Tarifaço: economista-chefe do Banco do Nordeste defende abertura de mercados e diálogo
Entre os produtos afetados na região, estão o açaí, óleos minerais, borracha, peixes, frutas e calçados
Economia|Rafaela Soares, do R7, em Brasília
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As tarifas de 50% sobre produtos brasileiros instituídas pelo governo de Donald Trump estão em vigor há uma semana. Embora já seja possível avaliar alguns impactos iniciais, o verdadeiro prejuízo só poderá ser mensurado nos próximos meses.
Entre as regiões mais afetadas estão os estados do Nordeste, grandes produtores de açaí, produtos químicos, metais preciosos, açúcar, combustíveis, óleos minerais, borracha, peixes, frutas, calçados e outros itens.
O economista-chefe do BNB (Banco do Nordeste), instituição de fomento à economia local, Rogério Sobreira, explica haver uma forte expectativa de que o impacto seja significativo na região. “Existe a expectativa de que as exportações diminuam e, com isso, haja reflexos no PIB da região.”
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Ele também destacou que a medida emergencial do governo federal, prevista para ser apresentada nesta quarta-feira (13), não é uma solução definitiva para o problema. Para ele, é preciso buscar a abertura de novos mercados, o que pode ser um desafio complexo.
“As empresas se preparam durante anos para direcionar grande parte da produção ao mercado norte-americano. Isso vale, por exemplo, para o aço e o ferro fundido. No caso de alimentos perecíveis, as regras sanitárias de cada país podem dificultar e prolongar o processo de substituição do mercado dos EUA.”
Negociações devem continuar
Sobreira lembra que os Estados Unidos estão entre os principais parceiros comerciais do Nordeste e que, mesmo com as taxas em vigor, as negociações continuam sendo um caminho “perfeitamente válido.”
“A manutenção do diálogo é essencial. Em algum momento, certamente será possível encontrar um canal para efetivar acordos, como ocorreu no primeiro governo Trump, quando, após sobretaxas, foi aberta negociação que resultou em uma cota especial para exportação de aço e ferro sem tarifas adicionais.”
Entrevista completa
R7 — Quais os principais impactos que o tarifário imposto pelo governo Trump tem causado aos produtores nordestinos, especialmente nos setores mais vulneráveis da região?
Rogério Sobreira — No caso do Nordeste, a região é muito exposta à economia norte-americana. Por exemplo, os EUA são o segundo principal destino da pauta de exportações nordestinas. Quando decompomos por estado, vemos que, na maioria deles, o país da América do Norte é o principal destino. Outro ponto é que a maioria dos produtos exportados pela região ficou de fora da lista de exceção
Então, existe a expectativa de que as exportações caiam em função do choque de preço, pois o tarifaço, efetivamente, dificulta a absorção pelo mercado norte-americano. E não estamos falando de qualquer índice, mas sim de um aumento de 50%. Mesmo que certos produtos sejam essenciais, seja para a indústria, seja para o consumo nos Estados Unidos, o impacto é bastante significativo.
Então, existe sim a expectativa de que as exportações diminuam e, caso isso se concretize, haverá reflexo no PIB da região.
R7 — Que iniciativas o Banco do Nordeste tem planejado ou já implementado para apoiar os produtores afetados por esse cenário?
Rogério Sobreira – Como banco de fomento, o BNB será sempre um ator importante para sustentar produtores, sejam eles grandes ou pequenos. Até porque, por exemplo, o Nordeste é o principal operador do maior programa de microcrédito produtivo orientado da América Latina: o Crediamigo, no urbano, e o Agroamigo, no rural. Naturalmente, o banco também vai olhar para esses pequenos produtores com muita atenção e, onde for possível apoiar, certamente a instituição estará presente.
R7 — Com as informações já divulgadas, qual a sua análise sobre o pacote emergencial de medidas que deve ser anunciado pelo governo federal?
Rogério Sobreira — Pelo que temos ouvido, são três linhas de apoio. A primeira é crédito — isso é fundamental porque, novamente, o impacto tende a reduzir receita, e receita é caixa; sem caixa, é como se a empresa perdesse o oxigênio. A segunda é para compensar a perda imediata de receita: um programa de compras governamentais que deverá absorver boa parte dos produtos que seriam exportados para os Estados Unidos, especialmente produtos perecíveis. Já a terceira linha, pelo que foi divulgado, envolve o adiamento do pagamento de impostos devidos pelas empresas mais afetadas.
O que podemos perceber é que essas três ações convergem para liberar recursos — seja permitindo que a empresa adie o pagamento de impostos, seja fornecendo caixa para suportar o primeiro impacto. Porém, vale lembrar que se trata de uma medida emergencial, que não deve se prolongar por anos. Além disso, existe outra linha de ação do governo: buscar novos mercados para substituir, ainda que parcialmente, o mercado norte-americano.
R7 — Na abertura de novos mercados, quais os principais desafios para os produtos do Nordeste?
Rogério Sobreira — No caso dos perecíveis, é possível que novos mercados sejam abertos, mas há exigências sanitárias que podem ser um complicador e prolongar o tempo necessário para substituir o mercado norte-americano. No caso do aço e do ferro fundido, é mais complicado, porque as empresas se preparam — durante anos, diga-se de passagem — para destinar boa parte da produção ao mercado dos EUA. O destino ideal, em termos de mercado substituto, seria a China, mas ele é disputado por todos neste momento, o que também gera dificuldades.
Então, não vejo o Nordeste em situação necessariamente pior do que os setores afetados no restante do país. A busca por novos mercados vai ocorrer, mas a substituição não é algo que se consiga fazer em um ou dois meses. De toda forma, a pauta de exportações da região é suficientemente diversificada para permitir que novos mercados sejam acessados.
R7 — O Brasil tem buscado negociações tanto no campo governamental quanto pelas empresas. Qual sua visão?
Rogério Sobreira — As negociações precisam continuar acontecendo e esse é um caminho perfeitamente válido. A segunda ordem executiva de 30 de julho veio cercada de muito barulho, mas o impacto das sobretaxas resulta da soma de duas ordens: a de junho, voltada para ferro, aço e alumínio, e a de julho, que trouxe a lista de exceção. Juntas, elas representam sobretaxa sobre um conjunto significativo de produtos.
A busca e manutenção de negociações têm que continuar. Em algum momento, certamente se encontrará um canal para efetivar acordos. Foi assim no primeiro governo Trump: após as sobretaxas, foi aberto um canal de negociação e, após algum tempo, o Brasil conquistou uma cota especial para exportar aço e ferro sem sobretaxa. Por mais que o cenário atual seja turbulento, esse caminho não deve ser abandonado de forma alguma.
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