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Queda de braço entre Lula e mercado não dá sinais de trégua, analisam especialistas

Presidente e agentes financeiros tiveram embates ao longo do ano, com ênfase no cenário da apresentação e avaliação do pacote fiscal

Brasília|Plínio Aguiar, do R7, em Brasília

Queda de braços entre Lula e mercado não dá sinais de trégua em breve, aponta especialistas Ricardo Stuckert/PR - 16.12.2024

A queda de braço entre Luiz Inácio Lula da Silva e o mercado não dá sinais de trégua em um futuro próximo, analisam especialistas econômicos ouvidos pelo R7. O impasse ganhou novos contornos com o pacote fiscal anunciado pelo governo federal. Se por um lado há indicadores nacionais com resultados positivos, por outro, existe a avaliação de um ambiente fiscal em crise. E os movimentos de críticas entre os atores devem continuar.

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“Não há dúvida de que os indicadores melhoraram, mas há uma parte que está negativa nesse final de ano, principalmente com a tempestade perfeita que é o cenário com a alta do dólar. Não vai ter paz em breve. Mas a questão é: quem perde com essa briga é o país. Em termo estrutural, os bons índices que devem ser comemorados e também a regulamentação da reforma tributária. Na área conjuntural a perspectiva de crescimento econômico ainda maior. O problema é que com as discussões, os louros das medidas, evaporam-se, perdem o brilho”, disse o economista e professor da UnB (Universidade de Brasília) César Bergo.

As críticas de Lula, do governo e do PT se concentram em Roberto Campos Neto, presidente do BC (Banco Central) indicado por Jair Bolsonaro (PL). O principal argumento é a alta taxa de juros, atualmente em 12,5%, uma das maiores do mundo. O índice faz com que a atividade econômica e o mercado de trabalho sejam desacelerados, a fim de provocar um recuo na inflação, que está equilibrada. O mandato do economista à frente do órgão monetário se encerra neste mês e, a partir de janeiro de 2025, o posto será comandado por Gabriel Galípolo, indicado pelo atual chefe do Executivo.

Diante desse cenário, o professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e economista Hugo Garbe acredita na realidade positiva dos índices econômicos, mas afirma que as críticas de Lula ao presidente do BC, principalmente o futuro, devem ser comedidas. “O governo não vai ter mais essa desculpa, de que o problema é o Banco Central. Se o presidente continuar criticando excessivamente o Galípolo, que ele indicou, vai ser um tiro no pé. Então a narrativa deve se encerrar em determinado momento, claro, dependendo também do perfil que o futuro chefe do BC assumir”, avalia.


Caem na conta de Lula os seguintes resultados econômicos: redução de 40% da extrema pobreza, redução de 20% no desemprego, aumento de 8,3% de ganho real no rendimento médio, crescimento de mais de 3% do PIB (Produto Interno Bruto), aumento de 1,83 milhão de novas vagas de empregos formais, entre outros. No entanto, o mercado financeiro, que argumenta que há necessidade de contenção de gastos públicos. Em relatório, o Tesouro Nacional apontou que o crescimento dos gastos obrigatórios e de despesas não obrigatórias, como emendas parlamentares, poderá levar o Executivo a enfrentar um apagão em 2032.

Na tentativa de solucionar o quadro fiscal, o governo apresentou um pacote de revisão de gastos. Nos cálculos do Executivo, o impacto seria de R$ 327 bilhões nos próximos cinco anos. Mas, com as alterações das propostas feitas pelos congressistas, a Fazenda estima uma redução de R$ 2,1 bilhões na economia em dois anos. Entre os exemplos estão correção das regras do salário mínimo e acesso ao BPC (Benefício de Prestação Continuada). O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chegou a transmitir o apelo de Lula para que os projetos não fossem modificados.


“A briga toda do mercado é em relação as políticas públicas que Lula tem feito, por exemplo, na distribuição de renda. Pela primeira vez estamos vendo mudanças. Mas o mercado exige que o governo faça de forma tradicional, como é o Roberto Campos Neto. Se o governo não faz do jeito que eles querem, o mercado chantageia. O cenário atual, por exemplo, em que o Banco Central deixou o dólar subir muito e agora está enxugando gelo. O estrago está feito. Como se diz no meio da Faria Lima, o mercado sabe que o Banco Central está no ‘corner’”, afirmou o economista Newton Marques.

De acordo com os especialistas, a queda de braço não dá sinais de trégua. “Lula deve ficar ao lado de Galípolo, mas não podemos dizer o mesmo do PT. Inclusive, teve fogo amigo com o Haddad, que mira em 2026. Então o início do ano deve ser turbulento. O presidente poderia segurar um pouco mais [as críticas], porque o país está indo bem, apesar da tempestade econômica deste fim de ano. Então, tem que ter controle”, ponderou o professor da UnB César Bergo.


Ataque especulativo

Em meio à votação do pacote fiscal pelo Congresso Nacional, houve a denúncia de ataque especulativo contra o real. Em escalada, a moeda norte-americana alcançou novo recorde e atingiu a máxima de R$ 6,30, levando o Banco Central a realizar duas intervenções no mercado de câmbio na manhã de quinta-feira (19).

Tratam-se das primeiras intervenções do BC na questão cambial no governo Lula. Na época de Jair Bolsonaro, foram mais de 300 ingerências. Segundo Bergo, há três formas de a autoridade monetária intervir no mercado: empréstimo, swap cambial e spot. “Os dois primeiros não reduzem a reserva, mas a do dólar, sim, e são bilhões geralmente”, explica o professor da UnB.

“O mercado está ansioso em relação ao dólar, tem feito leilão para conter a alta da moeda. Enfim, o primeiro trimestre tende a ser decisivo nessa questão. Mas uma analogia simples: estou bem de vida, comprei um carro de ponta, mas estou endividado e a dívida só aumenta. Então, essa relação de bem-estar é a qual preço? Nessa guerra de narrativas, ninguém está mentindo. A economia é uma ciência de equilíbrio, e essa falta de equilíbrio na economia está preocupando muita gente”, argumenta Garbe.

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