Vídeo: em depoimento, jornalista diz que já chegaram o esfaqueando
Gabriel Luiz ainda contou à polícia que, no ínício deste ano, recebeu uma marmita em casa sem identificação do remetente
Brasília|Emerson Fonseca Fraga, do R7, em Brasília
O jornalista Gabriel Luiz, que recebeu dez facadas em 14 de abril, no Sudoeste, região nobre do Distrito Federal, disse na última segunda-feira (25), em depoimento à Polícia Civil, que os agressores não anunciaram o suposto assalto ao abordá-lo e já começaram a esfaqueá-lo. "Do nada ele foi me esfaqueando", relata a vítima, que recebeu alta da UTI e está em um quarto do hospital. Veja acima a íntegra do vídeo do depoimento.
"Eles pegaram mais na minha corrente, mas não senti que eles pegaram minhas coisas, tanto que eu sinto que caiu no chão na hora. Não foi como se eles pegassem do meu bolso. Não lembro direito, mas pareceu que não era o foco deles. Não era [a intenção] pegar minhas coisas... A impressão que tinha era essa."
O relato de Gabriel não confirma o resultado do inquérito policial, que concluiu que houve uma tentativa de latrocínio (roubo seguido de morte). O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios também denunciou, nesta terça-feira (26), José Felipe Leite Tunholi, de 19 anos, pelos crimes de tentiva de latrocínio e corrupção de menores. Ele pode ser condenado a uma pena de mais de 24 anos de prisão. O outro autor, de 17 anos, deverá responder por infração análoga ao primeiro crime e, por ser adolescente, só poderá ficar internado até completar 21 anos.
No depoimento, Gabriel relata que saiu de um bar no Sudoeste, onde comemorava a promoção de um amigo e, quando estava a "dois passos" de casa, foi supreendido pelos criminosos. "Eu já tava bem perto, subindo uma rampinha, subindo pra casa e aí me parou na frente, me segurou no pescoço, e aí falou alguma coisa que agora eu não me recordo muito bem, se era 'acabou' ou 'perdeu'. Mas eu tenho quase certeza que era acabou", contou.
Marmita sem remetente
Apesar de contar que não foi alvo de ameaças recentes, Gabriel Luiz diz que tomou um susto entre fevereiro e março deste ano, quando foi entregue uma marmita com comida na casa dele sem identificação de remetente.
"O que me assustou ultimamente, acho que foi em fevereiro ou março [...], é que eu recebi uma marmita dentro de casa, como se fosse um pacote de iFood [aplicativo de entrega de comida]. O pessoal da portaria me ligou falando assim: 'Gabriel, tem lanche pra você'. Eu falei: mas eu não pedi nada. Aí eles: 'não, é pra você mesmo. O cara entregou aqui e disse que é pra você'. Aí achei estranho e fui lá ver. Não tinha etiqueta. Normalmente no iFood você tem aquele cupom fiscal e tal que aparece, e não aparecia nada. Aí liguei pro meu pai, pra minha mãe, pra todo mundo de amigo. Você me mandou alguma coisa? E era pra mim. Falaram que era pra mim. Claro que eu não comi, mas eu fiquei assustado."
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Documentos por correio
Gabriel Luiz contou ao delegado que recebe, com frequência, documentos em casa sugerindo reportagens, mesmo nunca tendo divulgado seu endereço. "Eu percebo que eu recebo, no meu endereço, por exemplo, cartas. Não cartas de ameaça. Mas, assim, eu recebo dossiês e tudo mais. Então se uma pessoa, para o bem, tem acesso, para o mal também tem", afirmou.
Ameaças
Ele afirmou ainda que já recebeu ameaças concretas. "Eu sempre estou em alerta por causa das matérias que eu faço, né? Tanto que brincam lá no trabalho que, se acontecer alguma coisa comigo, ninguém vai saber quem é. Porque um dia eu falo de política, outro dia eu falo de suspeita de quadrilha, de não sei o quê... Então, qualquer hora pode ser qualquer pessoa. Por causa disso, estou sempre com um pé atrás com relação a ameaças e tudo mais. Algumas chegam de forma concreta."
Matéria sobre clube do tiro irregular
Quatro dias antes de sofrer as facadas, uma reportagem de Gabriel Luiz sobre um clube do tiro irregular na região de Brazlândia, no Distrito Federal, foi colocada no ar pela TV Globo, onde trabalha. Ele disse que ficou receoso com a repercussão, já que o clube foi fechado pelo Exército em seguida.
"A única coisa que me deixou assim, com medo, foi a história do clube do tiro, né? Que era um clube que a gente mostrou que tava sendo irregular e depois ele foi fechado porque tinha projétil saindo de lá. Então, até fiquei assustado, pensando: será que vai acontecer alguma coisa comigo por causa disso?", disse.
Apesar de não ter recebido ameaças diretas por causa da matéria, o jornalista conta no depoimento que "os moradores relataram que estavam sendo ameaçados".