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Dólar fecha acima de R$ 5,20, e Ibovespa cai, com tensão entre governo e Banco Central

Crise afeta Ibovespa, com queda de 0,68%; ata do Copom e falas de Powell, do Fed, mexeram com os ânimos do mercado

Economia|Do R7, com Reuters

O dólar fechou a terça-feira (7) em alta, acima de R$ 5,20; Ibovespa caiu 0,68%
O dólar fechou a terça-feira (7) em alta, acima de R$ 5,20; Ibovespa caiu 0,68%

O dólar teve alta nesta terça-feira (7) e fechou acima de R$ 5,20, depois de trocar de sinal várias vezes ao dia, em sessão volátil e com vários catalisadores, entre eles os novos atritos entre o governo e o BC (Banco Central). Também mexeram com os ânimos do mercado a ata do último encontro do Copom (Comitê de Política Monetária) e as falas do chair do Fed (Federal Reserve), Jerome Powell.

No mercado à vista, o dólar fechou em alta de 0,51%, cotado a R$ 5,2013 na venda. Esse é o maior patamar registrado desde 20 de janeiro, quando a moeda norte-americana chegou a R$ 5,2086, e o terceiro pregão consecutivo de ganhos, período em que acumula valorização de mais de 3%.

O dólar encerrou o pregão acima de sua média móvel diária de 200 dias pela primeira vez desde 23 de janeiro.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que não quer confusão com o BC, mas destacou que Roberto Campos Neto, o chefe da autoridade monetária, deve explicação ao Congresso Nacional sobre sua conduta, e falou que o Senado deve ser "vigilante". Membros do governo têm criticado de forma recorrente a taxa de juros elevada, atualmente em 13,75%, e a independência do BC.


Os atritos recentes envolvendo o Executivo e BC aumentam receios de investidores sobre uma possível tentativa de intervenção do governo na autoridade monetária. Comenta-se que Lula deseja indicar para diretorias da autarquia nomes que se contraponham a Campos Neto.

Em resposta às críticas, o presidente do BC falou que a independência da instituição é importante porque desconecta o ciclo da política monetária do ciclo político.


Para Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho, as falas contra o Banco Central e os acenos do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para um reajuste salarial dos servidores públicos tiveram efeito negativo no câmbio.

Além disso, ele disse, o tom da ata do Copom, divulgada na manhã desta terça, pode ter sido interpretado por parte dos mercados como 'um pouco mais ameno' em relação à política fiscal do governo, o que pode ter ajudado a impulsionar o dólar. No documento, o BC expressou preocupação com as contas públicas, mas interpretou o pacote de medidas fiscais apresentado recentemente por Haddad de maneira positiva.


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"Da mesma forma que o tom duro do comunicado limitou as perdas do real na semana passada, hoje, o tom um pouco mais moderado favoreceu uma desvalorização do real", falou Rostagno.

No entanto, há quem tenha interpretado a ata como ainda dura no aspecto fiscal e no combate à inflação. Mauricio Oreng, superintendente de pesquisa macroeconômica do Santander afirmou, em nota, que o documento "confirma a intenção do BCB de manter a Selic no atual patamar de 13,75%, nas condições atuais de incertezas fiscais e expectativas de inflação pressionadas".

Colaborando para a volatilidade na sessão, o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, disse que o mais recente relatório de emprego dos Estados Unidos mostrou que o processo para trazer a inflação de volta para perto da meta de 2% do banco central norte-americano levará "bastante tempo", embora haja indicações de que as pressões de custo estão em queda, pelo menos para bens.

"O mercado inicialmente entendeu que o relatório de emprego não teria mudado a visão de Powell [sobre a política monetária]", avaliou Rostagno, do Mizuho, destacando que houve uma melhora pontual no sentimento de risco dos mercados globais nos primeiros momentos da fala do chair do Fed. No Brasil, o dólar chegou a cair para a faixa de R$ 5,15, antes de reverter completamente as perdas e fechar em alta.

Ibovespa

Os atritos entre o presidente Lulae o BC também pressionaram o Ibovespa para baixo nesta terça, destoando de Wall Street. A maior pressão negativa foi de Itaú Unibanco, e Vale subiu na ponta oposta.

De acordo com dados preliminares, o Ibovespa caiu 0,68%, a 107.984,06 pontos, menor nível de fechamento desde 5 de janeiro. O volume financeiro somava R$ 20,3 bilhões.

Efeito Americanas

A crise na Americanas continua a interferir no desempenho de investimentos e ações. Em janeiro, a carteira recomendada de fundos imobiliários do Itaú BBA recuou mais do que o índice de referência da B3, influenciada em parte pela exposição ao risco de crédito da varejista.

A Americanas está em recuperação judicial, com dívidas que ultrapassam R$ 40 bilhões, e trava disputas na Justiça com diversos credores. O caso tem diversos impactos no mercado financeiro, desde disputas com grandes bancos e críticas de gestoras, até acusações de fraude.

Nesta terça, o Itaú BBA disse, em relatório a clientes, que sua carteira recomendada de fundos imobiliários cedeu 2,02% no primeiro mês do ano, contra queda de 1,60% do Ifix, indicador do desempenho médio das cotações dos fundos imobiliários negociados na B3.

Os analistas Larissa Nappo e Marcelo Potenza disseram que o desempenho continuou sendo impactado pela pressão na curva de juros. Eles escreveram que "alguns dos fundos que recomendamos possuem parte de suas receitas expostas ao risco de crédito da Americanas".

No relatório, o Itaú BBA afirmou que a Americanas segue pagando as obrigações mensais dos imóveis que ocupa e que a maior expectativa do mercado está relacionada ao próximo vencimento, em meados de fevereiro.

"Caso a Americanas não honre com seus pagamentos, os fundos que a possuem como locatária devem soltar fatos relevantes informando ao mercado e, a partir daí, outros cenários e outras estratégias devem ser tomados pelas equipes que tocam o dia a dia dos fundos", escreveram.

Os analistas do Itaú ainda observaram que os imóveis ocupados pela Americanas e que estão em seu portfólio "possuem qualidade técnica e boas localizações, fatores que ajudam em uma possível reposição de locatários".

O banco manteve sua perspectiva otimista para o mercado imobiliário no médio e longo prazos, mesmo considerando o atual patamar de juros, mas destacou que incertezas políticas e fiscais podem trazer volatilidade no curto prazo.

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