Após uma alta pela manhã em meio a ruídos políticos e fiscais, o dólar à vista perdeu força ao longo da tarde e fechou em leve queda nesta sexta-feira (12), alinhado ao comportamento da moeda americana no exterior. Apesar da inflação no atacado nos EUA levemente acima do esperado, cresce a expectativa de corte de juros pelo Federal Reserve (Banco Central americano) a partir de setembro.Com mínima a R$ 5,4160 e máxima R$ 5,4656, o dólar à vista terminou o pregão em baixa de 0,21%, cotado a R$ 5,4311, acumulando perda de 0,57% na semana. Em julho, a moeda americana cai 2,81%. O real tem na semana e no mês desempenho inferior aos pesos mexicano, chileno e colombiano, fato atribuído por analistas ainda ao quadro fiscal doméstico.A recuperação do real na segunda etapa de negócios se deu em sintonia com o aumento dos ganhos do Ibovespa, que chegou a superar pontualmente a linha dos 129 mil pontos, e o aprofundamento das perdas do dólar em relação a outras divisas latino-americanas, encerrando aos 128.896,98 pontos, em alta de 0,47% na sessão. Foi o quarto avanço semanal consecutivo para o índice da B3, que sobe agora 4,03% no mês, cedendo ainda 3,94% no ano.Dados da B3 mostram retomada do apetite estrangeiro por ações domésticas, com saldo positivo de R$ 2,88 bilhões no mês, até o dia 10.O economista-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, observa que o real poderia ter se apreciado mais em semana muito positiva para divisas emergentes, após as leituras de inflação nos EUA sugerirem espaço para cortes de juros pelo Fed, o que favoreceu ativos de risco.Costa atribui o fôlego limitado da moeda brasileira à tensão na área fiscal, com os debates em torno das medidas de compensação pela manutenção da desoneração da folha de pagamentos, o projeto de renegociação da dívida dos estados e, especialmente, a expectativa pela divulgação do relatório bimestral de receitas e despesas no próximo dia 22.”O mercado quer ver no dia 22 quanto vai ser bloqueado e contingenciado neste ano. E ainda espera efetivamente as medidas para corte de gastos em 2025 e 2026″, afirma Costa, para quem um bloqueio entre R$ 10 bilhões e R$ 20 bilhões pode ser positivo para o real.“Podemos ver o dólar voltar para perto de R$ 5,30. Muito abaixo disso, só se houver uma surpresa grande que mostre o governo realmente comprometido com as metas fiscais.”Analistas afirmam que há um desconforto com os novos ruídos políticos, como a queda de braço entre o Ministério da Fazenda e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em torno das medidas para compensar a desoneração. Nesta sexta-feira, Pacheco afirmou que “não há receptividade política” para aumento da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) proposto pela Fazenda.Para operadores, parte da alta do dólar pela manhã esteve relacionada ao tom mais belicoso adotado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em fala durante o 9º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, da Abraji.Haddad defendeu a agenda de recomposição tributária, citando fundos e exclusivos e offshore, e disse que a “elite quer sempre que o pobre pague imposto”. Ele afirmou que a Fazenda propôs elevação temporária da CSLL caso as medidas cogitadas pelo Senado não consigam trazer as receitas necessárias para recompor as perdas com a desoneração.Lá fora, o índice DXY - termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes - caiu mais uma vez e se aproximou do piso dos 104,000 pontos.Destaque para a valorização de mais de 0,60% do iene. Cálculos baseados em dados do Banco do Japão (BoJ) sugerem que houve intervenção no mercado de câmbio na quinta-feira, o que teria se repetido hoje. O fortalecimento do iene provocou desmonte de operações de carry trade, o que prejudicou divisas emergentes ontem e pode ter contribuído para o desempenho modesto do real hoje.No mercado de renda fixa, as taxas dos Treasuries caíram em bloco pelo segundo dia seguido, com a T-note de 10 anos abaixo de 4,20%. Monitoramento do CME Group mostra 51% de chances de redução total de 75 pontos base da taxa básica americana neste ano.Depois da surpresa ontem com a retração da inflação ao consumidor nos EUA em junho, hoje a inflação ao produtor (PPI, na sigla em inglês) veio levemente acima do esperado, tanto no índice cheio quanto no núcleo.Em nota, a consultoria britânica Capital Economics, afirmou, contudo, que a abertura do PPI foi positiva, mostrando que componentes que influenciam o chamado PCE, medida de inflação favorita pelo Fed, vieram abaixo das expectativas. Além disso, houve queda superior a esperada do índice de confiança do consumidor americano, elaborado pela Universidade de Michigan, e recuo das expectativas para a inflação em 12 meses e em cinco anos.