Por que Lula precisa repetir exames após sofrer traumatismo craniano? Especialistas explicam
Medidas vão identificar se houve sangramento dentro do cérebro e, assim, evitar impactos mais drásticos após o acidente
Brasília|Plínio Aguiar, do R7, em Brasília
Especialistas apontam a necessidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizar novos exames para detectar a possibilidade de sangramento interno, após ter sofrido acidente doméstico no Palácio da Alvorada, em Brasília. Segundo médicos, o petista sofreu um traumatismo craniano e deve seguir em observação. Apesar do incidente, o presidente está bem e já se reuniu com integrantes do governo na segunda-feira (21).
Leia mais
Lula caiu no banheiro no Palácio da Alvorada no último sábado (19). O presidente foi levado para uma unidade de um hospital particular em Brasília, onde o ferimento na nuca foi tratado. Ele levou cinco pontos no local. Após o atendimento médico, foi liberado. No dia seguinte, retornou na unidade hospitalar para novos exames.
Já nesta terça-feira (22), Lula realizou uma nova ressonância. “O exame de imagem está estável em comparação ao anterior, com programação de realizar novo exame de controle em 72h. Encontra-se apto a exercer sua rotina de trabalho”, diz o novo boletim médico.
De acordo com relatos de pessoas próximas, o presidente não chegou a perder a consciência durante o acidente doméstico e está ativo na primeira reunião de trabalho após o incidente. “O presidente está muito ativo, superbem, mantendo contato diretamente com o ministro Mauro Vieira [Itamaraty], que está na reunião dos Brics, na Rússia [...] O presidente, em nenhum momento, perdeu qualquer nível de consciência, [ou teve] desorientação. Ele mesmo que, ao cair, procurou fazer contato com a equipe do Palácio do Alvorada de primeiros cuidados. É algo muito positivo em acidente como esse”, disse o ministro Alexandre Padilha após se reunir com Lula, na segunda-feira (21).
Avaliação de especialistas
Ao bater a cabeça, o presidente sofreu um traumatismo craniano. Segundo a médica emergencista Emilly Tavares, que atua em um hospital privado de Brasília, considera-se “um traumatismo craniano todos aqueles acidentes que envolvem traumas na região craniana, seja leve, moderado ou grave, de acordo com o nível de consciência”.
O neurocirurgião e coordenador da área de neurocirurgia em um hospital privado da capital federal André Meireles Borba argumenta a necessidade dos novos exames. “Geralmente há uma transferência de energia na hora que sofre a queda. Há um mecanismo de aceleração e desaceleração quando o crânio bate no solo. E esse movimento pode chocalhar por dentro, o que pode levar a uma lesão, seja do tecido cerebral ou das estruturas. Então a questão é saber o quanto de energia não foi transferida para dentro do crânio, o quanto teve de impacto da contusão que foi para dentro do cérebro. E isso vai ser mostrado nos próximos exames”, pontua.
Segundo o boletim médico, Lula deu entrada no hospital em Brasília após acidente doméstico, com ferimento corto-contuso em região occipital. O especialista em clínica médica e doutor em ciências médicas pela Universidade de Brasília Lucas Albanaz explica os termos usados pelos profissionais que cuidam da saúde de Lula.
“O boletim médico fala em ferimento corto-contuso em região occipital, que significa dizer que o presidente bateu em uma superfície que causou contusão e corte na nuca, atrás da cabeça. E esse tipo de ferimento requer observação e avaliação”, diz.
Albanaz relata ainda que as primeiras 12 horas são as mais importantes em acidentes deste tipo. “Justamente para avaliar a condição neurológica, para ver se teve rebaixamento de consciência ou sonolência excessiva; para entender os sinais vitais, de pressão arterial e cardíaca, as dores queixadas pelo paciente. Como teve sangramento, é importante repetir exame de imagem para ver se teve evolução, se sangrou dentro. E tem que ficar os próximos dias em observação”.
Nesses casos, o neurocirurgião Meireles destaca que o melhor caminho é a prevenção. “No caso de traumatismo craniano em idoso, a melhor coisa é prevenir. Tem que cuidar da saúde, tem que adaptar o ambiente. Os principais complicadores são o traumatismo craniano e o quadril. E o presidente fez a prótese no ano passado e agora bateu a cabeça. Então tem que tomar cuidado”, diz.
Segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde), de 28% a 35% das pessoas com 65 anos ou mais caem a cada ano. O número aumenta de 32% a 42% para aqueles com mais de 70 anos, que é o caso do presidente brasileiro. As quedas são responsáveis por 40% de todas as mortes de pessoas da terceira idade relacionadas a lesões.