Em crise, Americanas fecha acordo de R$ 24 bilhões com credores
Parte da capitalização é feita com recursos dos três maiores acionistas da varejista, que anunciou em janeiro rombo de R$ 20 bi
Economia|Do R7, com Agência Estado
Após meses de negociações, a Americanas fechou um acordo com credores em torno do plano de recuperação judicial. A companhia receberá uma capitalização, uma espécie de injeção de recursos, de R$ 24 bilhões, que será dividida entre seus maiores acionistas, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. Está prevista, ainda, a conversão de dívida pelos bancos credores.
A expectativa é que, após a implementação do plano, a dívida bruta da empresa caia para R$ 1,87 bilhão. No fim de 2022, dado mais recente, a dívida bruta era de R$ 37,33 bilhões.
O acordo, firmado nesta segunda-feira (27), foi aceito por titulares de mais de 35% da dívida da companhia, excluídos os créditos intercompany (credores apoiadores).
•Clique aqui e receba as notícias do R7 no seu WhatsApp
• Compartilhe esta notícia no WhatsApp
• Compartilhe esta notícia no Telegram
• Assine a newsletter R7 em Ponto
A rede varejista afirma que outros credores que participam das negociações mostraram interesse, de forma não vinculante, em apoiar o plano e que conduzem processos internos de aprovação para entrar no acordo assinado hoje.
As negociações se estenderam ao longo do fim de semana. Bancos como Bradesco, Itaú Unibanco, Santander Brasil e BV sugeriram, de maneira informal, concordância com os termos do acordo, e outros analisavam internamente questões jurídicas, embora também fossem favoráveis à aprovação.
Havia a expectativa de finalizar as negociações neste domingo (26), mas elas acabaram se estendendo para esta segunda. O acordo ainda depende de aprovação na AGC (assembleia-geral de credores), convocada para 19 de dezembro.
Leia também
O acordo prevê que as partes darão suporte às iniciativas de reestruturação da Americanas previstas no plano, como a capitalização, e que votarão a favor do plano de recuperação judicial da companhia na AGC.
Além disso, faz com que as partes se comprometam a participar do aumento de capital da empresa e a não tomar medidas contrárias aos termos do acordo ou às transações do plano.
A Americanas receberá um aporte de R$ 12 bilhões por parte de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, acionistas de referência da companhia, o que inclui o empréstimo DIP (debtor-in-possession, concedido a empresas em dificuldades) de R$ 2 bilhões.
Os credores converterão o mesmo montante em ações da companhia. Todos os demais acionistas terão direito de preferência, segundo a Americanas. No aumento de capital, a cada três ações emitidas, haverá um bônus de subscrição adicional, ao preço de exercício de R$ 0,01.
Após o aumento de capital de R$ 24 bilhões ao todo, a Americanas destinará até R$ 8,7 bilhões para pagar os credores financeiros, por meio de um leilão reverso de R$ 2 bilhões ou, então, do pagamento antecipado de créditos com desconto, ao qual serão destinados R$ 6,7 bilhões.
Depois dessas operações, a empresa prevê que sua dívida bruta cairá para até R$ 1,875 bilhão, deixando sua estrutura de capital mais leve que a atual.
Além disso, após o aumento de capital, a Americanas vai realizar uma assembleia-geral de acionistas para eleger uma nova chapa para compor o conselho de administração. O mandato será de dois anos e permitirá a recondução por mais dois.
A varejista afirma ainda que terá de obter, até a data da AGC, uma autorização societária para incluir no plano de recuperação a previsão de que as ações emitidas no aumento de capital tenham seu preço fixado de acordo com o preço médio de mercado ponderado pelo volume nos 60 dias correntes anteriores.
A companhia prevê que, se obtiver essa aprovação, o preço de emissão de cada papel será de 1,33 vez o preço médio nesse período. Essa necessidade foi incluída por demanda dos credores. Se não for cumprida, informa a empresa, o acordo pode ser extinto.
Fiança
Com os credores apoiadores, a Americanas conseguiu uma prerrogativa firme para obter fianças bancárias ou seguros-garantia de R$ 1,5 bilhão, com validade de dois anos após a conclusão da reestruturação aplicável a esses credores ou até o encerramento da recuperação judicial, o que acontecer primeiro.
Outros credores que sejam elegíveis a essa opção poderão aderir à garantia até a véspera da AGC.
Em contrapartida, segundo a companhia, os credores que assinarem o plano nas condições descritas terão o direito de receber uma parcela do montante de R$ 1,5 bilhão a partir do pagamento antecipado de créditos, de R$ 6,7 bilhões, previsto no plano. Ou seja: ganharão lugar na fila de credores da empresa.
Entenda a crise
No dia 11 de janeiro, o então presidente da Americanas, Sérgio Rial, deixou o cargo depois de, supostamente, ter descoberto um rombo de R$ 20 bilhões no balanço financeiro da companhia.
O saldo negativo teria se dado por "inconsistências contábeis". Para efeito de comparação, o patrimônio líquido da organização até aquele momento era de R$ 14,7 bilhões. Em outras palavras, a Americanas estava devendo mais do que ela própria valia.
No dia 19 de janeiro, a 4ª Vara Empresarial da Comarca do Rio de Janeiro aceitou o pedido de recuperação judicial da companhia que, na petição encaminhada à Justiça, informou ter dívidas de R$ 43 bilhões, com cerca de 16,3 mil credores.
Neste ano, uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) no Congresso Nacional investigou por meses o caso. Porém, ninguém foi declarado culpado.
Bilionários brasileiros
Na década de 1980, Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira compraram a Americanas. O trio, conhecido como 3G, é formado pelos três brasileiros que estão entre os mais ricos do mundo e são considerados os principais empresários de sucesso do país.
Juntos, eles também comandam a rede de fast-food Burger King, a marca de alimentos Heinz, entre outras multinacionais.
Crise na Americanas afasta clientes de compras pela internet