 1994 transformou o cenário de uma inflação galopante, que atingiu 4.922% no acumulado em doze meses até junho de 1994, às vésperas do lançamento da nova moeda. A inflação, que terminou 1994 em 916%, caiu drasticamente para 22% em 1995.
Desde então, mesmo enfrentando várias crises internacionais e internas que desafiaram a estabilização econômica, o IPCA acumulado em 12 meses ultrapassou 9% apenas em raras ocasiões. Para efeito de comparação, a inflação em 2023 foi de 4,6%.
“Temos muito o que comemorar. Ao mesmo tempo, temos muito ainda que caminhar em termos de reforma para que o Brasil possa lidar com problemas fundamentais e responda a perguntas básicas como por que o Brasil cresce pouco e por que é tão difícil fazer reformas no país”, concluiu Malan.
Conheça os planos anteriores ao Plano Real
Planos Cruzado 1 e 2
Lançados em 1986, visavam estabilizar a economia brasileira através da troca do cruzeiro pelo cruzado, corte de três zeros na moeda, congelamento de preços e da taxa de câmbio, e mecanismos como o “gatilho salarial” e a “tablita” para ajustar salários e dívidas à alta inflação. Inicialmente, o Plano Cruzado I reduziu a inflação e aumentou o poder aquisitivo da população, mas o congelamento de preços causou desequilíbrios financeiros e escassez de produtos.
Já o Plano Cruzado II tentou corrigir esses problemas com descongelamento de alguns preços, aumento de impostos e tarifas, mas a valorização artificial do cruzado e o consequente déficit nas reservas internacionais levaram o Brasil a declarar moratória da dívida externa em 1987, com a inflação retornando aos dois dígitos.
Plano Bresser
Lançado em junho de 1987, o plano teve como mote um novo congelamento de preços e a extinção do gatilho salarial. Para promover o superávit comercial e fortalecer as reservas internacionais, a taxa de câmbio oficial foi desvalorizada. Foi criada a Unidade de Referência de Preços (URP) para reajustes de preços e salários. Inicialmente, a inflação mensal caiu de 19,71% em junho para 4,87% em agosto de 1987, mas logo voltou a subir devido à remarcação generalizada de preços e o não cumprimento do congelamento de preços.
Plano Verão
Foi lançado em janeiro de 1989 e substituiu o Cruzado pelo Cruzado Novo, além disso, foi implementado um novo congelamento de preços para tentar desindexar a economia. Embora inicialmente tenha reduzido a inflação, com o IPCA caindo para 6,82% ao mês em março de 1989, logo enfrentou novo aumento inflacionário, alcançando 17,92% em maio e terminando o ano com uma taxa anual de 1.972,91%.
Planos Collor 1 e 2
O Plano Collor 1, conhecido como “Brasil Novo”, foi implantado em março de 1990, após a posse de Fernando Collor de Melo, primeiro presidente eleito por voto direto desde o regime militar. Entre as medidas mais controversas estava o confisco de depósitos bancários, com exceção de retiradas limitadas a 50 mil Cruzados Novos por 18 meses. O plano também reintroduziu o Cruzeiro como moeda, sem corte de zeros, e incluiu congelamento de preços e salários. No entanto, não conseguiu conter a inflação, que atingiu 1.621% ao ano em 1990.
Com o fracasso do primeiro plano, foi colocado em prática o Plano Collor 2, anunciado em janeiro de 1991, que continuou com congelamento de preços e salários e introduziu mudanças nas contas indexadas de curto prazo e na taxa de referência. Apesar de uma breve contenção inicial da inflação, a taxa mensal acelerou novamente rapidamente, refletindo a instabilidade econômica e política da época.
Documentário “Real: O Plano que Mudou o Brasil”
A história da elaboração do Plano Real e da estabilização da economia brasileira é detalhada em um documentário produzido pela equipe do Jornal da Record. Em três episódios, personalidades como Fernando Henrique Cardoso, Pérsio Arida, Pedro Malan, Gustavo Franco e Edmar Bacha compartilham os bastidores da trajetória histórica.
Os episódios estreiam em 1º de julho no PlayPlus.com, o serviço de streaming multiplataforma da RECORD, oferecendo acesso exclusivo a conteúdos originais e transmissão ao vivo simultânea da emissora.